Ia escrever

ou tentar escrever, um post grande, uma espécie de ensaio em que discorria sobre as razões de ter um blogue, de escrever (ou não escrever) e no patético que é a minha motivação para fazer algo que – supostamente – gosto, depender da validação de (poucos) estranhos. E também sobre o significado do falhanço, da incongruência de nos compararmos com pessoas que não respeitamos, e da percepção que as pessoas gostam é de conteúdos pouco originais, aborrecidos ou maus. E mais outras desculpas de perdedor.

Mas não vou fazer isso. A autocomiseração dá trabalho e o solipsismo requer talento. A ideia de falhar num texto sobre o falhanço seria hilariante se não fosse deprimente (para mim) e indiferente (para todos vós).

E encontrei alguém que me ajudou a lidar com isto.

Um dos problemas é que sempre que penso em voltar a escrever no blogue tem de ser algo SUPER DIVERTIDO E INFORMATIVO E INTERESSANTE, o que requer pesquisa, horas de escrita e reescrita, andar a vasculhar pelas imagens indicadas e mais horas de escrita e reescrita – um processo que ainda não percebi se gosto ou não, mas que nunca me apetece iniciar.

Desta vez decidi contrariar os meus instintos, e resolvi fazer apenas… isto. Há umas teorias que dizem que quando a motivação não anda alta, mais vale estabelecer objetivos pouco ambiciosos. E, felizmente, isso é algo em que tenho cada vez mais experiência. Portanto, este post = objetivos pouco ambiciosos, por favor não se zanguem.

***

Entretanto, e já que estamos num daddy blog, os meus filhos estão óptimos. O Mexicano, a quatro meses dos cinco anos, está a caminho de se tornar um ser humano autónomo que nos deixan dormir de manhã e consegue investigar se o jogo da baleia azul é uma cena real ou não.

Já toma 90% de banho sozinho (os 10% que faltam são porque depois ignora a toalha que ficou ao pé da banheira, e aparece nu na sala a pingar água por todo o lado). Ainda assim, continua a chuchar como um viciado em crack e está obcecado pela colecção dos animais do Pingo Doce.

Animal Fone Pingo Doce
Há limites. Recuso-me a comprar isto. O texto devia ser: “ANIMAL FONE – VEJA-OS A PERDER INTERESSE NESTE BRINQUEDE MANHOSO MAIS RAPIDAMENTE QUE O MERGULHO DE UM FALCÃO PEREGRINO”.

A Xica, a três meses dos três anos, descobriu uma maneira – aparentemente – eficaz de lidar com o mundo e as emoções. Fora de casa é uma menina doce, tímida e bem comportada; dentro de casa parece um diabo da tasmânia que ralha com o irmão, grita com os pais (ou para os pais?) quando é contrariada, e combina os instintos cómicos de um Jim Carrey (faz umas caretas incríveis) com a boçalidade dos Malucos do Riso (ri-se dos próprios puns).

Eu continuo com os meus momentos de anormalidade, a mãe atura-nos a todos, e o cão biruta como sempre. Tudo normal e salutar, portanto.

Entretanto, também decidi voltar ao ginásio. Não sei se tecnicamente ainda se pode dizer “voltar” quando não se vai ao ginásio há mais de dez anos. O problema é que o ginásio ao pé casa não tem vagas, portanto vou adoptar a estratégia desta mãe:

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10 Comments

  1. Oh, André
    Tão bom! Obrigada pela gargalhada final com a fitness mom

    Quanto ao início do post, confesso-me uma daquelas pessoas nada resolvidas e isso vê-se nas ausências que já fiz no blog. Sinceramente, cheguei à conclusão de que há um grau de solidão na falta de feedback que contribui para a desmotivação. Se fizer uma retrospectiva, naqueles dias em que se geraram grandes tertúlias consigo, com a mãe sabichona, havia uma consequente torrente de posts. Acho que pode ser um factor. Acontece comigo.

    Gostei das novidades dos pequenos. Os meus estão enormes.

    Beijinhos

    • Olá, Cipreste 🙂

      Sim, a questão do feedback. Por um lado, é óptimo haver feedback, como comentários. Por outro, a ausência de feedback também pode não querer dizer nada. Acontece com frequência gostar muito de um post e não comentar (ou porque demoro tempo a escrever ou porque sinta que não tenho nada de relevante a acrescentar). Pior ainda quando entram likes e facebooks. Ter um post com 1/10 dos “gostos” que o anterior teve, por exemplo, pode ser duro. Mas esse post pode ter-me dado o dobro do gozo a escrever do que o outro, e isso também tem algum valor (mas deixando de ser desmotivante). É complicado. 🙂

      E depois, claro que o papel que o facebook pode ter na disseminação de um texto, é incrível, e sinto mesmo uma gratidão genuína quando vejo pessoas a partilhar e a gostar de coisas que escrevo… Mas pondo de parte a minha alergia a saudosismos, a Internet de facto era diferente antes de haver botões de gostos (ainda hoje li um artigo interessante sobre esse assunto, dá algum alento – http://theatln.tc/2nV9oGg ).

      A questão da dinâmica de grupo, ou de comunidade, nas ideias, na inspiração, também é super importante. Tenho alguma pena de ter percebido isso relativamente tarde. Hei-de de voltar a esse assunto.

      beijinhos!

  2. Como podes ver pelo delay, eu estou aqui.
    E tu, espero eu, estás aí.

    E o mundo continua à nossa volta.
    Como tal, vai fazendo alguma coisa sempre que te apetecer, que a rotação da terra vai fazer com que tudo chegue a mim, com o gozo de ler o que chutas por aí, mesmo que seja para falhar em grande 😉

    • Ahahah, meu caro, agradeço as palavras, e a (sempre) passagem. 🙂

      Por falar em falhanços, dado o teu historial com o LJ23, houve schadenfreude este ano pelo facto do homem ter perdido mais umas finais, ou deste por ti a contorcer-te com o estranho que é o melhor jogador da NBA ser o underdog do momento? (basket de qualidade, no entanto, nunca é motivo de queixa).

      • A nível de final deste ano, tivesse o homem ganho e estava pronto para dizer que os 4 títulos dele eram superiores aos 6 do Jordan e, como tal, a conversa do GOAT ia pender para ele. Deste modo, reconhecendo que a discussão é válida, dá vantagem Jordan.

        Triplo Duplo de média numa final contra uma das melhores equipas dos últimos 20 anos? Give the man some kudos. No entanto, o seu feitio passive-aggressive e, a meu ver, a falta do carisma que outros históricos tiveram, não ajuda nada (declarações a seguir à final ‘Ah, mas eu nunca me juntei/joguei numa super equipa’, tststs, escusado)

  3. Bom, caio com um delay descomunal neste post, ainda assim, acho que vale a pena comentar. Do meu ponto de vista, que vale o que vale, escrever, principalmente online, é em primeiro lugar, um exercício de prazer mas aliado de forma quase irremediável com o ego. Antigamente, escrevíamos em diários para nós, agora escrevemos para os outros nos lerem. Há uma diferença abismal nestes dois atos de escrita, primeiro talvez do ponto de vista da honestidade com que nos entregamos ao que escrevemos (daquela mesmo mesmo honesta, tão honesta que dói), depois do objetivo final que temos nisto de se escrever. Acho, honestamente, que os dois tipos de escrita são válidos, e acredito também que é possível aliar o prazer de escrever com necessidades assim mais obscuras do ego. Pelo menos enquanto nos faz bem!

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