Olá. Embora ninguém tenha perguntado, informo-vos de que estou prestes a chegar a metade do número de caracteres exigido pela minha tese. Sei disto porque elaborei, em excel, um não muito sofisticado tabelier de acompanhamento (ou project dashboard, para quem fala gestão de projectês) que me permite registar o número de páginas, caracteres e capítulos que estão feitos ou faltam fazer. Também estou em condições de vos dizer que a elaboração deste sistema me custou uma noite estudo. No fundo, fazer este dashboard é uma forma mais sofisticada da velha táctica clássica de procrastinação: “vou já começar a estudar, mas antes tenho de arrumar a secretária, catalogar as folhas de cheiro e separar as fatias de presunto que estão no frigorífico”.
Isto é tão grave que aqui há uns tempo dei por mim a procrastinar lendo a entrada da Wikipedia sobre procrastinação. E, encontrando aqui uma ironia dos diabos, fui procurar coisas sobre metaprocrastinação, e descobri que o termo existia, embora o meu significado fosse mais filosoficamente preciso. Resumindo: mais uma noite perdida.
Portanto, era nesta parte que eu dizia que decidi não ter tempo para escrever, blablabla, mas vocês já sabem como é que isto funciona. De qualquer maneira trago-vos links de coisas interessantes para ler, porque eu sei que vocês gostam de ler coisas interessantes, ou, pelo menos, é assim que vos imagino.
“Mommy Bloggers and Daddy Facebookers“
O argumento geral deste texto que encontrei no Medium (o novo Blogger do Hipsteristão) é fácil de perceber: a publicação de fotos de bebés nas redes sociais é uma mecanismo de alimentação do ego de pais e mães que não querem mais do que alimentar a auto-estima através de mecanismos de validação vácuos, como likes ou comentários do género “que bonito, onde é que compraram?”.
Qualquer pessoa que tenha uma conta de Facebook, amigos na casa dos trinta, e não ache que os bebés dos outros sejam seres especialmente interessantes (guilty!) conhece esta sensação. Mas também não é difícil discordar de alguns dos argumentos, sobretudo aquele de que, no futuro, “viver online” será uma escolha (é mais uma inevitabilidade) ou que ao colocar essas fotografias estamos a apropriar-nos da identidade de alguém (tínhamos de começar por definir identidade, e isso já dá trabalho). E a autora parece estar mais irritada com os amigos do que preocupada com as crianças.
Já a parte dos blogs que monetizam a cutxi-cutxice dos filhos para ganhos pessoais, é toda uma outra discussão, que devia atormentar qualquer blogger que escreve sobre estes assuntos de ser pai, filhos e lidar com mecónio. Claro que aqui também radica a importante diferença de ser um parent blogger ou um baby blogger, e todas aquelas questões sobre a diferença entre anonimato, privacidade, intimidade, que as pessoas muitas vezes confundem, portanto vamos pensar sobre isto nas férias, e depois se calhar fazemos uma lista e tentamos aborrecer pessoas.
“I Measure Every Single Thing My Child Does
And I track it on spreadsheets. Really—every single thing. Even every poop. And it makes me a better parent.“
Este artigo é sobre uma mãe que tem uma fixação pela recolha de dados, ou Big Data, como se diz hoje em dia. O Big Data está na fase esotérica das tendências tecnológicas, tanto pode significar coisas que já existem há 30 anos, como previsões futuristas desajustadas da realidade, mas no fundo está relacionado com a proliferação de objectos digitais, sensores, recolha de informação, que nos permitem registar, processar e analisar enormes conjuntos de dados. Claro que, em teoria, mais informação pode ajudar-nos a tomar melhores decisões, mas, também nos vai obrigar a repensar a nossa relação com a responsabilidade, a saúde e o bem-estar, nestas áreas específicas a que se refere o artigo.
“Study: The Nature and Nurture of Kids’ Reading Development“
Por fim, este artigo no GeekDad sobre a importância da leitura no desenvolvimento das crianças, cita um estudo científico com uma premissa extremamente interessante: o gosto pela leitura parece ser, em grande parte, genético, mas só se manifesta passados alguns anos, o que reforça importância do estímulo da leitura em todas as crianças, em casa e na escola.
The terrible & wonderful reasons why I run long distances.
Ah, e numa semana em que um português vence uma ultra-maratona, o Oatmeal publicou um comic em que finalmente alguém me consegue explicar a razão de se sujeitar o corpo à violência, nada saudável, de uma corrida de longa distância.
Não me convenceu a começar a correr, mas motivou-me, através da mistura de humor, sentimento e Online Marketing que o Oatmeal faz cada vez melho, na minha batalha contra o meu próprio Blerch (ao contrário de pessoas que dizem coisas como “tens de sair da tua zona de conforto”, a essas só apetece partir os dentes).
