Um ano à Paisana

O à Paisana faz hoje um ano. Há uma ano estava a enviar um e-mail a amigos e conhecidos a anunciar um “novo site” onde ia escrever coisas na Internet. Não me lembro porque não usei a palavra blog, mas não deve ter sido por acaso.

De 28 de Janeiro de 2013 a 27 de Janeiro de 2014 o blog recebeu 208.666 visitas e registou 639.455 pageviews. Dados relativos a seres humanos. Dá uma média de pouco mais de 500 visitas por dia, o que, na escala da insignificância, deve corresponder a um minuto de visualizações de páginas em que a Cristina Ferreira aparece de boca aberta no Daily Cristina .

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Mas há uma blogosfera antes de Cristina e depois de Cristina, não tenham dúvidas.

Não são números espectaculares, mas são números de que não me envergonho. Gosto de notar esta disparidade entre visitas e pageviews, um pouco superior ao que é normal em blogs. Dá, por alto, uma média de três páginas vistas por visitante. Isto quer dizer que as pessoas quando cá vêm, não ficam apenas na página principal. Vão ler mais textos, exploram os arquivos. Talvez seja aquela incredulidade voyeuristica que é atraída por acidentes de viação – “este tipo não pode ser real, ninguém é assim tão parvo”. Mas é engraçado notar que nas estatísticas diárias há bastantes visitantes a circular pelas “Entradas Antigas”, e o nível de engagement com alguns posts é muito alto. Desde que não andem à procura de pistas sobre o local onde vivo, é bom sinal.

Passado um ano continuo sem saber bem o que é o à Paisana, o que até me dá imenso jeito. O João Miguel Tavares, family blogger e activista pró-palmada de referência, afirmou há uns tempos que o blog familiar dele – o Pais de Quatro – é uma forma de afirmação orgulhosa da vivência familiar no espaço público. Uma partilha da vida em família com o mundo exterior, numa espécie de serviço público-privado, patrocinado pelo Sapo. No meu caso, quando resolvi criar um blog inspirado pela paternidade, achei que se havia coisa que a internet com filhos não precisava era de mais reality blogging. Não tenho nada contra bloggers que abrem as portas de casa, sacam dos álbuns de fotografias e contam o que comeram ao pequeno almoço, pelo contrário, mas acho que seria péssimo nisso. Primeiro, porque a minha casa não é muito interessante (as pessoas acham que somos minimalistas, mas não estamos é para nos chatear). Segundo, porque a minha mulher dava cabo de mim (e só com a boca da casa é provável que já vá levar).

Tercer
Terceiro, porque o meu pequeno almoço consiste na papa mais feia de sempre: Weetabix.

O que ficou acordado é que podíamos ficar à porta. Já é qualquer coisa. E a verdade é que este blog não é bem sobre a minha casa, a minha família ou o meu filho. À boa maneira narcísica, que acompanha qualquer pessoa que decide que tem coisas interessantes para partilhar com o mundo, este blog gira à volta do meu umbigo. E aí já vale quase tudo. Mas para que vale este blog?

Quando as pessoas sabem que tenho um blog, uma das primeiras perguntas que fazem é “ah ok, e de resto, o que tens feito?”. Mas também há outras que querem logo saber qual “é a tua ideia com o blog, o que pretendes fazer com ele?”. A maioria das pessoas parece ter uma ideia pré-concebida que uma pessoa faz um blog para ter reconhecimento, chegar a muitos leitores e ganhar dinheiro com parcerias. Claro que isto é totalmente falso. Quem é que quereria ganhar dinheiro a fazer algo de que goste?

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Acreditar que se pode viver de coisas que nos dão prazer? Que estupidez!

