Como todas as pessoas que não vivem debaixo de pedras sabem, estamos a poucos dias da estreia do novo Star Wars – The Force Awakens. Pensei assinalar a ocasião com um guia Star Wars para fãs: tudo o que sabemos (ou não) sobre o novo filme, as análises aos trailers, as imagens. Depois cheguei à conclusão que os fãs já devem ter visto os trailers todos, debatido sobre a especulação nos melhores sites internacionais e comprado bilhete para a 00h01 de dia 17 de Dezembro (presente!).
Portanto decidi fazer um guia de perguntas-respostas para pessoas que não são fãs, ou que até gostam de Guerra das Estrela mas não percebem a histeria, ou, simplesmente, que gostam de ler guias na Internet.
Entretanto descobri que o Nuno Markl fez uma coisa parecida para a Visão. Pensei mandar o post para o lixo, mas acho que o meu guia é bem melhor (ou, pelo menos, é mais sucinto, e tem gifs).
Vai estrear um novo filme ‘Star Wars’? O que é que isso quer dizer?
Quer dizer vai estrear o sétimo capítulo cinematográfico da saga mais importante da história do cinema comercial – Star Wars: The Force Awakens, ou Star Wars: O Despertar da Força. E já passaram 10 anos desde a última estreia de um filme Star Wars nos cinemas, o que significa que há muita excitação nerd acumulada no ar.
Mas porquê a excitação? O que têm estes filmes que põem pessoas adultas a chorar?
A importância da Guerra das Estrelas no imaginário colectivo está, sobretudo, relacionada com o impacto que estes filmes tiveram na infância das pessoas que nasceram depois dos anos 70 do século passado. Isso e o número de bonecos que venderam. Os primeiros três filmes Star Wars são uma combinação quase perfeita do efeito mágico e comercial do cinema, com uma história passada “há muito tempo numa galáxia distante, muito distante”.
Está certo que os filmes deram origem a uma máquina comercial imparável, que amplificou o fenómeno brutalmente, mas também porque – na sua essência – são uma epopeia espacial que nos transporta para um universo novo, com uma estética que deixa marcas profundas no imaginário de qualquer criança (sabres de luz, o melhor vilão de sempre, naves super rápidas) e onde ressoam os grandes temas da Humanidade (roubados inspirados nos mitos clássicos, no cinema de aventura, nos westerns, cinema japonês, etc.)
Alguém muito próximo de mim quer convencer-me a ver este filme, mas eu detesto ficção científica – deixo de atender o telefone?
Não. As boas notícias são que, embora tenha lugar no espaço, dizer que Star Wars é “Ficção Científica” é um pouco ofensivo para a definição mais purista do género, como popularizada por filmes como “2001: Odisseia no Espaço” ou “Blade Runner”. Existe alguma ficção científica na Guerra das Estrelas, mas o tom geral dos filmes é algo entre a aventura épica e acção. Há quem lhe chame “Space Opera”.
Tenho de ter visto (ou ver outra vez) os outros para perceber o filme? Isto tem números, não é?
Não, e sim. Esta é a sétima longa-metragem Star Wars a ser produzida para o cinema e, ao mesmo tempo, o Episódio VII da história. Até agora esta coincidência não tinha acontecido, porque os primeiros três filmes a serem feitos foram os episódios IV, V e VI (entre 1977 e 1983). No final dos anos 90, início do milénio, apareceram as prequelas: os não muito bons I, II, e III. Os três grupos de episódios são todos passados em períodos de tempo diferentes, portanto o Episódio 7 marca o início de uma nova parte da história.
De acordo com o realizador, o Despertar da Força é um “standalone movie“, portanto tem um início, meio e fim. Claro que é recomendável saber o que se passou antes, mas para alguém que quer só ir ver um filme ao cinema, não deve haver problema.
Ok, mas se descontarmos o efeito “a Guerra das Estrelas sequestrou-me a infância e o sentido crítico”, estes filmes são bons? Um adulto funcional gosta disto?
