As palmadas do João Miguel Tavares

O João Miguel Tavares (JMT) resolveu voltar ao tema de bater (ou não bater) nas crianças, um clássico de audiências (imagino eu) e polarização de opiniões. Um daqueles temas recorrentes na web parental, que, infelizmente, resvala quase sempre para a opinião defensiva do “estás a dizer que sou mau pai?” (não), e argumentos do género “eu levei quando era pequeno e estou óptimo” (tens a certeza?).

O problema está muitas vezes relacionado com a forma de enquadrar a questão. E, embora tenha o JMT como um tipo culto, bem-humorado e inteligente, se há questão que ele gosta de desenquadrar é esta questão do bater nos filhos. Não me interessa saber se o JMT é bom ou mau pai, mas sim questionar o modo como defende que “[bater é] uma ferramenta educativa essencial”, um argumento que baseia numa mistura de experiência própria com uma série de postulados questionáveis sobre o facto do homem ser um animal “em processo de domesticação” .

O dia do pai do Norman Rockwell.
O dia do pai do Norman Rockwell.

Neste post mais recente que escreveu sobre o tema, resolveu comentar directamente o comentário de uma comentadora sobre o assunto. Estes comentários acabam por resumir bem a forma de JMT discutir este assunto, e, olhando para os comentários sobre os comentários, não é o único, portanto sugiro começar por aqui:

Quando a comentadora (Helena) escreve:
‘Agradeço que me expliquem como dizer a uma criança, de modo que ela possa compreender, que os pais podem bater, mas as crianças não.’

JMT responde:
‘basta dizer-lhe simplesmente “eu sou teu pai, tu és meu filho, nós não estamos no mesmo plano, não somos iguais, a nossa casa não é uma democracia, eu mando em ti, tu não mandas em mim, eu posso bater-te se passares das marcas, tu não me podes levantar a mão em circunstância alguma, e vai ser assim até tu seres maior de idade, independente, tomares conta de ti próprio e teres liberdade para deixares esta casa.”Simples. ‘

O que parece simples nesta questão é que o João Miguel Tavares não percebeu a pergunta. Se calhar o problema é meu, mas não posso imaginar que a pergunta fosse sobre a eventualidade dos filhos levantarem a mão aos pais (um flagelo em casas com filhos halterofilistas), mas antes sobre a questão, bem mais abrangente, das crianças também encararem a violência como um recurso de autoridade. A questão da criança achar que a força é uma forma aceitável de fazer valer a autoridade sobre alguém mais fraco. Questões relacionadas com ética e formação de valores, essas coisas supérfluas em que algumas pessoas gostam de pensar, e que nos leva a duvidar se é possível explicar a uma criança que a violência não é aceitável, excepto quando a utilizamos sobre ela.

Este podia ser um dos pontos centrais do debate sobre bater em crianças, ou, pelo menos, deveria ser, mas o JMT parece preferir explicar o óbvio – “uma casa não é uma democracia”. É um argumento que usa com frequência, ainda que em lado nenhum eu tenha visto alguém dizer que uma casa é uma democracia (alguém inteligente, pelo menos). O que JMT parece acabar por responder ao comentário é: se mandares em alguém, e se essa pessoa depender de ti, podes bater-lhe. Mas só se essa pessoa for menor de idade, e passar das marcas. Quem define essas marcas? O pai e a mãe. O pai e a mãe definem as marcas, mas às vezes podem variar, quando chove ou o Benfica perder, por exemplo. No fundo, o pai pode bater-te porque gosta de ti, ok?

Quando se ouve falar em Psicologia é sacar logo da pistola

Quando a comentadora se atreve a sugerir que poderá ser útil tentar perceber a causa do (mau) comportamento da criança, ao invés de lhe dar uma palmada e esperar que ela se cale, o João Miguel Tavares pisca o olho à malta que já percebeu o que aí vem – olha-me esta, daqui a bocado está a falar de psicologia ou antropologia – e trata de colocar logo a discussão “naquele ardil meio psicoanalítico” em que “por detrás de cada gesto desregrado existe um trauma escondido”, que é um subterfúgio de argumentação frequente no espaço opinativo português (que já referimos aqui), utilizada por tipos que têm horror à introdução de um mínimo de pensamento crítico ou científico em questões que a própria ciência também tem estudado.

