Não há nada de extraordinário em ser-se uma criança tímida, reservada ou introvertida.
Em sentir-se desconfortável em ambientes com muitas pessoas. Em preferir ter menos amigos do que muitos amigos. Em gostar de brincar sozinho. Há imensos miúdos assim, como eu também fui (e, de certa forma, ainda sou).
Não há nada de extraordinário, ou de errado, com a introversão, embora o mundo às vezes pareça pensar que sim. A verdade é que, muito antes de saber o que significa ser introvertido, ou como definir introversão (ou extroversão), lembro-me apenas de – ocasionalmente – me sentir diferente do normal. Do que é suposto.
Afinal, que espécie de criança é que não prefere brincar em grupo? Que infeliz é que gosta de passar uma tarde inteira sozinho num quarto a brincar com legos? Que esquisitóide é que acha que passar uma tarde em casa a ler é um programa divertido?
Cada vez mais – embora não tenha sido sempre assim – vivemos numa sociedade que celebra a extroversão. Olhamos com admiração para quem gosta de estar na ribalta. Para quem fala mais alto que os outros. Valorizamos o ser extrovertido, quem é mais popular, quem fala mais alto, quem aparece!
Estima-se que entre o número dos introvertidos na população esteja algures entre os 25% e os 50%. Acho bem provável que sejamos muitos, mas o facto de não sermos pessoas muito dadas à ribalta é capaz de fazer com que pareçamos menos.
O conflito introvertido – extrovertido também pode acontecer em casa. Pode até ser um elemento de frustração em relações entre pais e filhos. Entre um pai, ou uma mãe, extrovertidos e um filho introvertido, ou o contrário. Um dos principais problemas é que, quando se lida com introversão, a fronteira entre defeito e feitio não está muito clara na cabeça da maior parte das pessoas.
Num momento, podemos ouvir um “oh, tão querido, é tímido”, que logo a seguir passa para um “vá deixa de ser bicho-do-mato e vai falar às pessoas”. Ou então “porque não és mais extrovertido como o teu primo João António?” (aquele tipo de miúdo que numa ida ao parque infantil arranja noiva e faz três amigos para a vida).
Está certo que se fizermos uma lista das coisas que preocupam mais os pais, ser introvertido não está ao nível de coisas irracionais como rapto aleatório na rua, ou morte por corrente de ar fulminante. Mas a forma de lidar com a introversão, como a aceitamos e a trabalhamos, pode ser importante na formação da personalidade.
A minha introversão sempre se manifestou em quantidades moderadas. Fui um miúdo que gostava de estar sozinho, mas não era solitário nem anti-social – embora tivesse os meus momentos. De um modo geral, os meus pais respeitaram sempre esta maneira de ser, às vezes – felizmente – contrariando-a de forma pedagógica, outras resignando-se às minhas ligeiras(?) esquisitices.
Ao longo dos anos fui aprendendo a lidar com estas sensações desconfortáveis.
Eventualmente, habituei-me a achar piada ao tom meio surpreso e horrorizado com que os meus amigos, quando eu lhes dizia que não ia sair com eles, me perguntavam: “mas vais ficar em casa a fazer O QUÊ?!”.
Respondia sempre, com algum constrangimento – “nada de especial”. Como se ler, ver um filme, escrever ou estar no computador (era o que se fazia, antes dos telemóveis) fossem não-actividades.
Como se ir ao café falar de futebol ou de miúdas (e não que houvesse algo de errado com isso) fosse um programa muito melhor do que ficar em casa a explorar uma coisa que na altura vinha em caixas e que as pessoas chamavam Net.
Sinais da (minha) introversão
Mas como é isso de ser introvertido? Antes das definições, da ciência, e dos bonecos que vou (tentar) desenhar, gostava de apresentar cinco características da minha personalidade de introvertido. Cinco coisa que me causam (ou causavam) um desconforto imenso. Ou, admito, coisas que só me tornam num tipo muito estranho. Vocês decidem.
#1 – Não querer dormir em casa de amigos
Quando os meus amigos, ou os pais, me perguntavam – de forma super entusiasmada, como se me estivessem a proporcionar algo de fantástico – se queria dormir em casa deles, eu imediatamente pensava
Pior, pensava que não mas não tinha coragem de o dizer.
Dormir implicava ter de fazer conversa antes de adormecer, acordar nos horários de outras pessoas e ter de socializar com toda outra família – correndo o risco de ver adultos de pijama (ou pior), e não saber se os devia cumprimentar de manhã com beijinhos e apertos de mão (e antes ou depois do banho?).
