Ia escrever um post sobre o facto de ter andado a tentar escrever um outro post – que era suposto ser um texto, profundo, engraçado, aparentemente ligeiro mas supostamente dramático -, porque um dia li aquele ensaio do David Foster Wallace sobre cruzeiros e achei que podia escrever algo do género embora nunca tenha andando de cruzeiro ou tenha tido ideação suicida ou tenha sido um creep misógino de bandana na cabeça ou ter consigo passar das trinta páginas iniciais do Infinite Jest.
Estive meses de volta de parágrafos desconjuntados, rascunhos e mais rascunhos, sem sentir que era capaz de o escrever, sem perceber se era falta de talento ou coragem, ou, o mais provável, as duas coisa. Até que desisti e resolvi escrever antes outro post – ESTE.
Porque não VOLTAR A ESCREVER NO BLOGUE com um post assim de riacho de consciência, sem pressão, a pescar ao elogio com o isco da falta de motivação, “talento”, e assim umas quantas figuras de auto-comiseração de estilo. Não era ideal, mas talvez fosse o melhor para todos, mantinha um pouco de dignidade, originalidade, sem ter de voltar a fazer piadas sobre dormir mal à noite, ou com o facto dos homens quererem ver os jogos TODOS do mundial de futebol mas não conseguirem (ahah!), mas ENTRETANTO REPAREI QUE FIZ EXACTAMENTE A MESMA COISA HÁ UM ANO DOIS ANOS.
Há um dois anos escrevi um post sobre um post que não conseguia escrever, e que começava precisamente por este “Ia escrever”, assim mesmo, cheio de ares (ESTÁ ALI EM BAIXO, podem não ler) como QUEM não quer a coisa.
É exactamente como no Matrix 2, quando o Neo (Keanu Reeves) percebe que afinal não é O escolhido, mas sim apenas mais um “escolhido”, o último de uma linhagem de chonés que se tornam Mestres de Kung Fu da Gabardina Preta, destinados a reviver sempre a mesma fábula de emancipação necessária para que o mundo artificial da Matrix se mantenha a funcionar.
Ou como no Westworld, quando os investigadores descobrem que estão a ter dificuldades em codificar a inteligência humana numa máquina porque sobrestimam a complexidade do algoritmo que replica (simula? imita?) a consciência humana. Afinal os seres humano são muito mais fáceis de descodificar do que eles pensavam inicialmente, o truque é manter as coisas simples e básicas.
Passou um ano, continuam os meus problemas com motivação para fazer coisas que, supostamente, me dão prazer (mas trabalho) e algum significado à minha existência. Continuam também as obsessões dos miúdos com acumular cromos ou cartas de supermercado que não têm nada de singular, ou brinquedos imprestáveis que a família gosta de lhes dar, e eu acordar com pontapés nas costas (fogo, as crianças são mesmo…). AFINAL JÁ NÃO ACORDO COM PONTAPÉS NAS COSTAS E CONSEGUIMOS ABOLIR (temporariamente) A ENTRADA DE algum LIXO AQUI EM CASA.
Tenho algum receio de que de facto a minha vida seja mesmo um loop desinteressante e repetitivo. Não tenho nada de verdadeiramente relevante, criativo ou com significado para referir que tenha feito neste último ano. Não escrevi nada de jeito. Não aprendi a fazer as animações de vídeo que queria fazer. Os meus filhos estão bem, suponho, mas outro dia perguntei-lhes, já que trazem uma pegada ecológica que não é despicienda e que o mundo caminha para um inferno climático dada a nossa incompetência negacionista, qual era o contributo deles para o futuro da Humanidade e não me souberam responder.
PODE SER QUE O NOVO FILHO FAÇA ALGUMA COISA DE JEITO. NOVA. JÁ NASCEU! PAI DE TRÊS, uau, não sei o que dizer sobre isso, AINDA, há-de me ocorrer alguma coisa. VAI CORRER TUDO BEM. ?.
Obrigada por ter voltado!
Obrigado, eu!
Foi uma bela forma de anunciar o novo elemento da família 🙂 que bom!
E bem-vindo de volta (ainda que seja apenas para o “Ia escrever”)!
Podia resolver escrever este post todos os anos, sempre esse, só esse, mas também não sei se conseguiria manter esse compromisso. 😐