The Mexican Report – 20 meses: a fase do não, a técnica gastronómica e a derrota na pista de dança

Os avanços mais significativos no crescimento do Mexicano nos últimos meses são as várias maneiras com que sabe dizer a palavra não. Desde o nãaaaaao mais enfático com que me recebe quando lhe digo olá ao chegar a casa ao não mais displicente quando lhe pergunto alguma coisa. Já me começo a arrepender – e nós sabíamos que isto ía acontecer – de lhe ter elogiado a busca pela independência.

Isto é ele à hora do banho.
A hora do banho cá em casa.

No entanto, parece-me que a causa para esta fase não não é só a necessidade de afirmação. Acho que também é uma reacção ao excesso de perguntas que lhe fazem. Por exemplo, acho que não passa pela cabeça de ninguém perguntar a uma criança de 8 anos se quer ir lavar as mãos ou ajudar a arrumar os brinquedos. Mas tenho reparado que temos uma grande tendência para perguntar a crianças de ano e meio, dois anos, se querem fazer isto ou aquilo, se quer ir à escola, se quer comer, ou se quer parar de apontar para estranhos na rua e perguntar se são o Mickey Mouse. Se calhar é boa prática pedagógica, mas por outro lado o não também pode querer dizer ‘pára de me fazer perguntas estúpidas’.

"Então, vais comer esse gelado?"
“Então, vais comer esse gelado?”

Mas um não ocasional não tem sido o maior dos meus problemas. A relação do Mexicano com o sono, reforçando o carácter irónico da alcunha que lhe demos, continua pouco simpática. As sessões de adormecimento podem levar de 30 a 60 minutos, e acabam sempre com um dos pais (ultimamente tenho sido eu) a sair esgazeado do quarto dele com uma sensação de desespero feliz por poder finalmente aproveitar o alone time do dia (a parte do desespero também sou mais eu).

Também sinto que já falta pouco para acabar com o hábito terrível de dizer a idade dele em meses. Vai ser um pequeno passo no longo caminho de regresso de parecer uma pessoa normal, mas por enquanto ainda não consigo. É que, utilizando outro cliché de pai, a diferença de mês para mês é avassaladora. Outro dia já estava a jantar praticamente sozinho, concentradíssimo entre o frango, os bróculos e o arroz, franzindo o sobrolho a cada garfada com a picuinhice de um juiz de masterchef. E isto tudo com o garfo numa mão e a colher na outra, tal e qual um turista labrego em itália. Claro que me emocionei.

Há técnicas piores.
Há técnicas piores.

Por outro lado é inevitável as tendências para comparar com outras crianças. Felizmente sou um introvertido, porque sempre que vejo um miúdo na rua que pareça estar algures nesta idade, apetece-me logo saber quantos meses tem e o que já consegue fazer. Perguntar algo do género: “olá, o meu Mexicano tem 20 meses, tira as meias antes de adormecer e outro dia viu um guindaste e disse que era uma girafa. E o seu, o que faz?”. Claro que cada criança tem o seu ritmo, mas a comparação são inevitáveis.

Ainda no fim de semana passado estivemos numa festa de aniversário, e havia uma miúda aí uns dois meses mais nova do que ele, que já dançava com movimentação de pés. Movimentação de pés! As danças do Mexicano, embora com grande feeling e algumas variações a nível de membros superiores (outro dia ensinei-lhe a fazer a saudação ao DJ), são sempre feitas com os dois pés bem assentes no mesmo sítio. Como aqueles manfios de óculos escuros que subiam para cima das colunas e ficavam lá horas. Fiquei arrasado, mas já estamos a tratar do problema.

Mesmo sabendo que o caminho é árduo.
Mesmo sabendo que a concorrência é feroz.

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7 Comments

  1. Quando os pais fartam-se do “Não” (muitas vezes acompanhado por birras lamentáveis), deixam de perguntar e passam a mandar… irão chegar lá ;)!
    Nem quero pensar se aos 20 meses ainda demorasse 30 a 60 minutos para adormecer as minhas filhas, eu, tenho a certeza, ficaria desesperada (talvez até mais do que o meu marido). Força aí!
    Ah e deixei de dizer a idade em meses logo a partir dos 12 meses porque nunca percebi muito bem a necessidade de o fazer quando posso simplesmente responder: “Tem 1 ano” (e porque tinha sempre que parar para pensar e contar os meses perante a expressão incrédula das outras pessoas, assim nunca me engano…)

    • Sim. O corte nas perguntas já começou, ou então acontece tudo muito rápido entre “pergunta -> não -> afirmação”. 🙂

      Uma vez li uma abordagem interessante, para miúdos mais velhos, em que a mãe dava sempre a “ilusão” quando um miúdo se recusava a fazer algo, do género: “ou vais para a casa de banho para te preparares para tomares banho, ou eu vou aí, agarro-te e levo-te para a casa de banho para tomares banho – escolhe”. Tem alguma graça.

      • 🙂 Também é um pouco a nossa estratégia! Desde que ele começou a querer fazer tudo sozinho (porque com ajuda é uma infâmia, ele já é muito, muito, muito crescido!!!) damos sempre as opções: queres ir sozinho ou levo-te eu ao colo? Ui!!! O orgulho fala sempre (muito) mais alto!! Faz sempre e, claro, sozinho!! 😉

  2. O meu filho, com 10 meses, há uns dias para cá que passa a vida a abanar a cabeça como se estivesse a dizer não. Digo como se estivesse porque o rapaz não faz ideia do que está a fazer mas vai-se lá perceber porquê, a negativa já lá está. Pois bem, eu pergunto “gostas da mãe?” e ele abana “não”. Portanto a estratégia é “não consegues viver sem a mãe?” e assim ficamos todos felizes. Também funciona com clubes. Como somos do sporting, só lhe perguntamos se ele é do Porto ou do Benfica. Fazendo a ponte com o mexicano, podem sempre dizer, “queres ficar acordado a noite toda?” 🙂

  3. não me posso queixar, tenho um daqueles rebentos que nem de encomenda, mas posso dizer que aos 3 anos e meio ainda levo entre 30 a 60 min para adormecê-lo… porque ele não quer adormecer sozinho e só conseguimos sair do quarto sem choradeira depois de ele estar realmente ferrado! se conseguires contrariar já isso, melhor para ti!

    • Não sei como vai ser aos 3 anos e meio, mas conheço bem a sensação de demorar 30 minutos, sair do quarto dele (em modo ninja) e ouvir um “olha, hoje foi rápido”. 🙂

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