A Caderneta dos Animais

animais panini 2015

O meu pai ofereceu ao Mexicano a sua primeira caderneta de cromos. Mesmo que ainda só tenha dois anos, a temática, e o nome, são perfeitos: Animais. O Mexi é obcecado por animais, sobretudo “os da Selva”, e descobriu recentemente o prazer de colar cenas, portanto é um presente ideal. Claro que também a mim a ideia da “caderneta de cromos”, e o símbolo tosco (e inalterado) da Panini, me remeteram para aquele centro de dia nostálgico-infantil que a nossa geração tanto gosta de frequentar.

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Calem-se com isto, pá.

Mas depois o meu outro lado (irritante?) entrou em acção. Primeiro pus-me a pensar nos engenhos manipuladores que estão por trás de uma colecção de cromos. O primeiro apela ao impulso de jogo do ser humano. A lotaria e o desconhecido de comprar uma carteirinha e não saber o que está lá dentro. Sobretudo quando a colecção se aproxima do fim, o rasgar o papel é quase como ouvir os números de um sorteio – é quase tão viciante como o acto de colar os cromos em si.

Colar os cromos é o segundo, claro. A nossa veia de gostar de encaixar e arrumar cenas. De trazer ordem e arrumação à página incompleta. O ser humano adora encaixar. O terceiro é o apelo às nossas pulsões completistas. À compulsão, quase obsessiva, que algumas pessoas têm em não deixar nada por acabar. Aqui já não é toda a gente, há quem acabe por desistir, indiferente aos espaços em branco (tipo eu). Mas até lá já se gastaram rios de dinheiro a comprar cromos.

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Afinal, esqueçam, a nostalgia é uma coisa espectacular: Mexico 86 – a minha primeira caderneta ‘séria’. :’)

E, claro, há também o facto da própria caderneta ser interessante (ou sobre um assunto interessante). Vê-se que esta Caderneta Animais 2015 assenta num trabalho bem feito, os conteúdos são divertidos, estão fundamentados e até têm um certo pendor ecológico que irritará negacionistas do aquecimento global (e ainda bem). A qualidade das imagens é que não é muito consistente. Há fotografias com más composições, pouco contraste ou tons manhosos. Não são a maioria, mas esperaria um pouco mais. Também tem uma secção que utiliza Realidade Aumentada, mas ainda não tive paciência de experimentar. Mas no geral a qualidade é positiva.

Agora a caderneta também apresenta uma clara rentabilização daquilo que na gíria se chama o “encher chouriço”. São quase 400 autocolantes, e alguns encontram-se repartidos por secções ou formatos idiotas, como: o Ano do Gato (com um cromo de um gato por mês), cromos do tamanho de moedas com pássaros quase indistinguíveis entre si, “Marca Animal” ou “Animais Dançantes”.

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E isto. A secção “Marca Animal”. Gelados para gatos. A sério, Panini?

Fazendo as contas, a colecção completa fica aí por volta dos 60-70 €, ou bem mais, considerando algumas trocas e pedidos de cromos. Não é barato. Um livro de animais com boas imagens é capaz de sair mais barato, mas não tem a experiência. A experiência é capaz de valer a pena, desde que eles aprendam que na vida não é preciso levar tudo até ao fim. Ou devia ser ao contrário?

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2 Comments

    • Pois, a máfia de Don Panini. E sempre com gelados para gatos? Ou se calhar todos os anos fazem ‘brainstormings’ criativos.

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