O ponto comum dos artigos desta semana é não terem nenhum ponto em comum, o que torna as coisas mais interessantes. Da sexualidade da Miley Cyrus à magia do Calvin and Hobbes, falando também de políticas de estímulo à natalidade e o (mui invocado) exemplo Finlandês da educação.
O bom aluno (Expresso) / Highly trained, respected and free: why Finland’s teachers are different (Guardian)
Não há sistemas educativos perfeitos, mas há sistemas que andam à deriva (como o nosso) e outros que parecem apontar na direcção certa, como o Finlandês. Estes dois artigos não trazem nada de muito novo a quem costuma seguir estas questões da educação, mas fazem um bom resumo do que tem sido a experiência finlandesa nos últimos anos. Incluindo o facto de recentemente terem descido ligeiramente nos rankings internacionais.
É assustador que alguns dos princípios em que a Finlândia se baseia – autonomia das escolas, valorização dos professores e uma aprendizagem pouco obcecada com avaliações rígidas -, sejam o oposto daquilo que Portugal tem seguido nos últimos anos. Mas talvez seja só eu. A reportagem do Expresso está muito bem feita, como artigo é melhor que o do Guardian; mas achei mais interessante o foco do jornal inglês na questão da valorização profissional dos professores, onde um professor do ensino básico tem um estatuto social semelhante ao dos médicos:
“Sallinen, 22, is teaching a handful of eight-year-olds how to read. He is nearing the end of a short placement in the school during his five-year master’s degree in primary school teaching. Viikki teacher training school in eastern Helsinki describes itself as a laboratory for student teachers. Here, Sallinen can try out the theories he has learned at the university to which the school is affiliated. It’s the equivalent of university teaching hospitals for medical students. The school’s principal, Kimmo Koskinen, says: “This is one of the ways we show how much we respect teaching. It is as important as training doctors.” (artigo completo no The Guardian)
Artigo do Expresso (é melhor não ler os comentários).
“O pilar da parentalidade é as pessoas terem trabalho, remunerado de forma condigna” – Entrevista a Vanessa Cunha, investigadora no Instituto de Ciências Sociais (Público)
Uma entrevista muito interessante sobre a baixa fecundidade em Portugal, o aumento das famílias com um só filho, e a comparação das políticas portuguesas com países como a França. Há ideias no texto que, numa primeira leitura, me pareceram um pouco incongruentes, como referir que em Portugal se recorre pouco à creche (e sem referir o apoio quase nulo do Estado nesta questão) e defender o reforço das licenças de parentalidade para os pais, mas depois percebe-se que são vertentes diferentes da mesma estratégia. Interessante também a questão da relação do trabalho das mães com a vontade de ter mais filhos.
“As mulheres têm tanto direito ao trabalho como os homens. E a terem uma vida profissional. E os homens têm tanto direito como as mulheres a terem acesso aos cuidados aos filhos e a medidas de conciliação entre trabalho e família. É importante haver uma regulação do mercado de trabalho, porque o que nós ouvimos nas entrevistas é isto: muitos homens gostavam de estar mais presentes, de ir à reunião dos pais na escola do filho, ou de levar o filho ao médico, mas no trabalho perguntam: ‘Ouça lá, não há uma mulher que faça isso?’” (ler a entrevista no Público)
FREE TO BE MILEY (PAPERMAG)
Não conheço mais de três músicas da Miley Cyrus, mas recomendo vivamente esta entrevista para quem se interessa pela expressão da cultura pop ou tem filhos adolescentes. Podemos não achar-lhe graça, ou não a perceber, mas a Miley Cyrus é uma das trendsetters mais importantes para milhões de jovens. Confesso que fiquei surpreendido com a honestidade e sagacidade com que ela fala da sexualidade, identidade e escolhas artísticas. Creio que este parágrafo se aproxima muito da visão da sexualidade dos adolescentes actuais, portanto deal with it:
“She says she has come to consider her own sexuality — even her own gender identification — fluid. “I am literally open to every single thing that is consenting and doesn’t involve an animal and everyone is of age. Everything that’s legal, I’m down with. Yo, I’m down with any adult — anyone over the age of 18 who is down to love me,” she says. “I don’t relate to being boy or girl, and I don’t have to have my partner relate to boy or girl.” (entrevista completa na PAPER)
Calvin And Hobbes embodied the voice of the lonely child (A.V. Club)
É por muito pouco que o Calvin And Hobbes não entra no meu top 3 de comic strips (Peanuts, The Far Side e Mafalda). Acho que já não era assim tão novo quando os comecei a ler no Público, mas foi sempre fácil reconhecer o génio do Bill Waterson (e se ainda não o fizeram vejam esta homenagem). Gostei muito deste (pequeno) ensaio sobre a relação da infância, da solidão e da amizade nas histórias do Calvin e do amigo tigre. Recomendo para fãs do comic e para pessoas que, de uma forma ou outra, também foram crianças solitárias.
“I’d pore over Calvin And Hobbes time and again, finding renewed joy with every reread, despite being Susie Derkins, stuffed rabbit and all, despite being constantly plagued by a little brother who often seemed like the human incarnation of Calvin himself, despite skipping over most of the Spaceman Spiff fantasies because I just couldn’t understand using your imagination that way. What brought me back, even though I didn’t understand it at the time, was seeing a child—one who didn’t really fit in at school and who had a vague antipathy for almost everyone he met—struggle with the world he inhabited and find a way to make the best of it.” (artigo completo)
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