Claro que também há outros motivos para criar blogs. Continuo a dizer-vos que uma das principais motivações para ter criado este blog é porque gosto de escrever. Quer dizer, não gosto do escrever em si. Escrever é como saltar cheio de confiança para dentro de água e ficar preso num remoinho de incertezas. Mas gosto daquela sensação de estar de volta de um texto e começar finalmente a desembrenhar as palavras, até sentir que já não posso fazer mais nada por ele. Mesmo que não esteja perfeito (nunca está). E depois gosto de perceber de que partes é que a Ana se ri, quando lhe peço para ler os drafts quase prontos. E, quando um post se torna minimamente popular, de ler os comentários positivos, ver os likes a aumentar e as visitas a subir. Não vale a pena mentir, sabe bem. Mesmo que o texto mais popular de sempre na história deste blog, tenha sido o post mais auto-depreciativo que já escrevi. É suficiente para motivar qualquer anormal.

E gosto deste desafio de me confrontar com a minha experiência de paternidade através de uma visão das coisas que oscila ali entre a ironia, a sinceridade e o choque com as idiossincrasias da minha personalidade (outra maneira de dizer os meus defeitos). Para mim, estes sempre foram os blogs mais interessantes: aqueles em que se vê que as pessoas também andam a tentar aprender alguma coisa sobre si mesmas. Pelo caminho vão dizendo alguns disparates, escrevem umas coisas melhores que outras, arriscam aqui e ali. Às vezes conseguem, às vezes não. Mas vão percorrendo o seu caminho.

A sensação de ter conseguido escrever coisas com que algumas pessoas (poucas, mas espectaculares) se têm conseguido relacionar, rir, ou horrorizar, tem mais que justificado o investimento que fiz neste blog. Não tenho grandes esperanças de o tornar uma money making machine, embora as ocasionais ofertas de bilhetes de teatro e um pedido de preenchimento de um questionário para saber se eu estaria interessada em promover cremes hidrantes para bebé, já tenham superado as minhas expectativas. Mas não sei se tenho o que é preciso para levar o à Paisana até esse nível. E mesmo que tivesse, faria questão de me auto-sabotar antes de lá chegar.

Não, não vais a lado nenhum.
Porque é que foste apagar logo o e-mail do creme hidratante? Assim não vais mesmo a lado nenhum.

A dada altura também senti que não valia a pena o esforço que implica manter um blog actualizado quase todos os dias, com conteúdos relevantes e o counter sempre a rolar. Decidi focar-me nos posts que me dão mais gozo. Os que não se escrevem num par de horas e que me fazem sentir um David Sedaris do meu prédio, a escrever e reescrever punchlines até perder a noção do que é engraçado, interessante, ou já nada disso. As visitas diárias caíram a pique. Mas não faz mal, as pessoas vão aparecendo, e, quando gostam muito, ainda aparecem mais. Depois volta a sensação de que sou um impostor que esgotou finalmente a sua sorte, inspiração e criatividade, e que nunca mais vou escrever um post de jeito. É isto.

 

E agora? Podem ir à página dos melhores posts (escolhidos por mim), subscrever o blogue por e-mail (se forem esse tipo de pessoa), ou fazer 'gosto' na página do Facebook e ter acesso a mais paisanices:

31 Comments

    • realmente tenho a necessidade de arranjar motivos para as coisas, mas ninguém diz que têm de ser bons motivos. obrigado 😉

  1. Tenho um bebé da idade do mexicano, e revejo-me em grande parte do que aqui é relatado, para além de me rir muito! Keep going!! 🙂

  2. Parabéns!
    Eu estava a pensar que te tinha acontecido alguma coisa!

    Já agora lembro-me que cheguei aqui através dos http://eosfilhosdosoutros.blogspot.pt/ para ver qual a melhor altura para ver a Guerra das Estrelas com os filhos e qual a melhor sequência.

    A partir daí, fiquei sempre à espera do próximo post.

