Guia à Paisana de Adaptação à Escola (Creche e Jardim de Infância)

A ida de um filho para a escola pode trazer angústias, sofrimento e preocupações várias. Para os pais, sobretudo. E com razão. A escola é um antro de vírus, parasitas e bactérias. E não estou a falar só das outras crianças.

Mas, calma. Existem várias formas e dicas para suavizar a entrada das crianças na escola, e a vossa sorte é que estou aqui para as explicar. Este é o Guia à Paisana de Adaptação à Escola (Creche e Jardim de Infância).

#1 – Conhecer a Escola 

A primeira coisa que têm de fazer é a conhecer a escola. É aborrecido, mas necessário, sobretudo para confirmar se é mesmo uma escola verdadeira (e não um pedófilo disfarçado).

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Deu nas notícias.
Deu nas notícias.

Aquilo que vão encontrar quando conhecerem a escola depende muito do tipo de estabelecimento em que querem (ou conseguem) pôr os vosso filhos. De um lado estão as chamadas Instituições Particulares de Solidariedade Social – IPSS. As IPSS são sítios em que as pessoas se riem dos vossos recibos de ordenado. Do outro lado, à medida que vai aumentando a disponibilidade financeira, estão os colégios. São mais exclusivos, mais caros e ficam melhor em festas.

Para pessoas que conseguem escolher a escola em que podem por os filhos, pode haver outras decisões a tomar. Por exemplo, entre colégios conservadores e “modernos”.

Os modernos, muitas vezes, seguem aqueles métodos alternativos, tipo Montessori ou Waldorf, em que que as crianças andam descalças, aprendem ao seu ritmo e comem macacos do nariz. Nos colégios conservadores, quase sempre religiosos, a disciplina é mais exigente: há horas para rezar e o Pai Natal é literalmente o anti-cristo.

Menino Jesus Natal
Porque “QUEM ENTREGA OS PRESENTES É O MENINO JESUS.”

Resumindo, se tiverem dinheiro (ou não pagarem rendas de casas em Lisboa), e forem conhecer o colégio em que o querem pôr, certifiquem-se que o dinheiro é bem investido:

  • as reuniões de pais também servem como “eventos de networking”;
  • a fruta que servem ao lanche é biológica, apanhada por patriotas e descascada com pensamentos positivos;
  • as educadoras dão um beijinho e tratam os meninos por você.

Nos restantes casos, nas IPSS, estejam atentos a:

  • Sinais de que o tecto está a ruir e lhes pode cair em cima da cabeça.

#2 – A primeira reunião

A primeira reunião na escola é sempre especial. Quase tão especial como a primeira vez que vão ver a cara do vosso chefe quando lhe dizem que vão chegar atrasados (ou ter de sair mais cedo) para ir à escola do vosso filho.

Snape Sorriso
É uma questão de hábito, não se preocupem (vossa, a cara vai ser sempre esta).

Uns dias antes das aulas começarem, as escolas convocam os pais para uma reunião. Nestas reuniões, a direcção e as educadoras apresentam as regras básicas da escola e tentam responder a perguntas de pais novos sem revirar os olhos. Os pais são obrigado a sentar-se em cadeiras minúsculas (técnica clássica de humilhação) enquanto lhes dizem que não se devem atrasar, interromper actividades em sala ou passar na cozinha da escola e provar o almoço da panela.

Nao peçam
E, façam o que fizerem, não peçam para ir à casa-de-banho.

#3 – Conhecer a Educadora

A primeira conversa com a Educadora é muito importante. É nessa conversa que ela vai passar a saber todas as informações relevantes sobre os nossos filhos: para que lado gostam de dormir, a marca de iogurte que gostam mais, quantas mastigadelas devemos dar na carne antes de a pôr na boca dele.

Levem em conta que a percentagem de conhecimento que ela vai memorizar dessa conversa é:

zero porcento
Obviamente que isto não significa que não devemos comunicar tudo o que achemos importante. Mais vale ela pensar que somos psicopatas obcecados pelas nossas crianças do que pessoas que não se preocupem. Assim ficam sempre atentas e vigilantes.

É que fica sempre bem demonstrarmos que temos traços obsessivos na relação com os nossos filhos, quer dizer que nos preocupamos e que vamos estar atentos a todas e quais alterações fisionómicas que eles revelem quando voltam das escola. Ainda no outro dia, o Mexicano chegou a casa com duas borbulhas no braço e uma na coxa, e a reacção instantânea foi:

VARICELA

 

#4 – O primeiro dia de escola

O primeiro dia de escola pode ter um peso terrível. Há uma ligeira diferença no impacto do primeiro dia em crianças que vão para a creche (dos zero aos dois) ou para o jardim infantil (acima dos três). A diferença é esta: para os miúdos da creche o terror começa no momento em que o pai os deixa nos braços da educadora e desaparece  de vista. A partir dos três anos é angustiante ver que começam a adquirir a capacidade de sofrer por antecipação: o terror pode começar no mês, semana ou dia anteriores.

