Este ano, por motivos variados, assumi a dianteira na gestão de projeto da organização da festa dos 3 anos do Mexicano.
-inserir gif para expressão da Ana de “e já era sem tempo de contribuir com alguma coisa”-
Isso obrigou-me a pensar em logísticas, comidas, convites, compras, orçamentos, e outras coisas semelhantes, tais como lidar com os meus problemas de auto-estima e angústias de rejeição relacionadas com festas de aniversário.
A festa foi no Sábado e, acho, correu bem. Foi no muito agradável Parque Recreativo dos Moinhos de Santana, no Restelo, e o tema foi Urban Art. Isto porque o sítio onde nos instalámos estava todo sujo com graffitis daqueles que é só um rabisco, que é uma espécie de geocaching dos mitras.
Pensei escrever um post mais ou menos detalhado sobre o fenómeno das festas para crianças, como a sorte do aniversário calhar numa altura de bom tempo, já que Lisboa tem imensos jardins que se podem ocupar sem gastar dinheiro. Também teria qualquer coisa a dizer sobre este fenómeno recente(?), que vi referido nalguns sites, em que se oferecem presentes às crianças convidadas, que é uma maneira de dizer “tenho tanto dinheiro para gastar na festa do meu filho que até vou oferecer uma lembrança insignificante ao teu”.
Sobre essa questão, a posição oficial de nossa casa resume-se bem com este gif:
O ‘Sumo Laranja Mico & Mica Continente Infantil’
Como estava a dizer, eu pensei em escrever o tal post, mas depois aconteceu o Sumo Laranja Mico & Mica Continente Infantil. Falar do Sumo Laranja Mico & Mica Continente Infantil tornou-se um tema central da minha vida nos dias seguintes à festa. A Ana diz que é uma obsessão, mas na verdade é um imperativo de corrigir um grave desiquilíbrio na ordem natural das coisas.
A história é simples. Uns dias antes da festa, passei pelo Continente para comprar bens e mantimentos, e reparei que este sumo estava em promoção. Não fiz caso de ser marca do Continente, estamos em 2015 e se ainda não beberam o Alvarinho do Pingo Doce não sabem o que perdem.
Achei que o Sumo Laranja Mico & Mica Continente Infantil podia ser uma boa opção para ter na festa. Além de ser sumo de laranja (ou algo semelhante), era “infantil”! Ao início achei que ser “infantil” poderia significar ter menos açúcar, ou assim. Não foi um momento brilhante. Afinal, era apenas “infantil” no sentido de ter dois bonecos de que nunca ninguém ouviu falar na embalagem.
Mas nada disto é relevante. Nós nunca temos sumos ou refrigerantes em casa, portanto a questão da naturalidade dos sumos não me apoquenta muito. É dia festa, há bolos, há sumos, e se houver pessoas que acham que “açúcar é veneno!”, o problema é delas. O Um Bongo – o Sumo Rei da Selva, por exemplo, também não era nenhum paradigma de naturalidade, mas lembro-me de ser bem agradável. Além disso tinha um anúncio impecável, que começava com umas letras que dançavam com a energia de um pastilhado numa rave, e acabava com um elefante a tripar, o que confirma que no passado era tudo sobre droga.
Como é evidente, na festa nem toquei em sumos (havia cerveja). O problema foi, no dia a seguir, a Ana ter aberto um pacote que tinha sobrado, e ter comentado algo como “iii, este sumo não é muito bom”. Fui provar.
Bem. Dizer que o Sumo Laranja Mico & Mica Continente Infantil “não é muito bom” é um eufemismo. Aliás, talvez seja mesmo um elogio. Utilizar o adjectivo “bom” na mesma frase que Sumo Laranja Mico & Mica Continente Infantil é uma ofensa linguística tão aberrante, que nem o último acordo ortográfico o devia permitir. Nem que fosse para dizer “o Sumo Laranja Mico & Mica Continente Infantil é bom para lubrificar portas que rangem”.
O sumo Sumo Laranja Mico & Mica Continente Infantil é tão mau que quando o provei tive de o voltar a provar e mesmo depois de o ter voltado a provar tive que o provar outra vez (e escrever este post). Não queria acreditar que um sumo pudesse ter um sabor tão vil. Como se alguém quisesse fazer um sumo de laranja que não fosse nem doce nem amargo, e tivesse saído este monstro de Frankenstein em forma líquida e sabor sintético. É muito difícil imaginar que alguém que esteja envolvido no seu fabrico, o tenha alguma vez provado.