    Por isso continua o bom trabalho!
    `
    Abraço

    • Obrigado, Ricardo – igualmente! Às vezes penso em actualizar esse post a recomendar para que não se vejam sequer as prequelas. :->

  3. Muitos parabéns! Pelo aniversário e pelo texto… que, para variar, está super bem escrito e com as doses certas de humor, seriedade e ironia. E acredito que quem te visita uma primeira vez, continua a fazê-lo 😉

    • Obrigado, mas às vezes é engraçado, deves reparar também, que quando vem muita gente através de links de outros blogs, a maior parte dessas pessoas não volta. É como se tivéssemos feito uma grande festa em que aparece imensa gente, e parece que temos imensos novos amigos, mas na realidade nunca mais os vamos ver. 😀

    • fico contente! mas agora o compromisso de escrever pouco, também me está a preocupar, não deixa de ser pressão – o que fui fazer…

  4. Mtos parabéns!! Um aninho, hein? 🙂

    Ora, então, entretanto deves começar a dar uns “passos” na escrita com mais firmeza ainda, vais tornar-te mais ágil a teclar pela melhor coordenação entre o polegar e o indicador, vais começar a divertir-te mais com o processo de escrita em si do que com o resultado final (desfrutar mais o “meio” do que o “fim”), vais conseguir estar mais atento e observador ao que te rodeia (ótimo presságio para mais inspiração), vais sentir-te cada vez melhor e mais seguro com as pequenas rotinas (mesmo que seja comer aquela coisa esquisita todos os dias ao pequeno almoço), isso vai trazer-te tranquilidade e a sensação de controlo da realidade… 😉

    Como vês, só coisas boas!!! Nada a recear!! 🙂

    Nós estaremos SEMPRE cá! A rir contigo, a refletir contigo, a partilhar contigo…

    Força!!!

    • Obrigado NF. 🙂 Mas em relação ao processo acho que vai ser sempre assim, já não é de há um ano, vem de muitas outras batalhas. Mas é tranquilo (not really), faz parte. 😉

  5. Vindo da franja não parental dos visitantes, o que o teu blog também tem de bom é a proximidade que se pode tirar de um conjunto de situações (sejam elas ou mais ou menos daddy blogger friendly) e que faz com que um gajo não sinta que está a entrar noutro planeta.

    Dês aqui ao estaminé o desenvolvimento e a abordagem que deres, desde que te sintas confortável com a mesma é o que interessa 😉

    Ah e sobre fazer ou não o que se gosta, estive a ler um artigo interessante sobre o mantra Do what you love que tantas vezes é repetido por aí fora – http://www.slate.com/articles/technology/technology/2014/01/do_what_you_love_love_what_you_do_an_omnipresent_mantra_that_s_bad_for_work.2.html

    Era para ter escrito sobre isso, mas depois distraí-me com soutiens japoneses que abrem sozinhos e pronto…

    Força nisso rapaz 🙂

    • Obrigado. 🙂 Acho que nunca me vou sentir confortável (noutro sentido), mas gosto de ir recalibrando as expectativas – mesmo que daqui a seis meses nada disto seja verdade. = )

      O ‘do what you love’ realmente dá azo a boas discussões, embora tenha ficado com a sensação que o artigo seria mais interessante se focasse na questão das indústrias criativas pagarem mal (dispersa-se um bocado), mas no caso do post é mesmo quando se sente uma hostilidade em relação a pessoas que querem ganhar dinheiro com blogs, sobretudo quando essa hostilidade vem de outros blogs; parece sempre um bocado despropositado, everyone’s in it for something. 😉

      • Sim, aquilo tem ângulos interessantes e depois paira ali um bocado na maionese. Bem vistas as coisas, parece um bocado alguns dos meus posts 😀

        Quanto a ganhar uns cobres à conta de blogs, obviamente é uma oportunidade e isso também dá azo a boas discussões, mas sem qualquer ponta de love/hate – tudo pelo bem da ciência 😉

  6. Já passou um ano? 🙂

    Eu gosto muito de cá vir e espero que ainda dure mais uns quantos, pelo menos até o Mexicano ir para a universidade.

