Férias: Parte III – 4 realizações sobre as férias (e um bebé que cheirava a peixe)

(nota: este é o terceiro post de uma trilogia sobre as primeiras férias com um filho bebé,  podem ler a Parte I aqui, e a Parte II aqui)

A terceira semana foi passada no Algarve, em família alargada, regime de pensão completa (um tecnicismo para dizer que comíamos em casa), e com direito a praia todos os dias. Foi a semana que mais se aproximou daquela velha ideia de férias como um período de vida despreocupada, livre de compromissos e recheada de ideias de liberdade. Digo aproximou porque eu sei, e vocês também sabem, ou imaginam que sabem, que essas férias acabaram. Pelo menos até eles irem para a Universidade.

Não quer dizer que sejam más, e faço questão de dizer isto porque ando a tentar fazer um esforço para ser mais positivo nas coisas que escrevo, mas são diferentes.

E como na terceira parte é suposto fazermos uma espécie de conclusão, partilho convosco as quatro realizações que tive nas primeiras férias com um bebé:

#1 – A praia agora é para os meninos.

Nunca fui grande fã de fazer praia. Não é não gostar de praia, mas ter uma tolerância de cerca de 3 horas à praia. Sempre vi a praia como um óptima oportunidade para fazer três coisas: dar uns mergulhos, ler e descansar. Durante muitos anos a praia também foi um óptimo cenário para ressacar. Eram tempos em que também havia poucos telemóveis com máquina fotográfica, portanto era raro ver fotografias com pés e mar ao fundo. Era bons tempos.

A praia também é um óptimo sítio para tirar fotografias e deixar cair bebés.
A praia também é um óptimo sítio para tirar fotografias de família. (fonte: http://imgur.com/yqkxlbA)

Com um filho pequeno a praia torna-se numa óptima oportunidade para passar todo o tempo a olhar para e por ele, e, nos intervalos, tentar encaixar um mergulho ou outro. A praia como espaço de ócio acabou.

Um dia somos o gajo que chegava à praia às seis da tarde, corria para dentro de água e esperava que a ressaca começasse a passar. Hoje, sou o tipo que insulta o estúpido que me molhou quando se atirou para dentro de água feito anormal, enquanto estou à beira-mar a lavar tigelas de iogurte com banana, e a tirar a areia de baldes.

#2 – Encher bagageiras passa a ser uma ciência

De certeza que há uma lei da Física que diz qualquer coisa do género: “quando um casal se transforma em família as necessidades de bagagem do mesmo não crescem proporcionalmente, nem exponencialmente, crescem anormalmente.”

Quando vi que o facto de termos uma criança de 10 meses implicava levar: uma mala de roupa, uma mala de passeio, uma mala de cremes e champôs, um saco de brinquedos, dois pacotões de fraldas, uma cama de viagem, um colchão para a cama de viagem, duas toalhas de praia e duas toalhas de banho, talvez tenha expressado a minha indignação de uma maneira algo brusca.

A Ana olhou-me com aquele ar que já conheço bem de quem está a olhar para um anormal, e disse-me: “podes deixar cá o que quiseres, mas assumes tu essa responsabilidade”.

A reacção de um homem quando tem de assumir responsabilidades.
Um homem quando tem de assumir responsabilidades.

E depois reparei que eu próprio levava uma mala de viagem com roupa, uma mala de viagem com um computador portátil e livros, uma mochila com livros, uma mochila com a máquina fotográfica e com as lentes da máquina fotográfica, um saco mais pequeno para levar a máquina fotográfica fora da mochila, um saco com um tripé para a máquina fotográfica, a pasta do iPad, e um saco com utensílios variados de cozinha (preciso da minha Global Knife sempre comigo), achei que era melhor estar calado.

#3 – Amigos sem filhos, só os vemos no lusco-fusco.

Cerca de metade do nosso grupo de amigos ou ainda está solteiro ou sem filhos, felizmente. Não digo felizmente porque lhes deseje uma vida de celibato ou de ignorância em relação às maravilhas da paternidade (ando a abusar dos itálicos, eu sei), mas porque é óptimo para a nossa saúde mental poder interagir com pessoas que não sabem o que é bebegel e que nos possam contar histórias fantásticas desse reino longínquo que passou a ser a noite lisboeta; onde oiço dizer que as pessoas pagam 15 € por gins com fruta do bosque(?) e o Incógnito continua a ser dos poucos sítios onde se pode dançar música decente.