E é um tipo de argumentação extremamente eficaz. A comentadora fica baralhada, quando vê que está a ser acusada de dizer coisas que não disse e, juntamente com as pessoas que achavam que ia haver um debate que fosse mais longe do que o “cá em casa tudo bem”, começa a ponderar se vale a pena continuar a discutir nestes termos. Talvez não valha. No fundo, ficamos a saber que o “ardil meio psicoanalítico” existe é na cabeça do JMT, e é lá que todos os argumentos de disciplinas acabadas em “ia” vão morrer.

Mas, e se JMT tiver razão? E se, de facto, não houver nenhuma agenda oculta no mau comportamento da criança? A criança porta-se mal porque está na natureza dela. Não é por nenhuma necessidade recôndita de chamar a atenção, testar limites, exaustão ou por andar ansiosa. Isso são problemas de adultos. A criança porta-se mal porque sim. E leva uma palmada pela mesma razão. Porque sim. Para aprender a que se voltar a portar-se mal, e se for apanhada, vai levar outra palmada. Repararam no itálico? É que era para reparar.

No meio está a virtude (e o João Miguel Tavares)

O texto acaba em tom conciliatório, a apelar ao ecumenismo punitivo, dizendo que haverá tantas perspectivas válidas como o tipo de crianças diferentes. Crianças que crescem bem sem palmadas, crianças que precisam de palmadas. E, imaginamos, que nesse campo nada bate a infinita sabedoria dos pais. Há um dia em que o progenitor descobre – aliás, sabe – que este só lá vai à palmada. O outro não precisa, que é calminho. É a infabilidade do Papá. Mais, ficamos a saber que a haver uma visão do equilíbrio, ela reside entre “aquele[s] que acha[m] que sem umas boas chineladas não há criança que se faça homem, como aquele[s] que acha que uma palmada na hora certa é uma forma de violência doméstica que deve ser punida por lei”. E se há pais que não batem é porque estão a educar potenciais selvagens, a não ser, claro, que lhes calhe um daqueles calminhos na rifa. A virtude está no meio, e a virtude, recordemos, diz que: “[bater é] uma ferramenta educativa essencial”. 

Também não deixa de ser curioso que, se olharmos para a caixa de comentários, e, tirando raras excepções, é raro encontrarmos aquelas posições extremas que descreve. É como se JMT precisasse de inventar aquelas balizas para poder dizer: olhem como eu é que sou o moderado. E a partir do momento em que alguém começar com teorias e recomendações, é só começar a dizer que lá vêm os maluquinhos do psicologuês que me querem prender a dizer que as crianças são umas flores de estufa, que ridículos!, montamos uma bela falácia do espantalho, e a coisa fica resolvida. Sinceramente, não percebo se é uma maneira de acidentalmente criar ruído na conversa, ou indigência mental. Não sei se será uma grande novidade dizer isto, portanto preparem-se para esta afirmação incrivelmente revolucionária: é que é possível acreditar na disciplina e na imposição de limites na educação das crianças sem querer recorrer à punição física. Ah, e ninguém quer prender o JMT (ok, talves o Sócrates queira).

Volto a dizer, não acho que alguém seja mau pai por ter dado umas palmadas a um filho. Eu próprio levei algumas palmadas e não acho que tenha sido vítima de má parentalidade. Terei percebido o contexto das palmadas que levei, não as condeno, mas não lhes reconheço qualquer relevância, ou valor, formativo (nem que seja pela raridade com que aconteceram). E tenho sérias dúvidas que as palmadas sejam um instrumento útil, ou eficaz, de educação. Pode até acontecer que um dia, cansado e exasperado, dê uma palmada a um filho meu. Mas, sabendo o que sei hoje, tenho a certeza que me vou arrepender de o fazer, porque, como dizem os ingleses – I should know better. E devia saber melhor porque tenho lido sobre alternativas à palmada, tenho acesso ao que diz a APA, ao que recomenda a AAP,e nada do que leia me faz crer que a palmada seja um recurso aceitável de educação. Ou necessário.

Não estou a dizer que quem dá palmadas seja mau pai, mas estou a dizer que ainda não ouvi nenhum bom argumento para bater a um filho.

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36 Comments

  1. A palmada não educa, mas pode ser “necessária” em alguns contextos. Sendo esses contextos o facto de nós, adultos, perdermos a paciência e não conseguirmos lidar com a criança na forma zen que nos é (deveria ser) habitual. Vejo a palmada mais como uma falha na nossa educação parental – daquelas que acabamos por cometer e tentamos justificar – do que propriamente uma ferramenta educacional absolutamente necessária.

