Há uma tendência para vilificar o impacto da televisão nas pessoas e, sobretudo, nas crianças. De certa forma, é compreensível que assim seja. A televisão é um meio particularmente passivo, que nos prende a atenção e nos prega ao sofá. Além disso, embora consiga atingir o sublime, grande parte do conteúdo que transmite é lixo. A sua universalidade torna-a num alvo fácil.
Também é verdade que faz cada vez menos sentido falar em “televisão”, excepto na acepção física do objecto. Eu hoje posso ver uma série no meu telemóvel, no tablet, na televisão ou no computador. A mesma coisa com qualquer filme que estreie no cinema (embora com qualidades variáveis). Por isso é que se fala em “tempo de ecrã”.
Esta profusão de ecrãs pode ser um bocado assustadora, mas também tem um lado positivo. É raro falar-se na “magia da televisão”, mas outro dia senti que houve aqui um momento mágico em casa, daqueles que envolvem a capacidade de espanto das crianças e também nos fazem regressar à infância.
Já falámos da obsessão do Mexicano com animais, obsessão essa que também inclui dinossauros. Xixauros, para ser mais correcto. De vez em quando lá vemos uns pequenos filmes de animais na televisão, mas os dinossauros tem estado confinados ao papel e aos bonecos. Foi aí que me lembrei que podia ser giro vermos a cena do Jurassic Park em que eles encontram os dinossauros pela primeira vez (não é a cena do Tiranossaurus Rex a comer o gajo na sanita).
Pesquisei no YouTube e pus o vídeo a passar na televisão.
É claro que ele não percebeu o inglês, nem se riu da ideia que tínhamos da roupa que um paleontologista vestia nos anos 90, mas assim que o Dinossauro aparece pela primeira vez no ecrã eu vi os olhos dele a arregalar e a boca a inspirar de espanto. À medida que a câmara subia para mostrar o tamanho do dinossauro em relação às árvores a única coisa que ele conseguiu dizer foi: “olha, pai… XIXAURO MUITO GRANE!”. Foi um momento incrível.
A magia da infância encontrou a magia do cinema vivida através da magia do YouTube projectada na magia da televisão assinada pelo Steven Spielberg. Pode ser.
A memória desse espanto maravilhoso foi quando levei o meu filho pela primeira vez ao cinema, ver “Kenai e Koda”. Tinha ele dois anos quando decidi levá-lo à sessão das 11h, no Vasco da Gama. Comprámos pipocas e ice-tea (tinha de ser o ritual todo) e preparei-o para que não tivesse medo quando a sala ficasse às escuras. Assim que as luzes se apagaram e surgiram bonecos no écrã, os olhos dele brilharam e ele ficou apanhado. É uma paixão que dura, tanto que ele não liga nenhuma a televisão, mas a filmes… Ui! É o melhor companheiro de cinema que se pode ter.
Quanto a essa cena do Jurassic Park… Fui à estreia, à sala 4 do Monumental, quando este cinema ia estrear o Dolby System. Foi maravilhoso! Ainda hoje esta cena me leva às lágrimas (sim, tenho 40 anos, sou mulher e tenho a mania dos dinossauros), e já vi o Jurassic Park mais de 15 vezes (não estou a exagerar).
Obrigada por esta lembrança, da primeira vez de cinema de um filho.