Eu até queria estar entusiasmado com o novo filme do Super-Homem. Man of Steel estreia a 14 de Junho nos Estados Unidos, é realizado pelo Zach Snyder, que fez um óptimo filme do 300 (uma banda desenhada também óptima) e conseguiu não estragar muito o Watchmen (uma obra-prima da banda desenhada). Desde o Super-Homem 2 (1980) que o mundo precisa de um bom filme do Super-Homem.
Só que depois de ver estes trailers em que está sempre tudo nublado, em que o Clark Kent é um gajo barbudo que faz pesca em mar alto, onde o Russel Crowe diz umas chachadas ao som de Enya, e o pai do Super-Homem parece que está prestes a enfiar um tiro na cabeça, também fico com vontade de deixar crescer uma barba grunge ir sentir pena de mim mesmo para um pontão ou assim.
Mas a sério, porquê isto? Porquê esta mania de que as coisas têm de ser dark para serem profundas. E ainda temos de ler o Zach Snyder a dizer que “o Super-Homem tem de ser levado a sério“, como se alguém o tivesse apontado como o defensor da seriedade do Super-Homem e, mais idiota, como se uma abordagem mais “sombria” e “realista” fosse sinónimo de seriedade (ou qualidade).
É muito provável que o filme seja bom, mas o problema é que isto não é o Super-Homem. E eu nem sou um grande fã do Super-Homem. Sempre fui mais Batman do que Supes. Mais Oasis do que Blur. Mais Cable Guy do que Dumb and Dumber. E nem me importei que o Christopher Nolan tivesse reduzido o Batman de World’s Greatest Detective a Ninja Ricaço Vestido de Armadura. Tudo bem. Era o Nolan a fazer o que sabe fazer bem. Cinema e psicanálise. Não era o Batman, mas era o Batman do Nolan, e são três filmaços.
Agora este novo Super-Homem não sei bem o que será. Ele tem a capa, tem o símbolo, não tem as cuecas por fora das calças (deve ser para parecer mais sério), mas onde está aquela mistura de Bom Samaritano, Apolo e Homem Vitruviano? Onde é que está aquele sorriso ligeiramente paternalista, mas que nos faz acreditar na melhor versão de nós próprios, e em que alguém melhor que nós está a lutar pelo bem de todos?
O Grant Morrison, esse génio da banda desenhada, e amigo do LSD, disse melhor que ninguém no seu Supergods (até fui procurar o livro, caraças):
“baring the soul of an indestructible hero so strong, so noble, so clever and resourceful, he had no need to kill to make hist point. There was no problem Superman could not solve or overcome. He could not lose, He would never let us down because we made him that way. He dressed like Clark Kent and took the world’s abuse to remind us that underneath our shirts, wiating, there is an always familiar blaze of color, a stylized lighting bolt, a burning heart.”
Isto, que o Frank Quitely traduziu para a capa do #1 do All-Star Superman desta maneira soberba:
Isto é que é o Super-Homem. Não o que se vê nestes trailers. Até as primeiras imagens dos bonecos do filme são deprimentes. Reparem na expressão corporal do super-homem. Os punhos cerrados, a cara em tensão, sofrimento. A imagem de alguém que se leva muito a sério.
Espero estar enganado. Ou nem por isso. Ser do contra é um dos meus superpoderes.
Eu não percebo muito de super-homem, mas ou este boneco têm (muitas) cuécas por baixo das calças ou é mesmo o Super-Homem.
MAs os tempos mdam, pá. Assim como já ninguém quer saber deste batman apatetado http://www.youtube.com/watch?v=-EEyQIAemn0 também já ninguém quer um Super Homem paternalista e meio totó que usa as cuecas por fora. Isso nunca foi fixe, muito menos agora. E assim como os próprios traços evoluem, da BD, os filmes também . E eu também acho que o Super homem é herói para viver em conflito, ao contrário do Iron Man e do Spider Man que conseguem (e são) muito mais cómicos do que os outros. Mas isto sou eu que elevo esta coisa dos super heróis muito a sério. 😀
Hmmm, mas claro que o conflito sempre fez parte do pathos do Super-Homem. O fardo, a orfandade, o conflito legado de Kripton com os valores da família, etc. Mas isso não quer dizer que ele se comporte como um adolescente atormentado. Há outros heróis que fazem isso. Não o Super-Homem, ele lida com esses conflitos de outra maneira. Por isso é que é o Super-Homem. (já o Homem-Aranha tem um dos conflitos mais brutais da BD, a responsabilidade indirecta pela morte do tio, e o facto dos filmes serem mais divertidos ou ele mais cómico, não belisca em nada esse conflito)
Eu continuo a questionar é a falácia de que “dark” = complexidade = maturidade = seriedade. Acho que é um artifício narrativo, que cria uma ilusão de complexidade, cada vez mais comum nos dias de hoje. O Super-Homem não tem de ser pateta, nem nunca foi tóto (só na versão Clark Kent, mas isso às tantas até desapareceu dos comics, e bem) mas convém que seja o Super-Homem, e isto não é o Super-Homem. A ideia mais interessante é olhar para o universo dos super-heróis e perceber o que cada um representa, e explorar isso. Não é chegar com uma fórmula “séria” e “dark” e fazer passar todos por esse filtro. É precisamente por também levar isto a sério que eu não gosto destas simplificações. 😛