Férias: Parte I – A Primeira Semana

Este ano decidi tirar três semanas de férias seguidas. É raro tirar três semanas de férias, mas como a Ana só pode tirar férias em Agosto, achei que devia aproveitar. Três semanas de férias também me pareceu boa estratégia para tentar recuperar energia, depois de um primeiro ano de paternidade, e para poder ir para longe daquele sítio que algumas pessoas chamam local de trabalho, mas a que eu prefiro chamar Mordor.

Hipérbole é a tua mãe.
Hipérbole é a tua mãe.

Também foi a primeira vez que tivemos de planear férias com um número de variáveis considerável, tais como: um bebé de 11 meses, um cão normal (para cão), um cão psicopata (para besta demoníaca), a natural contenção orçamental dos tempos que correm, e uma tese de mestrado para acabar escrever.

A primeira semana

Na primeira semana decidimos alugar uma casa não muito longe de Lisboa, onde pudéssemos estar os cinco (nós os dois, o bebé, os dois cães, e a minha sogra).

As expectativas não estavam muito altas. Que os filhos estragam as férias aos pais, já toda a gente sabe. Basta virem connosco. O Louis CK tem uma óptima piada sobre isso, que o Seinfeld, contra a lógica sagrada do universo da comédia, até consegue melhorar.

Mas ainda é mais aborrecido quando, além de aparecer nas férias, os filhos decidem adoecer. Os dois primeiros dias foram passados com os primeiros episódios de febre do Mexicano, que, estando em plena fase de olha mundo acho que já me consigo pôr em pé, andou a cambalear (e a tombar) febrilmente pela casa como um velho bêbado.

A febre passou dois dias depois, sem que chegássemos a perceber a causa. Provavelmente terá sido um vírus. Temos de perceber que alguém que passa o dia inteiro a gatinhar e a pôr porcarias na boca, tem mais probabilidade de apanhar doenças.

Adivinhem quem é que também tem esses tipos de problemas.
Certo?

Claro que, para os especialistas (toda a gente), a causa são os dentes. É que mesmo que os dentes do Mexicano só tenham começado a aparecer lá para os 10 meses, desde os 4 meses que são a causa de tudo e mais alguma coisa:

Está a babar-se muito? Dentes.

Está mal disposto porque dorme sestas de meia hora ? Dentes.

Chorou quando a tia do cabelo roxo lhe espetou a unha no olho? Dentes.

E, como até foi explicado recentemente no blog do João, os dentes não serão a causa de tudo.

Agora um exercício divertido. Adivinhem o que pode ser mais aborrecido do que um bebé de dez meses com 39 graus de febre, a tentar dormir num quarto desconhecido em que estão 32 graus, e em plena fase de “mal me ponhas na cama vou levantar-me e ficar a olhar para ti com ar de quem se esqueceu onde está?

Que tal um cão psicótico que, ao ínfimo sinal de outros cães, desata a correr e a ladrar pela casa toda como se estivesse prestes a ser atacado por uma matilha de lobos? Isto quando numa daquelas terriolas onde há um cão a cada 50 metros, e que faz questão de ladrar de cinco em cinco minutos.

Sim, estamos a falar de ti.
Sim, Paco, estamos a falar de ti.

Os primeiros dias de férias foram passados, em casa, a tratar um bebé com febre e a gritar com acalmar o Paco. Uma das noites estávamos tão cansados, que, por engano, enfiámos um supositório no Paco e atirámos um biscoito à cara do bebé. Surpreendentemente, ou não, por momentos, ambos pareceram ter ficado melhor.

Entretanto, a meio da semana, quando nos preparávamos para planear a primeira ida à praia pós-febre, a Ana, na tentativa de prevenir mais um ataque psicótico de certo cão, resolveu esborrachar o dedo mindinho numa espreguiçadeira. A boa notícia foi que o cão não ladrou. As más notícias foi que a Ana teve de ir ao centro de saúde fazer um penso, levar uma injecção contra o tétano e descobrir que não podia ir à praia durante uma semana.

Mas aposto que ficou aliviada, porque a única maneira que arranjei de a convencer a ir ao centro de saúde foi inventar que tinha lido na net que aquilo podia dar em gangrena.

E pelo caminho encontrei outras coisas ainda mais estranhas.
Na realidade, encontrei coisas bem piores.

Eventualmente a temperatura subiu uns graus, os finais de tarde ficaram espectaculares, a água menos gelada, o Mexicano muito bem-disposto, as cães mais adaptados e menos barulhentos, e tinha conseguido acabar o capítulo da tese que tinha resolvido escrever. Mas no dia a seguir viemos embora.

por do sol
Pelo menos deu para tirar uma fotografia.

(continua na parte II – férias em casa e na parte III – 4 realizações sobre as férias)

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10 Comments

    • Conselho (experimentei este verão): 3 semanas de férias, 2 delas com o bébé e o cão e na 3ª chamar os sogros para ficarem com ambos nessa semana, enquanto nós – Pai e Mãe – aproveitamos uma semaninha de praias (e férias) no estrangeiro. RESULTOU

      • Parece-me um excelente plano, mas acho que teria alguma dificuldade em fazer entender isso tanto à mãe, aos avós e ao cão psicótico. Ainda assim, na 3a semana consegui despachar os cães, já não foi mau. Coming soon. =)

  1. É por causa dessas cenas que eu agora passo férias em Mordor, o regresso parece sempre algo melhor.

    A anedota das férias é um momento priceless do Talking Funny e, de facto, o Seinfeld tem ali um certo edge sobre a versão do CK.

    Quanto ao resto, um dia conto-te o melhor episódio de sempre com um biscoito de cão.

    Keep it going 😉

    • Um dia decidi provar um biscoito de cão, e não foi uma boa experiência. Imagino que essa história vá bastante para lá disso, portanto como entusiasta de não boas experiências, fico à espera. 🙂

  2. E que bela fotografia!! LINDO!!! 🙂 E esperamos que a Ana também já esteja restabelecida!! 🙂 Bom regresso!!! Estávamos com saudades! 😉

    • Obrigado NF. 🙂 É um regresso ainda espaços, falta um mês para entregar aquela coisa que não será nomeada; a partir daí esperamos reconquistar tempo e parvoíce para escrever mais.

  3. Nunca levei animais não humanos comigo de férias , mas mesmo com esses trinta por uma linha, Mordor “naquelas semaninhas” jamais ( leia-se jámé). Depois do advento da filharada, bye bye férias, é uma realidade incontornável. Só mudamos de coordenadas…

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