    Se é verdade que até certa idade a criança não compreende o que é um “castigo” e a palmada espanta-moscas é uma forma de a fazer compreender o efeito causa-consequência de uma forma mais fácil, não deixa de ser isso mesmo: a maneira mais fácil de lidarmos com a situação.

    Como em tudo, há crianças mais fáceis que outras. O que é o mesmo que dizer que é fácil vir com a conversa de “nunca dei uma palmada na vida!” se nos referirmos a uma criança que acata tudo e é mais pasmacenta que uma Preguiça, só não dormindo 19 horas por dia porque não a deixam.

    Eu não tenho um filho fácil, é vivaço, mexido, curioso, adora testar limites e testa efectivamente a paciência de um santo. Eu prefiro assim, embora seja mais complicado discipliná-lo. Às vezes leva castigo, às vezes leva uma palmada…e? Vão dizer-me que se lembram de todas as palmadas que levaram? De todos os castigos? Desconfio, como em tudo, de pessoas extremistas. Olho de lado tanto os que acham que são os nazis da palmada e do autoritarismo parental, tanto como olho de lado os que acham que nunca se bate no menino, ai-jesus-que-ele-vai-ser-agressivo e quando dão por ela, são eles que mais tarde estão a apanhar.

    Cada casa é uma casa, nós temos de nos adaptar à realidade em que estamos, porque as nossas convicções parentais são testadas quotidianamente e aquilo em que dizemos acreditar é uma coisa e outra muito diferente é levá-la adiante. Se eu preferia nunca ter de dar uma palmada? Preferia. Mas não acho que a mesma seja trauma nenhum, acho que ajuda a criar um distanciamento do que é a criança no seio familiar e o que são os adultos, ajuda a perceber que nem tudo nos é permitido e ajuda a compreender de maneira imediata uma consequência negativa para um acto incorrecto.

    Mesmo os miúdos cujos pais não lhes assentam uma palmada, acabam muitas vezes a ser os mini-bully do colégio e a assentar nos outros. Eles têm o seu pequeno mundo social e criam regras e papéis próprios no seu seio de pares, é assim e acontece de forma natural. Obviamente que um ambiente familiar mais agressivo, potencia isso, daí dizer que, no fundo, não há como o bom-senso.

    Mais uma coisa: o que é pior, uma palmada ou a conversa do “és um menino feio, um menino mau”?!
    É que eu prefiro que o meu filho leve uma palmada ocasional, do que crescer num ambiente em que ele não saia quotidianamente valorizado e amado. Tratar miúdos como “crescidos”, tentando educar através de castigos ou palavras mais complexas resulta muitas vezes em crianças tristes, que não compreendem porque não são boas o suficiente – é preciso ter cuidado com a sensibilidade do entendimento de uma criança.

    Para mim educar é a tarefa mais difícil com que me deparei na vida e todos os dias me questiono e reflicto sobre a minha maneira de agir, sobre como educar, e acho que um pai que não o faça, seja o que dá uma palmada ou o que apenas castiga, é um mau pai.

      • Dito tudo isto, começa a chegar a época preferida de todos os pais: o Natal.
        Enquanto houver o “se não te portares bem, o Pai Natal vai saber!”, há crianças que desligam o Terminator Mode, para o Lamb mode: ON.
        O que, se pensarmos, transforma o Pai Natal num senhor extremamente perturbador, assim, a vigiar todo o ano as criancinhas.

        (só para aligeirar, pronto!).

        • sem stress, depois aligeiramos, num texto com gifs ou assim. ~_o

          só queria comentar uma coisa no teu comentário, ainda que continue a achar que o último parágrafo faça um óptimo resumo destas angústias e maravilhas que é ser pai.

          É quando vais buscar outro dos artifícios comuns nesta discussão das palmadas – que é, às tantas, fazer un contraponto entre violência física e psicológica, como se a opção fosse entre dar uma palmada ou ser uma espécie de manipulador psicológico infantil. A alternativa ao castigo físico não é a violência psicológica, portanto o argumento de “preferes dar uma palmada ou xxxx..”, quando xxx é invariavelmente uma coisa sinistra, e acabamos sempre por justificar uma coisa por existir outra sempre pior.

          Pronto. Em relação ao Pai Natal omnipresente, lembro-me perfeitamente de perguntar à minha avô se Deus estava mesmo em todo lado, e se isso incluía a minha casa de banho.

