Comecei a fumar socialmente aos 17 / 18 anos. Socialmente é outra expressão para ‘aqueles 5 minutos de anestesia entre um shot e uma cerveja’. Um ano depois já fumava três ou quatro cigarros durante o dia e daí a chegar aos 10-15 cigarros é a história do costume.
Na altura dos nossos avós, fumar era um remédio para a tosse. Na dos nossos pais era feio, mas tolerado; era normal os miúdos receberem um maço por acabar a 4ª classe. A minha geração já cresceu a saber que é mau, sobretudo quando se tentava correr atrás de miúdas em motorizadas, de resto, continuava a dar estilo.
Fumar quando se está bem fisicamente (=não ser velho) até não é mau. Sabe bem, dá para meter conversa em festas, e, se o vento estiver a favor, as pessoas conseguem adivinhar quando estamos a chegar a algum sítio.
Aos 25 anos, em convénio com os meus pais e irmã, acedi a prometer deixar de fumar quando fosse pai. Parecia-me um motivo válido e distante. Dada a estabilidade da minha vida amorosa na altura, a minha irmã chamou-me a atenção de que ‘isso iria acontecer aos 40 e tal’, portanto acordámos que ‘quando fosse pai ou fizesse 30 anos’.
Aos 32 anos não tinha filhos nem tinha deixado de fumar. Continuava a gostar de fumar, mas a ideia de estar a quebrar uma promessa começava a incomodar-me.
Na madrugada de dia 1 de Janeiro de 2012, antes de começar a ressacar, e uma semana antes de saber que ia ser pai, decidi deixar de fumar. Após extensa investigação e ponderação, resolvi seguir o método cold turkey. O método cold turkey, é uma metodologia secular que se baseia num princípio científico: um dia fumas, no outro dia já não.
Há mais maneiras de deixar de fumar, e todas elas muito recomendáveis. Pastilhas, autocolantes, clínicas, meditação, doença, drogas duras ou, aquela que é 100% garantida por todos os especialistas – morte natural. Whatever works.
No meu caso, e para quem possa ajudar, foi isto que resultou:
#1 – Pensar que fumar é burrice
Os meus pais nunca me chatearam muito com os cigarros, mas de vez em quando usavam um argumento insidioso do ‘mas como é que uma pessoa inteligente decide começar a fumar hoje em dia?’. Não sei se sou uma pessoa muito inteligente, mas sou inteligente o suficiente para perceber quando é que me estão a chamar de burro. Ser burro não é uma condição agradável, mas, de facto, a partir do momento que o prazer de fumar (que passou a ser fácil distinguir da ‘necessidade’, calculando um rácio de cigarros bons vs cigarros meh) não compensa o aumento de probabilidades de contrair uma doença fatal ou o dinheiro que se gasta por mês (um jantar num sítio decente). Ninguém gosta de se sentir burro.
#2 – Aceitar que deixar de fumar é horrível
Imaginem que vão tratar de alguma coisa a uma repartição pública, têm 150 pessoas à vossa frente, o vosso carro é rebocado porque o parquímetro expirou e, entretanto, ficaram sem bateria no telefone, o que significa que a única distração que têm é poder ler o folheto sobre a atribuição de subsídio em caso de doença da Segurança Social 50 vezes seguidas. Imaginem essa montanha russa de sentimentos a oscilar entre a angústia, a raiva e o desespero. O primeiro mês de deixar de fumar é mais ou menos assim.
#3 Não deixar o scumbag brain vencer as discussões
Há um meme na web chamado scumbag brain (pertece à grande família de scumbag memes), que explora as idiossincrasias de alguns processos psicológicos humanos.
Vendo de outro ângulo, o Scumbag Brain também é sobre aquela predisposição que temos para fazer merda sabendo que é muito provável que façamos merda enquanto nos convencemos que estamos a fazer a melhor escolha.
Quando estava a tentar deixar de fumar o scumbag brain entrava em acção várias vezes por dia, com argumento que iam do delírio puro ao isto-faz-imenso-sentido-numa-realidade-distorcida, como fazer-me pesquisar durante horas como é que se cultiva tabaco em casa – talvez até faça bem, é orgânico! Ou passar horas a esquematizar planos infalíveis de poder fumar apenas aos sábados, no natal, no fim de ano, no dia de aniversário, nos outros dias de aniversário, nos dias maus, nos dias não assim tão bons, e em todos os outros, mas só nesses.
Isto para não referir a capacidade infalível de estragar qualquer refeição: “estiveste a semana toda a pensar neste jantar? Então agora passas o jantar a pensar no cigarro que não vais fumar a seguir.”
A melhor maneira de lidar com a sabotagem do scumbag brain é arranjar um passatempo, tipo modelismo ou Jenga de competição. No meu caso, o Portal 2 ajudou.
#4 – Não nicodemonizar a coisa
Não é uma piada. Nicodemon, ou nicodemónio – provavelmente o nome de um série recusada ao Nicolau Breyner – é uma expressão real utilizada em fóruns e blogs por pessoas que deixaram ou estão a tentar deixar de fumar. Como é que eu sei? Onde há internet, maluquinhos e ideias alucinadas, eu tento estar lá. Alguns dos conselhos que se encontram nesses sítios até são úteis (cortar nas saídas à noite para locais com muito fumo), outros nem por isso (cortar no álcool? não me parece), mas devemos sempre desconfiar de figuras de estilo que nos remetam para um pensamento tipo seita.
