Passei a maior parte da semana passada numa cidade romena a discutir assuntos impossíveis de explicar por gifs animados. A meio da semana, e a um dia do Dia do Pai, os pilotos alemães entraram em greve, e achei que esse quase oxímoro (uma greve feita por um “país trabalhador”!) me fosse impedir de estar presente no evento na escola do Mexicano.
Felizmente, uma noite extra no país do Drácula não impediu o meu regresso atempado a um simpático lanche oferecido pela escola a um grupo de pais desconfortáveis que faziam conversa de circunstância enquanto se tentavam equilibrar em cadeira minúsculas. Mas a possibilidade de faltar ao Dia do Pai na escola conjurou uma série de sensações de culpa que me prejudicaram tanto o sono como a diferença de duas horas entre Lisboa e Timisoara e discussões sobre adoção de standards técnicos.

Passar umas noite numa cama desconfortável de um quarto de hotel com uma alcatifa do tempo do Ceausescu, imaginando o Mexicano como uma criança orfã do Dia do Pai na escola, levou-me a pensar na utilidade, ou no sentido, de haver um Dia do Pai de celebração obrigatória na escola.
Calma, pessoas que me encheram o Facebook de fotografias desinteressantes, nada contra a existência de um dia do pai. Havendo um dia do peixe-boi, não há nenhum argumento bom para não haver um dia do pai. Só tenho dúvidas é se o dia do pai deve ser celebrado nas escolas. Celebrado com acontecimentos que dependem exclusivamente da presença de uma pessoa para terem sucesso. Sendo que pode haver bons, razoáveis, motivos para essa pessoa não estar presente. Pode ter de trabalhar (porque não é feriado). Pode ser um anormal. Ou pode simplesmente não existir (por boas ou más razões).

É neste momento que sinto o espírito de um daqueles comentadores de jornal a imiscuir-se na conversa a dizer que as crianças têm é de aprender a lidar com os problemas!!!!!!, assim com imensas exclamações. Está certo. E ter um pai ausente não tem de ser um problema, até pode ser uma benesse. O problema aqui é a escola vender a ideia de um dia feliz para os meninos cujos pais podem aparecer na escola às quatro da tarde. Para os outros – azar.
Eu sei que foi sempre assim, e ninguém morre por isto (outro argumento de comentador exclamativo). Mas a sociedade já é exclusiva o quanto baste, a escola pode fazer o papel contrário. A primeira escola do Mexicano substituia os dias do pai e da mãe por “dias da família”. Havia um lanche para toda a gente e uma actividade para um dos pais e a criança. Ao início parecia-me uma curiosidade meio hippie, mas agora parece-me fazer imenso sentido. Achava que com a idade era suposto a pessoa ficar mais tradicionalista e conservadora. Ainda bem que não tem sido assim.

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