Estilos de parentalidade – qual escolher?

No início da Humanidade, no contexto das preocupações que tinham os nossas antepassados, só havia espaço para dois tipos de pais: pais vivos e pais mortos. O percurso de vida de uma criança era determinado pelo facto de ter, ou não, alguém que cuidasse dele. No fundo, alguém que não o deixasse morrer atacado por um dentes-de-sabre, uma tribo inimiga ou um ataque de espirros.

Hoje em dia andamos todos mais confusos e inseguros, portanto precisamos que livros, revistas, blogs e comentadores anónimos nos digam como devemos ser melhores pais. O resultado são uma série de teorias divergentes sobre que tipos de pais devemos ser e que crianças queremos educar.

Quando soube que ia ser pai, andei a investigar tipos de parentalidade. Dos muitos que encontrei, estes foram os que me chamaram a atenção:

#1 – Mães Tigre

Um estilo de parentalidade baseado num best-seller escrito por uma professora de Direito americana, Amy Chua, de ascendência chinesa. Ela diz que o livro é uma biografia “auto-depreciativa” que relata a forma rígida e intransigente com que Chua educou as filhas. As pessoas viram nele a solução para acabar com o flagelo das crianças mal-comportadas e preguiçosas.

O que quer? Criar filhos que tenham sucesso e sejam consistentemente os melhores ao longo das várias provas que a vida lhes vai por à frente.

Como? Através de uma filosofia muito rígida de educação, focada na disciplina, na prática e no estudo. Quando a criança falha ganha o direito a ser chamada de coisas como “lixo”, ou “Xao Min de Bosta”.

Que tipo de pessoas quer criar? Humanos altamente competentes, com níveis de ambição e motivação que lhes dão as ferramentas necessárias para escalar a pirâmide social.

Que tipo de pessoas pode acabar por criar? Sociopatas extremamente bem-educados e calculistas, que não olharão a meios para chegar ao topo da pirâmide social.

#2 Attachment Parenting

Um estilo de parentalidade baseado na teoria da vinculação e na importância dos afectos e da proximidade.

O que quer? Criar laços muito estreitos entre os pais e a criança, para que esta se sinta amada e protegida.

Como? Promovendo e cultivando uma proximidade física grande com o bébe, com uma atenção muito cuidada às suas necessidades e conforto. Ah, e dormir juntos. Sim, com o bebé. Sim, todos os dias.

Que tipo de pessoas quer criar? Pessoas sensíveis e confiantes, com grande auto-estima..

Que tipo de pessoas pode acabar por criar? Pessoas sensíveis e confiantes, até ao momento em que um gajo na escola lhes disser “chavalo, arranja aí uns trocos ou parto-te a tromba”.

#3 Parentalidade helicóptero

Helicopter Parenting é o nome da moda para descrever a nova geração de pais-galinha.

O que quer? Que os filhos cresçam seguros e protegidos contra todos os males que assolam o planeta.

Como? Estando sempre com eles. Não no sentido do attachment parenting que tem como objectivo a criação da tal relação emocional, mas no sentido de “o mundo é um local horrível e as crianças têm de ser protegidas a qualquer custo”.

Que tipo de pessoas quer criar? Pessoas que esperam três horas antes de ir ao banho depois de comer.

Que tipo de pessoas pode criar? Miúdos que fogem de casa aos 12 anos.

#4 Free Range Parenting

Free range é a expressão inglesa para criação de animais ao ar livre. Este movimento, criado por uma mulher que deve ter os filhos mais chatos do mundo, quer combater a ideia de que as crianças estão sujeitas a um grande número de ameaças e perigos. É uma reacção à mentalidade helicóptero.

O que quer? Que as pessoas parem de partilhar textos no Facebook em que se mostram chocadas pelo facto das crianças não saberem o que é uma cassete (who cares?) e já não brincarem na rua (não brincam porque os pais estão a partilhar textos no facebook). Diz que os pais devem ajudar as crianças a enfrentar o mundo, deixando-os ir brincar para rua, andarem sozinhos de transportes ou achar que o 5 para a Meia Noite é um programa que tem comédia.

Como? Como os nosso pais faziam. Mandavam-nos fazer-lhes um whisky, sentavam-se no sofá e diziam “agora vai brincar e só voltes quando o sol se pôr”.

Que tipo de pessoas quer criar? Pessoas independentes, com iniciativa e quem saibam quem é que arranja a melhor erva lá na rua.

Que tipo de pessoas pode criar? De vítimas de predadores pedófilos, infectados através de seringas em cabines telefónicas ou simplesmente sujeitos a todo o tipo de malucos, a imaginação não tem limites.

#5 – A escola do Bom senso

Os apologistas do bom senso  e da intuição dizem para não ligar muito aos manuais, deixar a ciência para os médicos e seguir o instinto. Na teoria (oops, desculpem) soa muito bem, o problema é quando pensamos que o bom senso de uma pessoa é a estupidez de outra.

O que quer? Educar pessoas felizes e equilibradas.

Como? Fazendo aquilo que lhe parece o mais correcto.

Que tipo de pessoas quer criar? Pessoas responsáveis, bem-educadas e que tenham sucesso na vida.

Que tipo de pessoas pode criar? Pessoas irresponsáveis, mal-educadas e que não têm sucesso na vida.

Eventualmente percebi o tipo de pai que decide escolher um tipo de parentalidade – é o maluquinho. Ser pai é uma consequência de uma série de escolhas e influências, que temos, que implica ter de tomar decisões, estabelecer regras e seguir a intuição. Acho que isto é que deve ser o normal. Claro que, ao longo deste processo, as pessoas vão-se diferenciando umas das outras naquilo que acham que encaixa melhor na sua compreensão do mundo, e outro preconceitos. Muitas acabam mesmo por encaixar num destes estilos (ou noutros), identificar-se com uma corrente de pensamento, etc., o que também faz sentido. Isso e tentar ser o melhor pai que conseguir. Ou, pelo menos, não traumatizar ninguém para a vida.