Às tantas tive de me relembrar que fumar não era nenhuma transgressão moral tipo sobrecarregar pessoas que mal têm como viver com mais impostos. Não há pachorra para maluquinhos anti-tabaco.
Um ano depois continuo a ter deixado de fumar. Já fumei um cigarro ou outro, mas o nicodemónio não tomou conta de mim e não me obrigou a comprar um maço no dia a seguir.
Clap, clap, clap! É de louvar. É necessária muita força de vontade. Já disse ao meu namorado que ele tinha que deixar de fumar até ao filho nascer. Mas bem sei que a decisão tem que partir dele. Pode ser que lhe dê o “clic” entretanto.
Sim, é preciso dar o “clic” e haver disponibilidade mental para isso, não é fácil.
Acho que fez muito bem! E o filhote vai agradecer ter uns pais não fumadores. 😉
Eu é que lhe agradeço. 🙂
Deixei de fumar há 4 anos e 12 quilos… ainda sonho que estou a fumar um cigarro e que me sabe pela vida…
O engraçado é que o mais provável é que não saiba. Eu sei que a ideia que dá é que o cigarro que deixamos de fumar nos vai saber como aquele primeiro cigarro do dia vezes mil, mas a verdade é que é se aproxima mais ao estado de pré-fumador. Sente-se muito mais o queimado e o fumo, não é assim tão especial.
No meu caso foram aí uns 3, 4 quilos. Pode ser que fale sobre isso um dia destes.
Yeyyyy!
Parabéns!! Gabo-te a coragem! 🙂
Eu vou-me mantendo nos burros… Até tenho autorização da minha médica da asma e tudo para não me sentir tão mal!
(a cena dos pontos de exclamação estarem fora de moda não é para mim!!!)
ahaha, vão voltar em 2013, li num blog. 🙂
André, descobri o teu blog (sim, trato-te por tu, porque tenho 35 anos, desde 2ª feira!) e, estou a adorar…
Parabéns por ter deixado de fumar, ainda não sei quando conseguirei fazer isso mas, começo a preocupar-me com cancros de pulmão… (Lá está, é da idade, vemos que nos podem acontecer coisas más quando nos começamos a sentir velhos… )
Abraço
Pois vemos. E ainda por cima aquela sensação que há pessoas que dependem de nós. Vais conseguir, é só chegar a altura certa – e clica. Obrigado e um abraço!
Também parei 6 meses depois de ser pai e não foi nada fácil, não tomei nada e também fiz pesquisa e fiz parte de um forum para deixar de fumar.
O forum nao acabou muito bem porque achava que eram tarados que contavam os dias e minutos.. 1500 dias sem fumar uau e que só falavam disso , claro que mandei-os para um certo sitio e desapareci….o melhor remédio é mesmo fazer exercicio, é a melhor solução… dizem que meditação resulta mas sinceramente não tenho muito jeito para isso, nem para tecnicas de respiração!
E se tiverem mesmo passados se puderem aconselho a desligarem-se, vao passear durmam e fujam dos conflitos ha e o evitar alcool ou gorduras acho uma tortura…. bebam na mesma e comam uma bifana que se tiverem força de vontade não acontece nada, e não me digam que tem medo de ficar gordos… se não tiverem cuidado ficam na mesma não é por culpa de uma cervejinha ou de um bife da portugalia!
Conheci seu blog e estou na batalha de me livrar do vício tbm. Adorei seu depoimento e as coisas que escreveu. Criei um blog para compartilhar minhas experiências, minha luta, trocar dicas, informações e forças tbm. Caso queira me fazer uma visita é http://www.cantinhoparanoico.blogspot.com.br Tá no comecinho ainda. Parabéns pela força!!!
Comecei a fumar socialmente só porque sim (isto sim pode-se considerar burrice). Não gostava de nada naquela altura, estava mesmo a lixar-me para meio mundo. Ao inicio tudo parecia óptimo, andava mais relaxada, com melhor humor até decidi sair mais de casa e conviver. É, era tudo um mar de rosas até passar o primeiro ano.
Depois comecei a sentir-me estranha, não sabia bem o que era (burrice a dobrar) sempre fui boa a correr ou a andar rápido subir escadas no metro em vez de ir pela escada rolante, e lá estava eu a arfar por ar sempre que fazia um pouco mais de esforço.
Depois de fazer aquelas pesquisas no google fez-se uma luz na minha cabeça, e depois de ler um monte de artigos e ver que estava a um passo da minha desgraça decidi mudar de atitude, tenho demasiado medo de ter doenças (isso ajudou imenso).
Aos poucos fui cortando, sempre que me perguntavam “queres um cigarro?” eu lá dizia “Não, fumo daqui a pouco.” e isso em pouco tempo tornou-se em semanas sem fumar.
Aqui chega a parte estranha e que não vejo ninguém falar. Quanto menos eu fumava menos vontade eu tinha de o fazer. O ultimo que “tentei” fumar, nem consegui chegar ao fim pois fiquei extremamente enjoada e com dores de cabeça, e agora mal consigo aguentar que fumem ao pé de mim.
Hoje fui sair com um grande grupo de amigos , éramos mais de seis pessoas todas a fumarem, menos eu.
Acho que no fundo no fundo nunca viciei porque todos se espantam sempre que conto isto…