Há dois tipos de pais no mundo. Pais que têm filhos que dormem sem problemas nenhuns, e pais que odeiam pais que têm filhos que dormem sem problemas nenhuns.
Os problemas, ou “desafios” (se formos o tipo de pessoas que tomam ansiolíticos), do sono nos bebés e crianças são complexos e variados para estar aqui a falar deles em detalhe. Eu sei porque em desespero já descarreguei muitos pdfs e livros da internet sobre o assunto, com promessas de metodologias e técnicas infalíveis, para depois dizerem todos o mesmo: não sabemos quase nada sobre isto do sono, e não há nada que funcione garantidamente, é “criar uma rotina de adormecer – e esperar pelo melhor!”
Depois também há aquelas filosofias de os deixar a chorar, mas cá em casa decidimos que isso são metodologias bárbaras, a que nunca iriamos recorrer. Ok, a Ana decidiu. Mas eu concordei com ela de forma bastante assertiva.
Em todo este processo de lidar com bebés que dormem mal, pouco ou quase nada, fui aprendendo umas coisas. Que gostava de partilhar convosco. Tudo começa pelo momento em que
Percebemos que o bebé não fica na cama mais do que quinze minutos
Lembro-me perfeitamente da sensação. Tinhamos o Mexicano em casa há poucas horas. Amorosos e inocentes até tinhamos montado uma alcofa na sala para ele fazer sestas mais próximo de nós. Estava de licença de parentalidade, e em grande expectativa relativa às prometidas 20 horas de sono por dia de um recém-nascido, repartidas por várias sestas e uma noite de sono.
Deixámo-lo na alcofa, e começámos a discutir que série é que íamos ver. Passados dez minutos ouvi pela primeira vez aquele grito. Aquele grito, ainda desconhecido, novo, mas cujo significado percebi logo: “NEM PENSEM QUE VOU FICAR DEITADO NESTA CAMA SOZINHO, É QUE NÃO HÁ FILMES NEM SÉRIES PARA NINGUÉM SEUS CABRÕES”:
Mas nós não desistimos. Começámos à procura de técnicas, soluções, ajudas. Descobrimos a importância do embalar. De o deitar na cama num estado já profundo e consolidado de sono. Para isso é crucial
Descobrir a técnica do embalanço perfeito
Claro que o YouTube foi das nossas primeiras referências. E como outras cinco milhões de pessoas, a deduzir pelo número de visualizações, acreditámos que o Oompa Loompa seria a nossa salvação. Não foi. A Ana tentou o Oompa Loompa e ele ficou estranhamente atento, como se estivesse a gostar e sem nenhuma vontade de dormir. Eu experimentei o Oompa Loompa e ele berrou durante dez minutos.
Experimentámos muitas outras técnicas e variações. Para um não-pai pode parecer que embalar é sempre a mesma coisa. Errado. Podemos fazer como um qualquer amador e utilizar só o balanço os nossos braços, mas embalador que sabe utiliza também o swing do tronco ou o corpo inteiro. A dada altura damos por nós a ensaiar variantes em que os braços mexem a um ritmo, o tronco abana noutra velocidade, as pernas fletem para cima e para baixo. E isto não é estático. Normalmente o pequeno satã também exige que estejamos a andar para a frente e para trás, ou em círculos, tal qual Afonso VI no Palácio de Sintra.
Claro que se calhar a técnica era completamente indiferente, e era só uma questão de tempo. Mas nós gostamos de pensar que aquele bambolear pela casa com um bebé ao colo, servia mesmo algum propósito.
Mas o embalar não é a última dificuldade técnica. Logo a seguir há o problema de
Colocá-los suavemente no berço
Este gif ilustra na perfeição o que aconteceu da primeira vez que o adormeci nos braços e o tentei colocar no berço. Assim que reparei que a posição dos meus braços não condizia minimamente com a posição do colchão, percebi que íamos ter problemas. Com o nervosismo ainda fiz pior, e acabei por largar o miúdo de uma altura de dez centímetros (que para um bebé de 50 cm devem parecer 5 metros). Claro que ele acordou aos berros.
Depois de vários ensaios e tentativas cheguei à conclusão que a melhor técnica envolve colocar os braços de lado agarrar-lhe a cabeça como se fosse um melão ou a fossemos esmagar no bolo de aniversário.
E até que funciona.
Recapitulando: embalá-lo, colocá-lo na cama, e já está! Certo? Errado. Ainda temos de sair do quarto… Portanto temos de aprender a
Dominar a arte de sair do quarto silenciosamente
Não se deixem enganar pelo título (tecnicamente é um subtítulo), porque não há nada de arte nisto. É mais uma coreografia desajeitada em que um adulto com privação de sono diz palavrões no escuro por ter pisado o boneco que faz barulho no momento em que se afasta do berço; ou quando, ao fechar a porta, se desconcentra no último segundo e a fechadura faz aquele *clique* assassino.
A solução? Decorar todos os focos potenciais de barulho no percurso às escuras entre a cama – porta do quarto. Todas as esquinas de móveis, a madeira que range, a velocidade a que convém rodar a maçaneta e a força com que é preciso segurar a porta para o trinco não fazer barulho.
E depois, podem finalmente juntar-se à vossa cara-metade na sala, jantar, beber um copo de vinho, e adormecer no sofá enquanto um undercover boss de bigode postiço, oferece viagens e aumentos aos empregados mal pagos e mostra às pessoas que coisas boas só acontecem na televisão.