        • Não existe apenas uma opção ou a outra. Aliás, eu ainda considero que a perspectiva mais realista seja a palmada esporádica e uma educação muito baseada na tentativa de compreensão do comportamento.
          Só que há muito quem não “bata” e depois se for preciso vá minando com esse tipo de pensamento do menino feio e mau e do “se agires desta forma, ninguém vai gostar de ti”.
          Não acredito que a tal parentalidade positiva resulte em todas as crianças, especialmente nas que têm mais dificuldade em lidar com figuras de autoridade – não confundir com autoritaristas. Da mesma maneira que não acredito que palmadas resultem ou constituam o modelo de educação ideal.
          Acho sim que são uma saída mais fácil para pais que estão constantemente em stress e sobrecarregados com a vida do dia-a-dia e nem sempre conseguem ter a disponibilidade mental necessária para serem pais do ano. Faz de quem dá uma palmada um mau pai? Não. Os pais também falham e há a tendência de nestas coisas da parentalidade ser tudo sempre muito zen, muito algodão, muito mel e açúcar a gritar aos sete ventos e esquecerem-se que ser pai custa, é difícil, há dias desesperantes e que nós estamos a aprender com o nosso filho, como tal, estamos sujeitos a errar, estamos sujeitos a fraquejar e dar uma palmada, por mais livros sobre educação positiva que leiamos.
          Já me aconteceu pedir desculpa ao meu filho porque fui demasiado brusca com ele a falar. Tinha tido um dia mau, estava cansada, ele estava há horas a fazer birras para tudo e eu falei-lhe demasiado alto porque estava estoirada. Provavelmente ele uns minutos depois nem se lembraria disso, mas eu iria lembrar-me e por isso pedi desculpa e admiti que estive mal. Se ele compreendeu? Provavelmente não na totalidade, mas lá em casa admitimos quando erramos e admitimos quando falhamos. Não preciso que o meu filho ache que sou perfeita, preciso que saiba que estarei sempre do lado dele e, nisso, não há margem para falhar. Com mais palmada ou menos palmada. Mais castigo ou menos castigo.

  2. Por acaso tem filhos??? Têm realmente alguma experiência na área da parentalidade? Achei o seu post de uma ingenuidade absurda ( a que naturalmente tem direito!), mas educar um filho não vem com manual de instruções.

    • Se quiseres debater ideias, teorias ou experiências pessoais, vamos a isso. Mas não há nada mais absurdo do que trazer para aqui esse tipo de argumentos de autoridade.

  3. Eu tenho +/- a mesma opinião que a Rosa Cueca. Tenho dois filhos, um casal, ele com 4 e ela com 2. E, por serem ambos muito dinâmicos, nunca estão parados 10 minutos seguidos, estão sempre a querer perceber o porquê das coisas, este espírito irreverente deles leva-os a ser muitas vezes mal comportados e a tirar uma pessoa do sério. Qual a melhor solução: os castigos, um “sacode o pó”, ambos?! Não sei. Sinceramente não sei dizer. Questiono-me todos os dias sobre aquilo que faço, que poderei fazer, aquilo que dou e que poderei dar no futuro, para que os meus filhos sejam felizes e o melhor que eles puderem ser. Não sou de extremos: por isso, aquilo que acabo por fazer (ou que acho melhor) é essencialmente castigos em que, raras as vezes, os substituo por uma palmada ou outra. Por vezes, fico em baixo, porque não gosto de ter de castigar os meus filhos ou de bater-lhes (acho que ninguém gosta). Se acho que sou um mau pai?! De modo algum. Sou o melhor amigo deles, mas também sou o principal responsável pela educação que têm e quero que eles sejam, além de felizes, o melhor que puderem ser. Por isso, há que fazer sacrifícios por eles, mesmo que isso implique “colocá-los na ordem”, com ou sem palmadas. Vivo para eles, faço tudo (ou praticamente tudo) a pensar neles. Quero que eles tenham um sentimento e uma postura positiva perante a vida. De uma coisa tenho a certeza: pai que, independentemente de “castigar ou bater”, se não procurar o melhor dos e para os seus filhos, não deverá ser um bom pai. Ou mãe. Acho eu!…

    • Sim, percebo perfeitamente o que estão a dizer, e, como digo, imagino-me mesmo um dia também a poder achar que, em dada altura, a palmada vai ser o único instrumento que vou ter à disposição. Como as palmadas que levei. Só não consigo achar que faz sentido dizer “que a palmada é um instrumento essencial”, no fundo é isso.