Até breve.
Então quantas vezes já vieste ver se tens comentários?
Outras formas sofisticadas de Procastinação:
– Pesquisar “sobre como escrever boas teses”;
– Antes de tudo preparar o layout;
– Arrumar pastas e fazer backups (backup é no início)… Quando estamos a chegar fim o backup não é importante…
E agora vou criar um Dashboard para a minha tese. Não sei como consegui escrever a tese até aqui sem o Dahsboard (antes disso ainda vou ver melhor o que é um dashboard).
Falando de coisas sérias, estou à espera de um post sério sobre como preparar as férias com crianças.
Abraço
De facto, tese sem dashboard, não é tese. Mas também havia aqueles tipos que tiravam os manómetros da mota; há quem escolha viver no limite. A ideia para o post é boa, mas neste momento só me permito vir aqui uma vez por semana, e acho que a próxima vai ser para fazer um balanço catastrófico destes primeiros seis meses de blog. Acho é que, daqui a uns meses, é provável que aconteça um post a contar os erros que fiz na minha preparação de férias, que, espero, além de vos dar a possibildiade de rirem de mim, também terá uma lição ou outra. =) abraço.
Hoje tive uma discussão ao almoço sobre corrida com um gajo que faz surf. Falou-se de pseudo-profissionalismo, mas também sobre procastinação e “zonas de conforto”.
Ainda não dá para fazer uma tese, mas também houve ali subjacente uma vontade de partir dentes. Mas confesso que fui eu que puxei a zona de conforto, mas também puxei uma cadeira a seguir.
o que mais me encanita nessas máximas do “tens de sair da zona de conforto”, “tens de seguir os teus sonhos” ou “o problema é que as pessoas não são empreendedoras”, não é o signifcado da frase em si, que não levanta grande discussão, mas sim o facto de que muitas vezes elas serem proferidas sem qualquer tipo de ligação à realidade, não contribuindo em nada para resolver o problema (seja motivacional, psicológico, de capital ou contexto, ou tudo ao mesmo tempo) – às vezes até piorando-o.
É como o chefe que diz “pá, temos de pensar fora da caixa!”, e depois diz-te que tens de ir justificar os 15 minutos de atraso na picagem do ponto de manhã.
Mas também não estou a imaginar Mak a dizer do alto de um tom paternalista: “amigo, tens de sair da tua zona de conforto, conheces Rhonda Byrne?”. =)
Sou do menos evangelista que se possa ser, quando se trata do princípio de “tens que fazer alguma coisa por ti”. Se gostar da pessoa e acreditar que não aproveita as suas capacidades sou capaz de espicaçar, mas tem que ser em áreas em que eu próprio possa ajudar a isso mesmo e que haja retorno do outro lado, não é do género “Ah, jardinagem fazia-te bem para espevitares. Ou isso ou aquelas danças exóticas”.
Mas no entanto, acho que as pessoas são muito diligentes na hora de apontar o que está mal com a sua vida, o seu emprego, etc, tornando isso quase um queixume tipo música ambiente, mas não podendo mexer aí (ex: o emprego garante-lhes a sobrevivência financeira), também não se esforçam minimamente por descobrir algo que preencha esse vazio (tirando o clássico – ver séries e filmes, andar pela net, ver o que se passa no “face”). Porque se esse algo existisse, o queixume seria bem menor, ainda que a razão para o mesmo subsistisse.
Andamos a criar plataformas para nos podermos queixar, expressar indignação, projectar sonhos sem termos que fazer nenhum.
(e isto, só por si, é um post que tenho no forno)
O clássico “mais trabalho e menos queixume”. Percebo, mas acho que é uma generalização perigosa (vê a maneira como o próprio Governo se apropria muito dessa narrativa), e, muitas vezes, injusta.
Mas eu não quero que ninguém trabalhe, nem eu próprio tirando quando é preciso 🙂
O que eu gostaria é que o hobbie para além do trabalho (que muitas vezes é algo a que não temos escapatória) não fosse o queixume sobre o trabalho. Pelo menos única e exclusivamente.
Apenas porque sei que se não ocupares a cabeça (e o corpo ou ambos) com algo para além desse vazio, ele preenche-se facilmente com mofo e amargura.
Se não nos queixarmos do trabalho como é que as pessoas vão saber que nós trabalhamos muito e que o nosso trabalho é importante.
Por isso é que eu faço sempre como o meu amigo George:
http://www.youtube.com/watch?v=Kafq7yrKAOQ
Completamente de acordo nessa parte, é mesmo importante. E que boa metáfora, até se sentiu o cheiro.
nao sou a pessoa indicada para falarem no sentido de arranjar uma solucao para a procrastinação…
Não és não, especialmente quando rezam as notícias que estás morto.