Depende da qualidade deste filme, que ainda não estreou, mas as probabilidades de ser um bom filme são elevadas. Cinematograficamente, os dois primeiros são quase irrepreensíveis (Ep IV – Guerras das Estrelas e Ep V – Império Contra-Ataca). O “Império” envelheceu melhor, mas o primeiro Star Wars é pioneiro numa série de coisas. O ep. VI – Regresso de Jedi (devia ser ‘dos’, mas enfim) já está uns furos abaixo, mas continua no patamar do aceitável. Nos outros três (Episódios I a III), a coisa complica-se. O primeiro é terrível, o segundo é sofrível, e o terceiro vê-se com um pouco de mais conforto.
Além disso, este novo filme é realizado pelo JJ Abrams, que esteve muito bem no relançamento do Star Trek e produziu o Lost. Se gostam de filmes de acção ou aventura, podemos estar perante uma das melhores coisas deste ano, dentro do género.
As crianças podem ver isto?
O Despertar da Força vem com uma classificação de PG-13 no sistema americano, o que quer dizer que o filme não deve ser muito recomendável para crianças com menos de 10, 11 anos. Sobre os filmes originais (e a melhor ordem para ver a saga Star Wars) já escrevi aqui e aqui.
Está bom (não vi o do Markl). Eu incluo-me em “tenho várias pessoas próximas que são nerds de star-qualquer-coisa e querem convencer-me a ver”. Mas confesso que estou poucos degraus acima de quem vive debaixo das pedras. Se bem que ainda me considero menos nerd-ignorante que uma colega que nunca tinha ouvido falar de, por exemplo: barney stinson ou 2001 odisseia no espaço e quando googlou disse que não se interessou porque só lhe apareceram macacos (o facto de ter 28 anos não é desculpa, porque colega que nasceu em 1990, e ainda por cima cresceu em país não ocidental, conhece tudo o que é cultura pop de anos 70 e 80). Isto para dizer que o tema “viver debaixo das pedras” é giro de discutir 🙂
Sim, há muitas pedras, de diferentes tamanhos e feitios. Além disso, por vezes, é bom termos uma pedra para nos escondermos. 🙂
A minha perspectiva nestas coisas não é judgmental, é só de curiosidade. Também não conheço 99,9% do cânone literário, é a vida. Casei com uma pessoa que não viu nenhum filme Star Wars, embora tenha conseguido arrastá-la para um “concerto sinfónico” temático.
A parte mais interessante do teu comentário, no entanto, é esse eixo “2001 odisseia no espaço – barney stinson” de aferição de cultura pop. Tive três segundos de “Barney Stinson…?”, e depois lembrei-me que devia ser o do HIMYM. É óptimo, porque vai aos extremos mas continua a ser cultura pop. Tipo “conheces o Taxi Driver? e o que achas de Veronica Mars”. Ou, “gostas de Banarama? e aguentas ver o House of Cards?”. Já o 2001 ser sobre macacos é espectacular. 😀
Começo pelo fim. Obrigada por achares que o meu comentário tem partes mais interessantes. Significa que o resto também é, embora menos. Eu acho que podias fazer um guia sobre “como retirar as partes positivas dos comentários parvos na internet.”
Eu tenho desculpa sobre barney stinson, e já agora também sobre citações de family guy. Tenho dois gajos próximos que conseguem ficar uma noite inteira de copo na mão em frente a um bar do bairro alto a trocar galhardetes com citações de cenas icónicas (ou melhor, icónicas para pessoas como eles), como as frases de engate do barney stinson e o wingman. Portanto, tenho anos de tarimba a tentar acompanhá-los.
Mas a minha perspectiva nestas coisas, ao contrário da tua, é judgemental. Eu sou aquela chata que, perante a evidência de ignorância do seu interlocutor, exclama NÂO SABES? TU NÂO SABES?
Dito isto, sou snob. Repara, tive de ir googlar veronica mars e fiquei contente ao ver pelas imagens que sei vagamente que é uma actriz de filmes ou séries idiotas (acho que recordo tê-la visto num filme no haiti com o colega de série do barney stinson).
Lá está, tens matéria para te lançares num workshop (ou um guia prático aqui no blog) sobre como ser sempre simpático e positivo nas comunicações na internet 🙂
Ah, isso também é interessante! Eu sinto sempre positividade nos comentários deste blog. Só uma ou duas vezes é que alguém escreveu aqui algo desagradável (sem grande talento, infelizmente). Eu gosto da descontração de comentar, por oposição à tensão escreve-reescreve de preparar um post. Dá para ser simpático, desligar a ironia, escrever com erros, etc. E sinto-me genuinamente simpático com pessoas que vêm aqui, lêm, comentam, gosto muito de sentir que existe uma audiência (por mais infíma que seja), é um privilégio incrível!