#2 – Não gostar de sítios cheios de gente
Quando me dizem que uma festa vai ser épica porque “vai estar a abarrotar – vai estar lá toda a gente!”, eu
As batalhas podem ser épicas (e alguma formas de literatura também), mas a ideia de estar num espaço fechado com música aos berros, rodeado de estranhos ou, pior, conhecidos, num roça roça constante de passagem de pessoas e num contexto de grande dificuldade em pedir bebidas não tem nada de épico, é só trágico.
#3 – Ser o gajo que fica para trás no passeio num grupo de amigos
Se estiver num grupo de várias pessoas a andar na rua, e o passeio tiver um espaço limitado para que consigamos estar todos lado a lado, eu sou daqueles que fica para trás.
Ao início até dá uma sensação de alívio, de pensar “ah, que bem que se está aqui atrás sem ter de fazer conversa ou fingir interesse pelo que as outras pessoas estão a dizer”.
Mas rapidamente se transforma em “porra estou há quinze minutos calado enquanto toda a gente está a conviver como seres humanos normais e bons da cabeça – diz qualquer coisa, André! Deixa de ser bicho-do-mato! uhrrrrr, eu sabia que devia ter ficado em casa».
#4 – Gostar de ir atrás num carro
Quando me perguntam se quero ir à frente numa viagem de carro:
Esta é parecida, com a anterior, e também não sei se é só esquisita ou muito esquisita. Mas se estivermos três pessoas, ou mais, para fazer uma viagem de carro, cedo com todo o prazer os dois lugares da frente aos outros passageiros.
Só a ideia de ter a obrigação de fazer conversa durante 3, 4 horas seguidas leva-me à exaustão. Minto, pode ser até em viagens de 15 minutos. Claro que há algumas pessoas na minha vida com quem isto não se aplica. Ou porque tenho conversa para manter durante quatro horas, ou porque tenho à vontade suficiente para estar calado ao pé delas.
5# Ficar contente quando alguém cancela um almoço comigo
Tenho almoço combinado com um amigo meu que já não vejo há meses. Vamos estabelecer que gosto genuinamente dessa pessoa, e que me apetece mesmo estar com ele. O dia decorre com absoluta normalidade, mas aí às onze da manhã ele liga (preferia que enviasse só um sms, mas pronto) a dizer que afinal não pode almoçar. O meu eu racional responde “oh que pena”, mas o meu eu emocional só consegue maravilhar-se com o quão melhor o dia se tornou.
Eu sei que isto não faz muito sentido. E, atenção, nunca me passaria pela cabeça ser eu a cancelar o almoço. Eu conheço-me, e sei que, na realidade, teria preferido almoçar a não-almoçar. Mas a libertação do constrangimento social parece enviar um sinal para o meu cérebro primitivo que diz – “o perigo passou, estamos safos”.
Numa nota relacionada, lembro-me perfeitamente do dia em que um amigo meu me disse que tinha lido um livro que tinha mudado completamente a forma como ele encarava a carreira, e que já estava a ter resultados positivos. O livro chamava-se “Nunca Almoce Sozinho”. Lembro-me perfeitamente, porque foi nesse dia que percebi que nunca ia ter uma “carreira profissional” de sucesso.
Compreender a introversão
Não é fácil definir em que medida é que estas características da minha personalidade foram um facilitador ou um constrangimento ao meu desenvolvimento enquanto ser humano. Provavelmente as duas coisas.
Por um lado, gostar de actividades solitárias como ler, escrever, ou ficar acordado até de manhã a elencar os meus defeitos, podem ter-me ajudado a ser uma pessoa mais ponderada e capaz de introspecção (algo apreciado por dez por cento da população do planeta); por outro, viver num mundo eminentemente social e sentir alguma dificuldade de interacção com outros seres humanos, pode ter-me tornado uma pessoa pouco confiante e, tragicamente, incapaz de ter um blogue de lifestyle com perfil de instagram.
De qualquer maneira, compreender o que se passa connosco é uma enorme ajuda. Dei um passo importante nesse sentido, aqui há uns anos, quando, após recomendação de um amigo (também ele introvertido), li o livro Quiet: The Power of Introverts in a World That Can’t Stop Talking da Susan Cain (em Portugal chama-se Silêncio), uma advogada especializada em negociação, e que desde 2012 escreve e fala sobre o que é ser introvertido.