Domingo à noite
E em breve também começam a saber o que é aquela sensação especial dos Domingos à noite (imagem daqui).

Mas o grande problema de começar a escola são os outros miúdos. São violentos, descontrolados, e ninguém os responsabiliza pelas suas acções. Isso significa que é necessário tomar medidas preventivas o mais rapidamente possível.

Cá em casa somos adeptos de uma técnica originária das prisões de segurança máxima dos Estados Unidos. Consiste no seguinte. Mal chegam à sala, arranjem maneira de despachar a educadora e ficar sozinhos com os miúdos. Inventem qualquer coisa, tipo que alguma criança se borrou no escorrega e os miúdos andam todos a deslizar no cocó.

Com a sala vazia de adultos, identifiquem o miúdo, ou miúda, dominantes na sala. Normalmente o mais eléctrico e barulhento. O ranhoso alfa, como dizem os antropólogos.

Agora é a parte mais importante: vão directos a eles e dêem-lhe um enxerto de porrada! Estou a brincar. Basta dar-lhe uns calduços, uns empurrões, e ameaçar desfazer-lhe o peluche e misturá-lo na cérelac, se alguma vez fizer mal ao vosso filho. Parabéns, acabam de assegurar que o ano do vosso filho vai ser excelente.

miudo musculado
Mas com certos tipos de miúdo, é melhor reconsiderar.

#5 – A Adaptação Faseada à escola

Muitos dos problemas relacionados com a entrada na escola são evitáveis se puderem fazer uma adaptação faseada com o miúdo. Para isso só precisam de uma destas três condições: a) uma vida de ócio sem horários ou compromissos, b) dias de férias a que não dêem grande importância, c) um chefe que aceite que vão andar uns dias a chegar atrasados (ou a não chegar).

Não.
Preparem-se para mais expressões novas.

Dia 1 – O primeiro dia tem de ser com calma. Entram e ficam com o vosso filho na sala, aí uma meia hora. Aproveitem para contar histórias das vossas férias à educadora e à auxiliar. Se os outros miúdos fizerem muito barulho gritem com eles para se calarem, porque ainda não chegaram à parte em que explicam a vossa teoria sobre o porquê dos frangos da Guia serem tão bons. Quando estiverem aborrecidos, regressem a casa.

Dia 2 – Hoje é dia de ele ficar sozinho (mas só uns instantes). Saiam e deixem-nos na sala, é provável que ele fique a chorar. Escondam-se. Assim que tiver acalmado, apareçam outra vez na sala, digam que é só para dar um beijnho e saiam logo de imediato. É provável que ele fique outra vez a chorar, e no fundo o que estão a fazer é piorar a situação, mas é importante que a educadora perceba que ele gosta mais de vocês do que dela. Esperem até que ele se acalme outra vez, regressem, contem o resto das férias e voltem para casa.

Dia 3 – Hoje é dia de ele ainda ficar sozinho mais um bocado. Deixam-no a chorar e vão beber um café. Chorem no café, é natural, é um momento difícil. Bebam um bagaço, ou dois, vocês merecem. Passado uma meia hora, regressem à escola e dêem um forte abraço ao vosso filho e digam que o vão levar para casa. Abracem também a educadora e a auxiliar. Se alguém notar que andaram a beber, gritem: “NÃO ME JULGUEM!”.

E não interrompam a aula de ginástica.
E não interrompam a aula de ginástica.

Dia 4 – Hoje é o último dia da adaptação. O dia em que eles almoçam lá. Deixam-no na sala, a chorar, e se calhar até podem ir trabalhar nessa manhã. Ou então não, é melhor ficar já ali no café, que é perto e até o senhor já vos conhece. Bebam uns bagaços cafés enquanto esperam. Regressem à escola orgulhosos de terem aguentado tanto tempo (uma hora e meia). Talvez não devessem ter bebido tantos bagaços, não faz mal, aquelas mini macas onde os miúdos dormem até parecem ser confortáveis. Não se preocupem se perderam os sentidos esparramados entre quatro camas de criança, durante a hora de almoço da escola, alguém vos há-de encontrar.

Dia 5 – Deixem lá o miúdo, digam adeus, e aparecem lá 9 horas depois.

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