Voltando ao assunto, já fui bastante judgmental em relação a essas coisas. Mas tive um “momento” num seminário de mestrado em que ouvi uma ‘colega’ aluna, dez anos mais nova do que eu, a fazer um discurso muito indignado sobre as pessoas que vêm a casa dos segredos e o declínio cultural da Nação. O meu primeiro pensamento foi “quem é esta fedelha para julgar o que os outros vêem ou nao vêem na televisão?”, o segundo foi “ugh, acho que eu também dizia coisas destas há dez anos atrás”.
A partir daí não julgo as pessoas pelo que vêem ou lêem, mas apenas pela estupidez que sai da boca delas. É uma diferença subtil, mas é um principio. 😎
E também há a sensação contrária, que é “COMO ASSIM, NUNCA VISTE O BIG LEBOWSKI?! AHHHHHHH! VAMOS JÁ PARA MINHA CASA! HÁ CERVEJAS? GANZA? TEMOS DE ARRANJAR!”. Mas isso era antes de ser pai.
🙂
Mas o meu problema é que quando alguém, por exemplo, como já ouvi, fica muito espantada por estar num grupo onde as pessoas, todos seus jovens seus contemporâneos, se riem de uma referência usando a banda sonora icónica do 2001 Odisseia no espaço e diz que não só nunca viu esse filme como nunca ouviu falar e nem de nenhum outro filme do Kubrick, o meu problema é achar que isso ultrapassa os limites da simples ignorância.
E o problema é que eu já não sou fedelha (e sou mãe de filho). Mas tenho esperança que quando começar a ouvir barbaridades da boca do meu filho quando ele for adolescente, eu aprenda a não me importar com estas coisas.
(E se ele quiser um dia entrar na casa dos segredos? Credo, que pensamento horrível :P)
Desde a alteração do meu estatuto parental, o Star Wars foi a primeira vez que fomos ao cinema em seis meses, só para aumentar as expectativas. Saí de lá satisfeito mas ligeiramente dividido.
A questão é: ainda tens pachorra para rescaldos do filme ou poupo-nos 50 linhas de argumentação teórica 🙂
PS – Suponho que já conheças a conta Twitter Emo-Kylo-Ren
Estou há dias a tentar escrever a minha opinião sobre o filme, mas ainda não consegui. Óbvio que terei todo o gosto em trocar linhas de argumentação teórica, retórica e espacial contigo, gostava até que fosse nos comentários desse post que não chega. Se ele entretanto não aparecer, “feel free” de chutar o que te apetecer para aqui, ou até no teu espaço, que eu despertarei tal como a Força. 🙂
Ahah, é tipo ‘a angústia do Jedi na hora de decidir o lado da Força’, mas em modo opinador.
Ultimamente não tenho tido tempo útil de jeito, nem sequer para me queixar que não tenho tempo, mas vamos ver o que se arranja 🙂
Infelizmente, ou não, é mais “a preguiça do jedi em férias” 😀
Permita me corrigir algumas coisas sobre o texto…
Não é “há quem chame de space opera”… Space opera é um subgênero da ficção científica que abrange obras clássicas atemporais como Duna e Fundação, Flash Gordon e Buck Rogers. E tb Star Wars. Sci-Fi tem diversos subgêneros, e space opera é um deles, e alguns são considerados “hard” e outros “soft” e space opera é “soft” pq tem elementos de fantasia. Mais detalhes em http://maxiverso.com.br/blog/2016/01/26/star-wars-e-ficcao-cientifica-sim/
Olá Rodrigo, obrigado pelo comentário. Eu não digo que SW não seja uma Space Opera, só usei a expressão “Há quem chame de space opera” porque não é um termo popular e das pessoas que vêm Star Wars só uns 5% saberão o que quer dizer (e não os “leigos” para quem é dirigido o post).
oi André, entendi… é que da a impressão que apenas algumas pessoas chamam SW de space opera qd na verdade é o (sub)gênero oficial dela, até pq o próprio Lucas assim enquadrou. Abraço!