Foi a partir daí que passei a perceber melhor o que era a introversão, como se manifesta e como influencia a minha relação com o mundo.
Definir introversão (o que diz a ciência)
Claro que não foi a Susan Cain que descobriu o que é a introversão. O conceito já existe desde o início do século XX. Foi popularizado por Carl Jung, um dos grandes nomes da história da psicanálise. Se considerarmos Freud o pai da psicanálise, o Jung é aquele tio fixe que nos chamava à parte e diz “calma, rapaz, nem tudo é pénis”.
Hoje em dia há várias formas de tentar definir introversão, por vezes um pouco divergentes entre si, mas convergindo todas na seguinte ideia: os introvertidos são pessoas mais voltadas para dentro, com tendência a preferir actividades mais solitárias, ao contrário dos extrovertidos que procuram (e encontram) gratificação em interacções de grupo.
Algumas teorias dizem que a introversão e a extroversão existem numa linha contínua, e que a maioria das pessoas se encontra algures nessa escala; enquanto outras preferem falar em pólos de personalidade. Há quem fale até num tipo de personalidade “ambivertido” – pessoas que equilibram características dos dois lados de personalidade e bebem sempre descafeinado. No site da Susan Cain há um teste online muito simples para perceber se somos mais introvertidos ou extrovertidos.
Nas empresas usam-se bastante os testes da Tipologia de Myers-Briggs. Uma vez, ao ler o relatório de um desses questionários cheguei a uma parte que dizia – “Como Comunicar com o André“. Um dos primeiros pontos era: “Não lhe toque quando estiver a falar com ele”.
A introversão e a energia
Mesmo que a definição de “introversão” não seja consensual, ela relaciona-se com uma série de características que a Susan Cain refere como existindo em dois tipos clássicos diferentes: o “homem de acção” e o “homem de contemplação”. De um lado as pessoas expansivas, gregárias, sociais, activas, e que gostam de estar na ribalta. Do outro, os tipos “quietos”, pensativos, sensíveis, sérios, calmos, solitários, tímidos, etc.
Mas aquilo que distingue fundamentalmente estes dois tipos é a forma como gerem a sua energia. Não estamos a falar da energia naquele sentido esotérico de pessoas que vêem auras, é apenas aquela energia banal – mas fundamental – que nos acompanha ao longo do dia. Aquela que nos leva a dizer “estou sem energia para te aturar”, mesmo a pessoas que amamos (mas que dizem ver auras).
Foi este o momento eureka no meu entendimento sobre o que é introversão:
Os extrovertidos recarregam energia através de actividades que envolvem interacção social, e os introvertidos energizam-se estando sozinhos.
Isto não quer dizer que um extrovertido não goste de ler um livro, ou que um introvertido não goste de estar com amigos ou de ir a festas (gosto, por favor não deixem de me convidar, ok?). Ainda hoje, ir jantar com amigos e passar a noite a conversar / discutir faz parte dos meus programas preferidos. Mas explica na perfeição porque depois de uma tarde inteira com outras pessoas, ainda que divertida, eu comece a fantasiar com o ir para casa sozinho ver um filme, enquanto outros comecem logo a perguntar “e agora? o que vamos fazer?”.
Há também quem diga que a introversão e a extroversão estão directamente relacionadas com a nossa capacidade de processar estímulos externos (sons, luzes, linguagem, códigos sociais, etc.). De acordo com esta visão, os introvertidos são pessoas mais sensíveis em relação a estes estímulos, o que por sua vez pode levar a situações de sobrecarga e a consequente necessidade de desligar. Numa festa, por exemplo, a combinação do barulho, de conhecer pessoas novas, de ter de gerir e equilibrar uma série de interacções com dinâmicas diferentes, esgota mais rapidamente uma pessoa com características de introversão. E daí o tal desconforto.
A ideia de que temos de gerir uma espécie de bateria interna tem-me ajudado imenso a lidar com a minha introversão, e até a conseguir distingui-la de outras características como timidez ou ansiedade social (já lá vamos). Esta “gestão da introversão” é fulcral para conseguir equilibrar actividades mais sociais e os momentos em que preciso de estar mais comigo.
Há até introvertidos que, eventualmente, aprendem a construir uma persona extrovertida, ou por necessidade, ou por gosto – que podem ligar ou desligar sempre que precisarem.
