Li na Net: mimos, telemóveis e mitos

Bom ano e bem-vindos ao futuro! 2016 é o futuro, já estamos para lá do Back to the Future 2, não há nada a fazer. Felizmente, no futuro ainda há coisas interessantes para ler (e no ano passado também havia), estas são algumas delas.

Mimos = bons; rankings escolares = farsa

Dois excelentes artigos de opinião, em Português. O primeiro, do Professor José Morgado, no Público, sobre o problema de dizer-se que uma criança “tem mimo a mais”, e uma abordagem mais saudável sobre lidar com os afectos e as crianças:

De uma forma geral, as crianças não terão afeto a mais, poderão, isso sim, ser objecto de “mau afeto”. É essa falta de qualidade que lhes poderá ser prejudicial. Não é mau por ser muito, é mau porque asfixia, oprime, não deixa que os miúdos cresçam, distorce a perceção da criança de si própria e do seu funcionamento, não permite o estabelecimento de uma relação saudável, protetora e promotora da autonomia das crianças, uma condição fundamental para o seu desenvolvimento positivo. No entanto, não é este tipo de reflexão que leva muitos de nós a falar dos “mimos a mais”.

em Mimos a Mais. Será? (Visão)

O segundo, do também Professor Mário Cordeiro, no i, sobre “A farsa (e a afronta) dos rankings escolares” – palavras dele. Levanta várias questões pertinentes sobre esta mania de medir as pilinhas das escolas com base em exames, como esta:

Todavia, muito pior que este erro é considerar-se à partida que o objectivo do sistema de ensino/aprendizagem é “entrar na faculdade” ou “ter boas notas”. É muito pobre. Demasiado pobre. Porque se, por absurdo, fosse apenas isso que se deseja, não seriam necessárias escolas – cada um estudaria em casa, isoladamente, ao seu ritmo e faria um exame final. Para quê então o ensino obrigatório

em A farsa (e a afronta) dos rankings escolares (i)

Ainda assim, e concordando com o tom e o propósito do texto, acho que também faz sentido admitir que alguma utilidade os rankings têm; mas concordo que é problemático quando são utilizados para fazer afirmações universalistas – como é o caso destas classificações.

Telemóveis e tecnologia: são um problema? Dos pais ou dos filhos?

A (também) Professora Sherry Turkle, do MIT, publicou um ensaio / resumo inspirado no livro dela – “Reclaiming Conversation: The Power of Talk in a Digital Age” – no New York Times. É uma leitura muito interessante sobre o impacto dos telemóveis na forma como conversamos, interagimos e nos relacionamos, em casa ou socialmente. O artigo chama-se Stop Googling. Let’s Talk.

A 15-year-old boy told me that someday he wanted to raise a family, not the way his parents are raising him (with phones out during meals and in the park and during his school sports events) but the way his parents think they are raising him — with no phones at meals and plentiful family conversation. One college junior tried to capture what is wrong about life in his generation. “Our texts are fine,” he said. “It’s what texting does to our conversations when we are together that’s the problem.”

em Stop Googling. Let’s Talk. (New York Times)

Complementar com este artigo no Jezebel, num registo diferente, sobre o direito dos pais a desligar através do telefone:

As a society, our biggest beef with smart phones is the head-in-the-sand factor—that we’re no longer aware of social etiquette or the value of human interaction. My biggest gripe goes the other way: That every time I’m trying to use my phone, people act as if I should be paying attention to them instead.

em Listen, Parents Have a Right to Zone Out On Their Phones  (Jezebel)

Mitos da neurociência: estilos de aprendizagem

Gostei deste artigo na Quartz sobre a ideia que existem pessoas com estilos de aprendizagem diferentes ser potencialmente uma treta. Um mito da neurociência, a par de outros como usarmos apenas 10% do nosso cérebro e a ideia de que os destros e canhotos também aprendem de forma diferente.

Are you a visual learner who writes notes in a rainbow of different colors, or do you have to read something aloud before it will sink it? Chances are, you’ve been asked a similar question at some point in your life, and believe the concept of different “learning styles” is perfectly valid. But, as Quartz reported in December, we all learn in fundamentally similar ways. And, as New York magazine reports, the idea that students learn differently depending on their personal preference for visual, auditory or kinesthetic cues is just a myth.

em The concept of different “learning styles” is one of the greatest neuroscience myths (Quartz)

E, se alguém ainda estiver por aí, mais um que prova que ler aos miúdos é bom para a cabeça (Huffington Post) e outro sobre a importância de não reprimir a teimosia (moderada) de algumas crianças.

Tenham um bom 2016!

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2 Comments

  1. olá de novo, só agora vim ver os teus links, e claro, já seleccionei alguns para escalpelizar e conjunto com pai de filho (agora com 11 meses e acho que já está a tal fase do Não) (depois de voltar ao trabalho, blherc, não tenho tido muito tempo para ler o livro sobre crianças e não dá jeito levar no autocarro, é um calhamaço. Assim os teus links posso ler no trabalho e fingir que estou tão ocupada que nem me podem sequer passar chamadas 🙂

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