Ou no YouTube:
Claro que o sono não dura muito tempo, porque o mais provável é ele voltar a acordar e lá temos de aprender outra técnica, que é
Dominar arte de voltar a entrar no quarto
A primeira coisa a ter em mente é que estamos numa corrida contra o tempo. Normalmente começa com um gemido (que achamos sempre que pode haver a esperança de não ser mais do que isso) e temos aí um, dois minutos até à coisa descambar numa berraria mais difícil de adormecer. E isto várias vezes numa noite.
Neste ponto, com base numa larga experiência pessoal, passo a explicar tudo o que não devem fazer nestas situações:
1. apunhalar-lhes a cara repetidamente com a chucha porque no escuro não conseguimos acertar na boca.
2. cegá-los com a luz absurdamente agressiva da lanterna do telemóvel quando tentamos ver onde está a boca deles.
3. levantá-los da cama para pegar-lhes ao colo quando estão com um pé preso no meio das grades da cama (tornando-o num pé entalado).
4. Rir para eles.
5. Ficar também a chorar no escuro enquanto uma criança que acabou de ser agredida / cegada / sobrestimulada se recusa a voltar a adormecer.
Não admira que cheguemos a adultos e depois precisamos de comprimidos para dormir. Pais e filhos.
No entanto, se também tiveram a nossa sorte, acreditem que há um dia em que vai bastar entrar lá, por-lhe a chucha na mão, fazer um festinha na cabeça e vêm logo embora. Acreditem.
Em recém-nascido, antes de tirar o leite com a bomba e dar-lhe com o biberão o rapaz não dormia mais do que uma hora seguida. E o secador foi o nosso melhor amigo. Mal saí da maternidade experimentei em casa e ele parecia que ficava automaticamente sedado. Cheguei a dormir várias noites com o barulho do secador vindo do telemóvel. Ao que parece o útero tem um som igual. Vai-se lá perceber. Agora é ele que vem ter connosco à cama durante a noite. Pelo menos é ele que se levanta, menos mal 🙂
Tentámos alguns barulhos (mar, white noise, etc.), mas por acaso não esse, e sem grande sucesso. O Mexi (e a Xica vai pelo mesmo caminho) odeia deitar-se na nossa cama; o que tem alguns pontos positivos, mas por vezes complica as coisas. :}
Errado 🙂 O mundo divide-se entre pais que se gabam de os seus filhos dormirem a noite toda e pais que os odeiam por isso. SOU DO PRIMEIRO GRUPO yeah! O meu bebé fez hoje 12 dias que dorme a noite toda sem precisar de mamar muahahahahahaha é espectacular. Até aqui foi um tormento, um pesadelo como costumas dizer e era tal e qual o que aqui descreves, incluindo o ritual de ouvir os primeiros gemidos (ou latidos é o que me soam a mim) e tentar só entrar de mansinho às escuras pôr-lhe a chucha, sem sucesso, e por fim com ele aos berros acabar por lhe dar de mamar (isto uma data de vezes por noite). Bem haja ao pai do meu bebé que foi incansável a descobrir a melhor posição para o embalar (no nosso caso era na posição vertical, dentro do sling, porque ele sofre muito de refluxo) e dicas na net. O meu também odeia estar na nossa cama, não sei se é dele ou se culpa nossa, que o recambiámos para o quartinho dele logo na segunda semana porque eu não conseguia adormecer nem uns minutinhos com ele ali ao lado, porque os bebés não são nada silenciosos a dormir e eu estava sempre a levantar a cabeça para ver se ele estava bem.
daqui a 2 semanas vou à consulta dos 3 meses e vou-me armar em importante ehehehe (como se o mérito fosse meu e não uma questão de pura sorte, para além do que isto pode não colar)
O mérito será do bebé, portanto parabéns para ele! 🙂
Rotinas! Para mim o mais importante, ate que se existirem rotinas na altura de ir para o colégio (se for essa a realidade) o bébe nao sofrerá tanto. Mas quando recem nascidos? as rotinas sao importantes. Fazer todas as sestas (sono trás sono) Não os mantenham acordados ate a noite a pensar que vao estar mais cansados e dormir melhor. Eles vão estar mais cansados sim, mas vão dormir pior porque estao com birra do sono e assim é muito mais complicado. So posso aconselhar aquilo que resultou comigo. COmprei o livro – Como ensinar o seu filho a dormir em dez dias, e a verdade é que seguindo o livro quase á risca, connosco resultou. Não houve uma noite desde que ele nasceu ate hoje que possamos dizer que foi uma má noite. As noites passam a ser diferentes porque comem de tres em tres horas mas enfim… dava para descansar nesses intervalos. Podem usar uma tecnica a ver se resulta (que vem explicada no livro). Uma app para telemovel – White noise. Tem varios sons. Nós usámos o som do chuveiro. ate para nos era bom! Tivemos muita sorte é verdade, tivemos uma criança sem colicas nocturnas porque desde que nasceu que aplicavamos no birerão coliprev. Foi uma boa experiencia e continua a ser! Boa sorte a todos
Olá Miguel, num registo mais sério, também acho importante que se criem rotinas, desde que não sejam impostas (sobretudo em bebés muito pequeninos, que têm os seus ritmos próprios). Pelo que tenho lido e observado, de facto cada bebé é um bebé e, nesse sentido, não me identifico muito com receituários de imposição de regras de habituação, sobretudo quando envolvem crianças com menos de um ano. Também recomendo o investimento nas sestas, sobretudo a questão de não os deixar passar o “sweet spot” do sono, às vezes é uma janela de 10 minutos, depois disso piora consideravelmente.
Em relação ao livro, não conheço bem, mas das referências que tenho não me identifico muito com o conteúdo. Também tentámos o white noise, não foi na conversa (ou ruído). 🙂