    • Nao acho que deva sentir-se em baixo! Está a corrigi-los, e corrigir é demonstrar amor. Concordo com as palmadas na hora certa e os castigos de acordo com o ato, acho que a extinsao deles é extremamente perigosa e nao vejo o pq dos pais hj em dia sentirem-se “mal” por terem de o fazer. Tudo na medida certa é o que importa. E claro, sempre acompanhada da preciosa explicaçao de acordo com a idade e sem transparecer qualquer culpa pelo ato. Crianças precisam ter pais confiantes e saber que eles estao la por elas, para as guiar. 🙂 Ao inves de pensarmos em criar crianças felizes deviamos pensar em criar crianças aptas a sentirem-se bem consigo mesmas e a viver em sociedade, e nao crianças que sao protegidas contra td e todos e que nao sabem o que é autoridade.

      Se a palmada é algo essencial? Creio que na maior parte dos casos sim. Nao percebo pq dar voltas e voltas num assunto ja debatido com a criança…a criança, a apartir do momento que sabe o que é certo ou errado, tem que saber que o errado terá consequencias. Ponto final. Seja essa consequencia uma palmada, um castigo ou outra coisa qualquer. Deixar “impune” um ato erroneo, ja anteriormente avisado, é deixar a criança pensar que pode fazer o que quer, afinal pra q se importar se no fim tudo vira conversa? Dialogo sim, mas com peso e medida. Tudo em equilibrio.

      Eu percebo quem diz que é melhor uma abordagem positiva – e nem digo que nao, como 1º abordagem acho otimo! – mas acho perigoso somente o uso dessa abordagem, quando está obvio que a repetiçao do erro foi propositada. Aí nao acho que só conversa baste, nem a curto nem a longo prazo. Ou ate talvez resulte a longo prazo, mas ate la teremos uma criança desobediente? Que nao sabe comportar-se em lado nenhum? Que tipo de sociedade estamos a criar?? Nao consigo perceber como para uns uma palmada parece algo tao grave, mais grave que uma criança que nao respeita ninguem (e aqui o respeito inclui comportar-se nos locais!!) … nao acho que o fato de ser criança lhe dêm desculpas para bater no vidro das portas com força, subir com os tenis no sofá enquanto espera por uma consulta, gritar pelo corredor so pq sim, jogar-se pro chao por birra – afinal se a birra é natural, acho que tem um limite para o “natural”- …para mim sao atos inaceitaveis e nao tolero. E se nao vai a bem com a conversa? Meus caros, então uma palmada ou castigo sao mts bem vindos pq prefiro corrigir enquanto é tempo do que ficar só com o blá blá blá e ver as consequencias futuras virem mt mais graves!!

      • Susana,
        porque parte do princípio que só a palmada é que funciona? Porque é que não tem confiança no poder da palavra, e lhe chama “blablabla”? Será que nunca fez a experiência da palavra como comunicação?
        Parece-me que está a confundir “bater” com “educar” e “não bater” com “não educar”.
        É possível educar crianças sem lhes bater. Mas para isso, o adulto precisa de ser uma pessoa segura, informada, controlada.
        Se realmente se interessa pelo assunto, e quer espreitar outras maneiras de praticar a parentalidade, sugiro-lhe que passe pelo blogue “mom’s the boss” – o nome já diz tudo sobre essa confusão entre não bater e não ter autoridade.

  4. De uma forma muito clara e directa, a palmada é um (ab)uso da autoridade dos pais e passa um claro sinal de incompetência nossa, por não sabermos fazer de outra forma.
    Há miúdos insuportáveis e a quem apetece dar uma palmada ou um estaladão por serem tão mal comportados e irritantes – mas tb se sabe que miúdos insuportáveis são miúdos em apuros e que não conhecem limites ou estão bem. Naquele momento ou no geral.

    Se faz mal, se vem mal ao mundo? Não, não me parece. Mas sinceramente, tendo em conta aquilo que se sabe sobre o crescimento dos miúdos, sobre a natureza deles e sobre a influência que temos enquanto educadores, bater numa criança dirá muito de nós e da nossa incompetência enquanto educadores.