    (gosto de pensar que dei uma grande contribuição para este espaço ao sugerir a introdução da caixinha que vou checar a seguir.)

    • Admito que dá imenso jeito. = )

      Em relação ao blog, acho que só vai durar até ele conseguir ler, ou até criar um blog chamado “Ai, Paisana”. 😐

  7. Vá lá pah 🙂 não pares agora… aposto que ainda tens mais idiotices e experiências iguais a todos nós humanos que aqui andamos a tentar decifrar os nossos bébés de 1ano!
    Criaturas maqueavelicas!

    Continua com este manual de instruções 🙂 e compra uns soldadinhos de chumbo ( ou plastico ) no chinês para o teu mexicano…senão o meu “rebento” não tem ninguém com quem brincar no futuro..

    Bora!

  8. Continue, por favor: gosto muito do seu blog porque transparece a sinceridade com que o escreve e principalmente o carácter instrospetivo e pedagógico de que fala. Assume as falhas numa perspetival de reflexão de como poderá fazer melhor e aí, no meu entender, está o segredo de um bom pai ou mãe.
    Outro aspeto que admiro no seu blog é o facto de se dar ao trabalho de responder à maioria dos comentários que os seus leitores deixam e não apenas aos que possam ferir ou enaltecer o seu ego, como a maioria dos blogs que lemos por aí. Parabéns!

    • Estive quase para não responder a este comentário, só porque teria graça. 🙂 Mas tenho de agradecer os elogios!

      Aproveito também para confessar que antecipo sempre todos os possíveis comentários negativos, até ao maior detalhe. Talvez até demais. Por exemplo, agora podia vir alguém dizer que eu só respondo a todos os comentários porque isso duplica o número de comentários de cada post, e dá boa impressão, junto de eventuais pessoas que me pagariam para vender creme hidratante.

      • Passou-me pela cabeça que não respondesse, só para ter graça (já começo a conhecê-lo). 🙂 Quanto ao pequeno almoço weetabix, bem, o que não falta por aí são bloggers com propostas saudáveis e deliciosas para aprimorar os seus (vossos) pequenos almoços. Vá lá, dê uma hipótese aos que mostram o que comem de manhã à noite 😉

        • Oh, eu gosto bastante de blogs que cultivam e partilham a componente de comida, sobretudo num registo familiar, genuíno e não tanto numa onda “pinterest”. 😉 Acho mesmo importante cultivar esta vertente mediterrânica, da comida que desempenha um papel cultural e de agregador familiar, etc. Só não acho é que seria bom nisso, e nem preciso, já há muitos blogs interessantes a fazê-lo. E o weetabix ninguém me tira.

      • É exatamente para duplicar o número de comentários no meu blogue que eu respondo a todos os que lá escrevem! Ou não, é só porque sou muito bem-educada (que o facto de me vir meter na vossa conversa, assim, sem pedir licença, não vos dê a impressão contrária)… O pior é quando não há comentários… 2×0=0… 🙂

  9. Eu só não sou leitora diária (praticamente há um ano) porque aqui não se escreve diariamente. Mas prefiro poucos e bons do que quantidade de encher chouriços, o que nunca é o caso aqui.
    E fazes-me rir, muito mesmo! E adorei aquele post em que, indiretamente, pediste desculpa à mãe do teu filho por teres sido um pai azelha. A sério…levou-me às lágrimas, não só de emoção, mas pelas gargalhadas dadas. 🙂
    Tu escreves muito bem, como sabes!

    • Neste último ano acho que se bateu o recorde de lágrimas cá em casa, mas acho que não foram todas culpa minha. Obrigado! 🙂

  10. As he learned more about the Limu plant he found the
    people of Tonga; a south Pacific island, had long used the
    plant for it’s healing abilities and treatment of intestinal ailments, problem skin and other injuries.
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    This information is from, Limu Moui, by Rita Elkins
    M.

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