Se o Sumo Laranja Mico & Mica Continente Infantil fosse provado como um vinho, as notas de prova diriam algo como: “na boca apresenta notas de plástico derretido pontuadas com indícios de lubrificante industrial”. Se tivéssemos de desenhar um gráfico para assinalar onde é que o Sumo Laranja Mico & Mica Continente Infantil figura num eixo de SABOR / NATURALIDADE – era isto que acontecia:
É que mais valia ter comprado Tang. Os meus pais não compravam Tang, diziam que era ‘artificial’, portanto via-o como uma besta mítica e deliciosa que aparecia nalgumas festas.
Beber Tang era quase um acto de transgressão, como comer aqueles Olás de laranja ou ananás, que os adultos descreviam como “uma porcaria que é só água e corantes”. Anos depois vim a descobrir que Tang era a bebida dos astronautas americanos: a profissão mais exigente do mundo a nível físico e intelectual, logo a seguir a professor do ensino preparatório. O que mostra que os meus pais sempre estiveram errados em relação ao Tang.
Em relação ao Sumo Laranja Mico & Mica Continente Infantil não há muito mais a dizer, a não ser pedir desculpa a todas as crianças que beberam o sumo. Aos adultos não, que tivessem bebido cerveja. Também tínhamos levado Sumo Ananás Mico & Mica Continente Infantil e o Sumo Tropical Mico & Mica Continente Infantil, mas esses não cheguei a provar. Se calhar eram bons.
Isto é serviço público. Fiquei nostálgica com o tang. Aquilo era mesmo mau mas em miúdos (nomeadamente numa época em que para muitos raramente se tinha acesso a essas coisas) tudo nos parece melhor do que água, era uma festa! Sou capaz de apostar que os teus convidados ficaram muito felizes com a mica e o mico. Tens de fazer mais posts sobre esta festa, soube a pouco. E deixa lá, também sofri de alguns traumas. Quando o dia 3 de novembro calhava perto do fds, os pais dos meus colegas aproveitavam para ir à terra visitar os cemitérios a propósito do dia 1 😀
Por outro lado, a ida ao cemitário não era no mesmo dia de “ir ao bolinho” ou “pão por deus”, Mãe Sabichona?
Sim, mas por algum motivo ficou presente os que não podiam ir por causa do fim de semana prolongado. Suponho que aconteça o mesmo a miúdos que fazem anos em Agosto.
Pensei que se podia perder um post importante sobre esse tópico, mas vão haver tantas mais festas (Mico e Mica é que não 🙂 )
Nunca tinha pensado no trauma de fim de semana grande, mas no meu caso são mais ‘issues’ do que traumas, e não se encontram tanto na infância. Acho que Têm mais a ver com a minha introversão, e outras coisas que eventualmente darão um post.
Muito bom.
Também vamos evitando o açúcar e os alimentos que nos parecem ser menos saudáveis, mas nos aniversários dos meu filhos há sempre tortas Dan Cake e é mesmo uma cena de tipo “Freud explica” porque eu nunca as tive nos meus aniversários. Claro está que, nos dos meus filhos, só os adultos é que conseguem comer as tortas, aquilo é mesmo intragável. Deliciosamente intragável. 😀
Hmmmm, tortas Dan Cake, também era grande fã dessas tortas, já nem me lembrava. E aquelas coisas que eram uns croissants cobertos de chocolate e recheados de chocolate. Acho que a marca era “Pastelaria Fresca”, mas tinha pouco de fresco, creio.
Sobre oferta de prendinhas aos amiguinhos do aniversariante, há uma cena muito gira neste filme em que a Uma Thurman também é completamente contra (ela é uma mãe intelectual que vive num apartamento de renda controlada em NY) mas depois acaba por ceder numa daquelas lojas tipo ale-hop.
http://www.imdb.com/title/tt1220220/?ref_=nm_flmg_act_18
Não conhecia! É giro, o filme?
Fico avisada para se alguma vez na vida me lembrar de comprar Sumo Continente Mico&Mica Laranja Infantil 🙂
Bom, se tiveres curiosidade – e utilizando uma expressão em voga – “é uma experiência”.
vê-se bem. cabe na categoria “filmes de domingo à tarde” 🙂