A diferença entre introversão, timidez e ansiedade social
Como já disse algures aí em cima, ser introvertido é diferente de ser tímido. Conheço vários introvertidos não tímidos, pessoas que não têm qualquer problema em falar em público ou em ser o centro das atenções, mas que precisam do seu tempo e do seu espaço para recarregar baterias. Também existem extrovertidos tímidos, que ganham energia em festas ou actividades em grupo, mas preferem não ser o centro das atenções.
A definição mais comum de timidez é medo de ser julgado pelos outros. É este medo que causa aquela sensação desconfortável de vergonha e apreensão que cria uma espécie de buraco negro no nosso peito. Há quem a possa entender como falta de confiança, mas pode depender. Já disse que também sou tímido? É verdade, mas, ao contrário da introversão que faz parte da minha personalidade, a timidez é algo que tenho conseguido trabalhar (ou disfarçar), não é intrínseca à minha personalidade. Aliás, as pessoas acham mais depressa que sou mal encarado do que tímido (e eu ter resting bitch face não ajuda).
Por exemplo, a ideia de subir para um palco e falar para uma multidão assusta-me imenso mas também me dá imenso prazer. É um tipo de nervosismo com que tenho vindo a aprender a lidar ao longo dos anos. Ainda assim, sempre que estou prestes a falar em público não consigo deixar de sentir que há imensa gente na audiência que está à espera que eu falhe. E que retirará prazer disso. Sempre achei que era uma sensação natural, mas outro dia expliquei isto a um amigo meu e ele teve a seguinte reacção:
Este tipo de medo pouco razoável já se aproxima um pouco do que é a ansiedade social, que é um tipo de timidez mais extrema. Felizmente não me aflige assim tanto.
Em relação a estas diferenças, fiz uns bonecos para que percebam melhor:
Já agora, não sou nenhum especialistas, mas se tiverem ansiedade social é melhor irem-se tratar. A sério. Acho que o vosso bem-estar mental agradece.
Como lidar com introversão, e se tiverem um filho introvertido
Como já vimos, “ser introvertido” num mundo que celebra e vibra com pessoas extrovertidas pode ser um pouco frustrante. Mas as boas notícias são que a introversão não é uma característica negativa, muito menos uma sentença. Os introvertidos também podem ser excelentes oradores públicos, estrelas de cinema ou desportistas de renome.
O primeiro passo para lidar com a introversão é aceitá-la, seja a vossa, a dos vossos filhos, ou a de pessoas que vos são próximas. Se, por um lado, é crucial respeitar a necessidade do introvertido gostar (e precisar) de estar sozinho, sem ter de olhar para ele como algum tipo de aberração, por outro também é importante dar-lhe a oportunidade para socializar e interagir com os outros.
É um bocadinho mais fácil quando percebemos o que está a acontecer connosco, e que podemos comunicar com alguém que entenda ou respeite estas sensações. No podcast da Susan Cain, Quiet Rev, há testemunhos muito interessantes de pais e filhos com características diferentes de introversão e extroversão. Muitas vezes têm de negociar, outras chocam, mas havendo entendimento mútuo tudo é mais fácil.
É importante que uma criança, ou um adolescente, perceba que não há nada de errado com um estilo de vida “mais calmo”. Que é legítimo, e inteligente, querer arranjar um emprego “quieto”, que não requeira muita interacção com os outros. Mas que também é perfeitamente possível ser introvertido e gostar de falar em público, de interagir, de negociar. De ser um introvertido que queira estar na ribalta, na linha da frente. É nessas ocasiões dá jeito ter a tal persona extrovertida. Todos nós criamos personas, variações da nossa personalidade, para situações e contextos diferentes.
Também há vezes em que é importante perceber que a resposta instintiva de querer “ficar quietinho em casa”, não é necessariamente aquela que nos vais fazer mais feliz. Excepto quando fui a única pessoa do meu grupo de amigos a não ir ao último dia da Expo 98 – não me arrependo.
Por fim, também é importante não nos agarrarmos muito a rótulos. Estes descritores, introversão, extroversão, ambiversão, são úteis para nos conhecermos e para que percebamos um pouco melhor o que nos motiva ou condiciona – mas não são nem uma sentença, nem uma medalha.
Conhecer estas características deve ser um estímulo para perceber melhor o que sentimos, o que fazemos, mas não uma justificação para todos os males que nos afligem. São parte de nós, mas não nos definem. Estamos sempre a evoluir. A não ser que sejam aquele tipo que, num grupo, se vira para a pessoa mais tímida e diz: “ah, tu és muito caladinho, não és? não precisas de ter vergonha, ninguém morde!”. Aí não há evolução possível, será sempre um cretinovertido.
