Tate Modern

Ontem passei o dia a fazer buscas na internet sobre a criança de seis anos que foi atirada, por um adolescente, de uma varanda na Tate Modern, em Londres. Caiu do décimo andar e aterrou num telhado do quinto piso da galeria.

Não estive à procura de informação sobre a condição da criança. Continua em estado crítico, aparentemente estável, mas crítico. Uma família francesa, de férias, em Londres. Os visitantes do museu ouviram um estrondo. Pouco tempo depois, os gritos desesperados da mãe.

Pouca informação. No google, no twitter, no reddit. Como? Domingo, a meio do dia. Uma criança atirada de uma varanda. Uma tentativa de homicídio. Um adolescente de 17 anos empurrou a criança, um miúdo francês, de seis anos, do décimo andar. Empurrou? Atirou?

O adolescente foi apanhado e detido. Não se conheciam, diz a polícia. Só isto. “Não se conheciam”, como se, no meio da parcimónia informativa, fosse importante reforçar a aleatoriedade do acto.

Se um miúdo de seis anos é atirado de uma varanda, qualquer miúdo de seis anos pode ser atirado de uma varanda. Como é que se impede um miúdo de seis anos de ser atirado de uma varanda? Como é que se percebe a razão que existe para uma criança ser atirada de uma varanda, para que, um dia, não estarmos também à mercê dessa razão?

Podemos afastar-nos da linha até o comboio estar parado. Podemos suspeitar de pessoas suspeitas. Podemos não deixá-los sair da nossa vista, não largar-lhes as mãos. Podemos não ir a museus, em família. Podemos afastar-nos das varandas, podemos não ver a vista.

Podemos fazer isso tudo. Podemos ter de educar crianças para um mundo em que crianças são atiradas de varandas. Crianças para um mundo em que a cada esquina, em cada estranho, em cada estrada, pode estar um mundo de culpa e horrores em que ninguém quer viver. Só podemos esperar é que não seja precisamente nesse mundo que já crescem as crianças que atiram crianças de varandas.

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