Ter dois filhos pareceu-me lógico. Fazem companhia um ao outro. Entretém (embora também chateiem) em estéreo. Ninguém tem de sentar-se à frente de um lugar vazio.
Ter três filhos? Ir ao terceiro? Menos.
Dizem que listar os prós e os contras ajuda a pensar.

Fiz as listas.
Contras de ter três filhos:
- As coisas chatas ficam mais caras: seguros de saúde, despesas médicas, despesas com a escola, despesas com roupa que daí a um ano está arruinada ou não serve
- As coisas fixes ficam mais caras: fazer refeições fora, viajar, ir ao cinema, ir de férias, ter tempo livre
- o impacto no ambiente é elevado, sobretudo considerando que estamos à beira de uma catástrofe ecológica e que mentiria se vos dissesse que não tenho crises de ansiedade a imaginar que os meus netos vão viver numa distopia apocalíptica onde o que resta dos estados-nação luta por água e territórios habitáveis
- ter um bebé a causar disrupção nas dinâmicas familiares e amorosas da casa, porque, além de comer e cagar, é isso que eles fazem quando não fazem mais nada
- aumentar na quantidade de um ser vivo todas as minhas angústias e crises de ansiedade relativas ao bem-estar dos meus filhos, a realização da minha mortalidade e a aceitação que pouco posso fazer para garantir a felicidade deles
- entrar para aquele segmento de pessoas cuja percepção de ter algum tipo de mérito por ter uma família numerosa nos tempos que correm só corresponde à falta de noção do privilégio que tem por ter três filhos e uma vida luxuosa se comparada com 99,9% da história da humanidade (e também em relação a grande parte da sociedade)
A favor de ter três filhos:
- a minha filha M., que foi a primeira que me tirou realmente o folêgo quando a vi nascer e me ajudou a perceber que ainda era capaz de sentir o assombro que é este milagre do amor paternal.
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