Gostei muito deste texto, como sempre. Eu lá em casa ‘casei’ com um …. Tímido, nuncae tinha ocorrido a diferença entre tímido e introvertido, ele gosta muito de estar com ioga e ir a festas mas ao longo dos nossos muitos anos juntos um dos nossos temas de conversa é a diferença das nossas infâncias, ele tímido e eu extrovertida e com facilidade em me relacionar com qualquer estranho. Ele sempre me disse que o busílis está em ter-se ou não autoconfiança.
Mas o teu texto é excelente para pais.
Por exemplo, em casa do meu cunhado também há um tímido extremo (se calhar chega a ser a ansiedade social) e eu sempre achei que a frase que a mãe lhe dizia com a melhor das intenções, só piorava: então filho, estás muito calado, não participas na conversa? (Sempre seguida de silêncio constrangedor e dos olhares de todos os comensais virados para o pobre rapaz).
Claro que eu sou aquela pessoa horrorosa que fala imenso e com toda a gente. Mas como já sou crescidonha, já tenho sensibilidade para as vezes me sentir mal por se calhar fazer os tímidos a minha volta sentirem-se desconfortáveis.
De resto, é pena não teres instagram, eu por mim ia achar graça a ver o instagram de um ‘bicht face’ , eu acho isso uma vantagem, quem me dera, em algumas situações, conseguir fazer essa cara.
🙂
Sim, não sei porquê a palavra confiança não apareceu na parte da timidez (pode ter desaparecido num dos 65 drafts que fui adiando neste post), mas essa segurança em relação ao que os outros possam pensar (ou simplesmente not giving a fuck) tem a ver com isso. Sendo que a timidez pode ser mais ou menos racional, mas é um campo mais difuso (há muitas variações, entre timidez “funcional” e “não-funcional”). Curiosamente, há um antes e depois significativo da minha timidez com o ter feito Erasmus – que criava um ambiente muito dado ao tal “not giving a fuck”, ou, como se diria hoje, YOLO. 🙂
Ah. Tive de ir procurar o que é YOLO. Não sou versada nessas modernices. E descobri que também há OLOY.
🙂
*estar com amigos.
*crescidinha.
#odeioas teclas do iPhone e o corrector ortográfico
Confesso que gostei mais quando tinha de imaginar o que seria gostar muito de estar com ioga. 😀
Ehehe. Eu lá em casa também tenho a prova de que ser-se tímido ou introvertido ou antissocial (ou o que quer que a sociedade chame a este conjunto de pessoas) nada impede ter um grande sentido de humor e ser capaz das melhores piadas que nos (a mim, o meu, pelo menos) fazem rir muito.
😀
Olha, bom carnaval!!
Spot on. Os bonecos que fizeste deviam ser reproduzidos e incluídos nos manuais de Estudo do Meio do primeiro ciclo (sim, a escola primária).
Ser introvertida e mãe de várias crianças extrovertidas é, como dizê-lo?, semelhante ao que uma zebra deve sentir quando partilha a sauna com vários leões. Leões muito fofinhos, claro.
Ahahahaah – claro. 🙂 É engraçado pensar também que a paternidade me tem obrigado a ‘calibrar’ alguns aspectos da introversão, tipo programas fora de casa tornarem-se mais aliciantes do que ficar em casa – dependendo também do estado de alma / nível de energia dos seres. Outro ponto, mais positivo, é conseguir “usar” os filhos para interromper momentos de socialização forçada (em festas, normalmente) “oops, com licença, tenho de ir ver se ela fez cocó, mas retomaremos esta conversa interessantíssima sobre camisolas anteriores assim que for possível”. 🙂
Adorei o artigo/dissertação 😊 o meu comentário vai no seguimento do último comentário. De que forma um tímido e introvertido muda/é obrigado a mudar com a paternidade, atendendo a que as crianças têm imensa energia, barulho, atracção social, etc. E não falo apenas como escapatória (deixa ver se tem cocó, xau conversa chata), mas também como gerir esses momentos de euforia quando um timido/introvertido quer o seu time out.