O único problema é que é difícil combinar coisas com essas pessoas. Quando eles estão a acordar já nós estamos a rezar para o miúdo dormir pelo menos uma hora na sesta do almoço, e, à noite, enquanto nós bocejamos e pensamos se cometemos uma loucura – tipo beber um café -, eles ainda estão a pensar onde é que vão jantar. A única maneira de os ver é ao fim da tarde, na praia, trocar uns dedos de conversa, e despedirmo-nos com um diálogo deste género:

Eles: e se fossemos ali àquela esplanada comer um pica-pau, beber umas imperiais e pensar a que festivais vamos assistir este ano?
Nós: Ah, não vai dar, fica tarde para nós, porque ainda temos de ir para casa aquecer sopa, cozer meio bife e umas ervilhas, para depois dar-lhe banho e discutir se ele dorme só de fralda ou de t-shirt.

A solidariedade das pessoas sem filhos é enternecedora.
O nível de interesse das pessoas sem filhos pelos dilemas das pessoas com filhos.

#4 – Dormir com uma criança no quarto que já se consegue levantar na cama e ficar a olhar para nós é completamente diferente do que dormir com um recém-nascido.

Acho que o título diz tudo. Mas se não disser:

Há razões para ninguém recomendar baby monitores com camera de filmar.
Existem boas razões para ninguém recomendar baby monitors com câmera de filmar. (fonte: dangerousminds.net)

Mas não deixou de ser uma boa semana de férias. O único percalço foi o Mexicano ter apresentado sintomas daquilo que pareceu ser uma reacção alérgica ao peixe, que consistia em que o bebé cheirasse a peixe o dia inteiro. Eventualmente passou, e hoje já come peixe sem problema, mas naqueles dias foi complicado, porque, confesso, andei a evitar levá-lo até à água, com medo que isto acontecesse:

Entre transformar-se em peixe
Entre transformar-se em peixe ou em Rob Schneider, não sei o que seria pior.

 

Como eu dizia lá em cima, as férias com filhos pequenos não são necessariamente más. São só diferentes. Diferentes, para pior, mas ainda assim em espectacular, porque não se tem de ir trabalhar.

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9 Comments

  1. Férias com filhos pequenos, não são férias, são outra coisa qualquer que nem sei se já deram nome, talvez “missão parental para criar recordações felizes com os seus filhos pequenos, para mais tarde terem provas de que tudo fizeram para que tivessem uma infância feliz e se tornassem adultos psicológica e emocionalmente equilibrados”. Há dois anos (já eu tinha duas pequenas) e cheguei a ficar realmente contente quando voltei ao trabalho!!!! No primeiro dia ia cansadíssima (mais do que se tivesse trabalhado a semana toda)… Valem as fotos sorridentes que meses depois quando as vemos pensamos: estas férias foram mesmo boas!

    • E, de facto, esse fenómeno da memória positiva a posteriori, é muito comum em várias dimensões da parentalidade. Por isso é que eu vou anotando algumas coisas. 8)

  2. Excelente texto!!! O que eu já me ri com tão grande e genial clarividência!!! 😀 Mto bom!!!
    E estou totalmente solidária!… 🙂
    De qualquer forma, acho que o importante é ir ajustando as expectativas… as próximas serão melhores! 🙂

    • Temos sempre de ser positivos. 🙂 E , por falar em Survivor, outro dia descobri que nos EUA já vai para a 28a série… Podiam começar a variar com a edição Survivor Extreme: your kids are coming with you.

    • Não estou com muito medo do Natal. Talvez esteja a ser um pouco incauto, mas tenho alguma esperança que vá dando para recorrer ao “olha aqui pelo teu neto, bisneto, sobrinho, primo”. Acho que ano passado até foi tranquilo, mas ele aí não era muito interactivo. Vamos ver. 🙂

  3. A boa noticia é que os amigos que não têm filhos começam a dada altura a ter, e aí os horarios dos petiscos começam a ser compatíveis com as crianças!

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