A saga do Pré-Nascimento (da segunda vez)

Aí há uns dez meses atrás: Ana: “devíamos começar a tentar”. Eu: “Inscrevê-lo num colégio interno?”.  Olhar fulminante. “Já falámos sobre isto”. “Certo, certo, só não sei se é boa altura, devíamos deixar este começar a estabilizar o sono, li que isso acontece a partir dos 16 anos, e além disso agora que ele está a ficar mais independente, não devíamos aproveitar?”. “Calma, ainda pode demorar a acontecer, estas coisas demoram tempo…”.

Isso foi um piscar de olho?
Isso foi um piscar de olho?

Aí há uns nove meses atrás: “estou grávida!”.

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Também não sei o que é esta reacção, mas foi isto.

Primeiro trimestre tudo ok. A “ecografia das doze” mostrava uma menina com todas as medidas certas (para alguém que não mede mais do que o meu polegar). Até dou por mim a pensar que a segunda gravidez se vive de forma menos intensa: já não é novidade, e estamos distraídos com a criança de ano e meio em casa (e os dois cães). A segunda vez vai ser bem mais tranquila.

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Quando estou errado é sempre de várias maneiras.

15 semanas – descolamento de placenta. Sangue, drama, a Ana internada, eu em casa com o Mexicano, e os cães que começam a ficar afectados pela redução de passeios. O Mexicano pergunta pela mãe, um dos cães faz uma poia no meio da sala, ao segundo dia o Mexicano adoece, e o outro cão faz uma poia no meio da cozinha. O Mexicano pergunta pela mãe, eu digo que a mãe foi passear e que já vem, ele chora, e eu também. O post fotográfico que tinha planeado para o blog, a anunciar o segundo filho, teve de ser adiado.

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Era daqueles posts de “na minha cabeça parecia ser uma boa ideia”.

5 meses – parece que já está tudo mais calmo, vamos à “ecografia das vinte” (que na realidade é às 21…), confirma-se a menina, confirmam-se os vinte dedos, tudo parece estar bem, “uh oh, estes índices da circulação uterino não sei das quantas não são bons”. Afinal há risco de pré-eclampsia. Vou ver o que é pré-eclampsia ao Google.

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E apanhei a pré-pré-eclampsia.

6 meses – Dores, drama, a Ana não se consegue mexer,  volta a passar umas noites no hospital. Eu em casa com o Mexicano que também esteve doente. Descobrimos que a Ana passou por uma mononucleose + uma infecção renal + um episódio de vírus coxsackie. Perante isto, aguentou-se estoicamente. Eu tive uns dias em que tive de fazer tudo como fazem todos os (heróicos) pais solteiros, e achei que não sobrevivia.

7 meses – A cena intra-uterina passou. Vamos poder ir de férias.

8 meses – Regressamos de férias. Um mês para preparar a casa para a chegada da bebé. Um mês para arranjar e preparar o regresso à escola do Mexicano. Depois de quatro meses alucinados e um regime de férias familiares, fazemos planos para deixar o Mexicano nos avós, ir jantar fora a um sítio giro e ir ao cinema (depois de dois anos).

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8 meses + 1 dia – A Ana cheia de contracções, vamos para as urgências. Lembro-me de estar na sala de espera das urgências, a trocar mensagems no What’s App, ela a dizer-me “vai acontecer”, eu em negação “se calhar são aquelas contracções falsas, aquelas do Bosão de Higgs”. “Não, estúpido, estou com seis centímetros de dilatação, e é Braxton Hicks”. E eu: “calma, se calhar são aquelas dilatações falsas…”.

Lá me mandam entrar. A Ana a passar-se porque não lhe iam dar epidural. A enfermeira a passar-se porque a Ana dizia que sem epidural era impossível. Eu a ter uma quebra de tensão porque não comia nada há 5 horas.

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E ninguém para me agarrar.

Mas calhou bem porque a Ana focou-se na minha anormalidade e esqueceu a dor. Dez minutos depois estava um bebé minúsculo pendurado de cabeça para baixo nas mãos do enfermeiro. “Pai, quer cortar o cordão umbilical?”. “Não, obrigado, mas já comia qualquer coisinha….”. A Ana revira os olhos, a bebé chora, e pensamos todos: “lá vamos nós outra vez”.

 

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19 Comments

  1. As pessoas não sabem, mas isto de ter filhos não é coragem, é certamente falta de oxigenação momentânea no cérebro.
    Agora a sérioooo, que corajosos, pá! 😀 (lol…)

    É sempre bom poder olhar para as coisas com humor, às vezes é aliás a única maneira de manter alguma sanidade, focamo-nos no “o melhor do mundo são as crianças” e ouvimos o We are the world e num piscar de olhos estão na faculdade. Os dois. (Propinas \o/).

    • mesmo quando chegarem à adolescência e passarem o dia trancados no quarto… já é um pouco de sossego. 😀

  2. ah então foi por causa dessas dilatações falsas que eu tive que fazer cesariana???
    ó pá… agora a sério… genial… as contrações de Bosão de Higgs são igualmente hilariantes!!!
    tudo está bem quando acaba bem… ou então não, porque na verdade ainda está só a começar muahahahahahahahahah (risada maquiavélica)

    e sabes o que é mais disparatado no meio disto tudo e mesmo depois de te ler? é que estou cheinha de vontade de ir ao 2º round!!!

  3. Parabéns a ti e à Ana.

    Parabéns só a ti por este magnífico texto e pelas animações. De génio.

    Um abraço,

    filipe canas

  4. Lapeics, descrição hilariante! (apesar dos dramas, que já passaram 🙂

    Muuitos parabéns aos dois e muitas felicidades para os 4!

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