Eu confesso que preciso dos meus time outs de 5 minutos para estar a sós comigo 🤓
Fica a sugestão para uma continuação da temática 😁
É uma boa questão. Infelizmente, tenho dúvidas se a única solução não será mesmo o clássico: esperar que cresçam. Vou pensar no assunto. 😎
Vi há pouco tempo esse livro (Nunca Almoce Sozinho), e pensei exactamente o mesmo. Se aplicasse essa ideia à minha vida, morria! Porque, lá está, costumo aproveitar a hora de almoço para recarregar baterias (sozinha, obviamente). Depois, estou pronta para um novo turno de interacção com pessoas 😉
De qualquer forma, e sem ter lido o livro, acredito que tenha ideias úteis para muitas pessoas. A verdade é que grande parte das oportunidades que temos na vida, profissionalmente e não só, nos surge através das relações que vamos cultivando… Os introvertidos demoram mais tempo a chegar aos mesmo sítios, ou não chegam lá de todo.
Aproveito este comentário para dizer que gosto muito do teu blog. Quando o descobri, li-o de uma ponta à outra, mas (como boa introvertida que sou!), nunca tinha comentado. Tenho pena que não escrevas mais vezes!…
“A verdade é que grande parte das oportunidades que temos na vida, profissionalmente e não só, nos surge através das relações que vamos cultivando… ”
É muito verdade. E não é sempre óbvio, para quem está a “começar na vida” (para mim não era).
É que, curiosamente, além da glorificação da “extroversão” de que falo no texto, a nossa sociedade (ou pelo menos a cultura, filmes, ficção, etc) também gosta de celebrar o “fiz tudo sozinho”. Outro dia ouvi uma entrevista em que perguntavam ao Arnold Schwarzenegger como era ser um “self-made man” (a biografia dele dá essa impressão), e ele respondeu logo que não sabia o que era isso, porque foi conhecendo muitas pessoas ao longo da vida que o ajudaram, apresentaram a outros, abriram-lhe oportunidades.
Mesmo na arte, há muitas vezes a ideia do artista solitário e torturado… mas não é por acaso que os Impressionistas se conheciam quase todos e socializavam com frequência, que os cafés foram fulcrais para os movimentos artísticos do séc XIX / XX, etc.etc. E os artistas são muitas vezes de disposição introvertida. Oops, mas acho que divago. 😎
Obrigado pelo comentário, é mesmo bom saber! Este ano também gostava de voltar a escrever mais (ainda não tenho bem a certeza é sobre o quê). Vamos ver. 🙂
Sim! 🙂 E não, não é óbvio. Eu, pelo menos, levei muito tempo a chegar a essa conclusão… Por outro lado, acho que se uma pessoa vinga numa determinada área sem ter à partida nenhum tipo de privilégio que lhe dê vantagem nessa área, é sempre um «self-made man». Independentemente de lá ter chegado por ter feito um «bom trabalho», ou por ter sabido estabelecer «boas relações», ou por ambos…
Curiosamente, acho que as pessoas com temperamento mais extrovertido percebem isto de uma forma mais rápida, e mais intuitiva. A minha filha (surpreendentemente sociável!), além de tirar imenso prazer do estar em relação, sabe muito bem como envolver os outros para levar a dela avante… Costumo dizer que ela sabe mais aos 3 anos do que eu sabia aos 30! 😀
É interessante. Há mesmo pessoas que percebem isso de forma mais rápida, ou intuitiva, e alguns deles até serão introvertidos (o Obama, p.ex., diz que é o caso dele).
De resto, todo a favor de que devemos reconhecer o mérito a quem faz e alcança, mas as noções de “vantagem” e “privilégio” são temas que me têm ocupado a cabeça nos últimos tempos, e que dão para entrar num “rabbit hole” e passar lá muito tempo. Talvez dê para outro post. 😎
via GIPHY
Inexplicavelmente, recebi hoje uma notificação de que havia um novo artigo no blog À Paisana. Fiquei toda contentinha e pensei que o Pai André tinha voltado. Segui o link e li o texto sobre os introvertidos e afins que, por acaso, nunca tinha lido e adorei. Sou um bocado disso tudo. O prazer de um encontro social cancelado… finalmente sinto que aquela minha sensação tão frequente não é tão estranha como pensava… Que alívio. Sou formadora e sinto-me confortável perante uma audiência mas odeio conhecer pessoas novas e ter de fazer small talk… etc, etc.
MAS… afinal o texto é de 2017 e o Pai André ou teve outro filho, ou está fechado num quarto a jogar Tetris ou a ver episódios do Star Wars…