    Se tens resultados imediatos? Claro que tens! Mas enfim, acredito que conseguimos fazer melhor.
    Mais aqui, André! 🙂
    http://mumstheboss.blogspot.pt/2013/02/faz-mal-bater-as-criancas.html

    • Olá Magda, sigo com atenção aquilo que costumas dizer sobre o assunto, no último parágrafo já estava lá o link para o Mum’s (mais geral). = )

    • Incompetencia pq?
      Acho graça dizerem “conhecimentos de hoje” quando hoje temos as crianças mais mal educadas que ha anos atras quando levavam a torto e a direito….entao alguma coisa deve tar mt mal por aí.
      Nao estou a dizer com isto que se deva dar “a torto e a direito” mas penso que uma palmada na hora certa, usada como forma de alertar para algo que somente a conversa nao conseguiu, acho mt valida. Isso nao dá atestado de incompetencia a ninguem, alias, pra mim grande é aquele pai que sabe dar uma palmada sem raiva, sem ser no impulso, na medida e horas corretas. Mais do que aqueles pais que só sabem dar a lingua e no fundo os miudos fazem o que bem entendem.

      Se é possivel estabelecer limites sem palmadas? provavelmente em alguns casos sim. Mas serão em todos? Enfim…

  5. O que me parece é que esta geração de pais andou toda a levar umas palmadas na infância e por isso mesmo não se consegue distanciar da perspectiva de que dar palmadas é aceitável ou de que até nem é assim tão mau. É mau sim, acho inaceitável até. Por uma questão de respeito pelo meu filho não lhe vou bater. Acho que, com tudo o que sabemos hoje em dia, não temos desculpa para o fazer apesar de aparentemente vivermos numa sociedade em que o bater é tão aceite (e valorizado até) que parece que vivemos no século passado.

  6. Fui violentado de formas inimagináveis na minha infância. Cresci a levar porrada. Se não tivesse passado por todas essas sevícias não teria deixado as obras primas que deixei e que todos reconhecem. O cinema é JP Tropez. O João Miguel Tavares devia ver os meus filmes e inspirar-se neles para bater nos filhos com mais originalidade.
    Era só isto.

  7. Eu sinto-me um pouco intimidada em comentar, não por ser defensora da palmada ou da não palmada mas por ler o que pessoas que muito admiro (como a Magda) dizem e da forma como dizem.
    Não vou acrescentar em nada mas sinto necessidade de partilhar a minha curta, muito curta experiência.
    Antes de ser mãe eu era defensora da palmada (nunca o tinha feito) e achava que a malcriação e birras infantis eram sinais de falta de palmada. Depois de ser mãe (onde as certezas desaparecem num ápice e somos invadidos por tantas dúvidas) mudei e vou mudando. Tenho uma filha de 21 meses e, apesar de muito pequena, acredito que muitos pais já tenham sacudido os seus, ainda que levemente e sobre a fralda que dizem abafar a pancada. Mas a mim não me preocupa a dor física (inexistente ou quase inexistente), preocupa-me o ato em sim, preocupa-me a passagem da mensagem que tenho o direito e dever de atuar fisicamente sobre os meus filhos, que a violência (novamente não em dor mas é ato de violência) é aceitável.
    Não sei se algum dia darei uma palmada à minha filha, mas sei que se o farei será um descontrole da minha parte. Não sou defensora das palmadas “educativas” ou outros nomes que lhe possam dar para embelezar o ato.
    Acho que pertenço ao grupo dos psicologuês que procuram as razões e as explicações… mas estou a aprender e acho que estou no caminho certo.
    Obrigada pelo post que me deliciou e me fez aprender um pouco mais…

  8. Fiquei com uma dúvida…quem é “anti-palmada”, é a favor do castigo?

    Eu sou mãe de uma menina de 3 anos, que por sinal bastante difícil de “domar”.. tenho tentado fazer o melhor que sei ou o que o meu instinto me vai dizendo… nem sempre tomo a melhor atitude.. mas isso não é novidade para ninguém.

    Não sou a favor da palmada, porque poderá ser classificada como um decontrole parental, e eu concordo… MAS já apliquei algumas na minha filha. Ela tem direito a descontrolar-se, mas eu como ser imperfeito e inacabado também tenho esse direito. Minha obrigação de ser um exemplo é superior a tudo isto, mas não faz de mim obrigatoriamente uma deusa sem defeitos!

    Que a palmada é um acto violento e que não deveria existir… é ponto assente e nem discuto já esse tema, mesmo pondo em prática de quando em quando… mas agora pergunto eu… e o castigo?? Como vêem o castigo??
    Não será o castigo uma forma de violência??? Não acham que colocar uma criança sentada numa cadeira a olhar para a parede (a título figurativo) é uma forma de violência??
    Ou castigo que aplicam é algo que a criança entende como educativo e benéfico para a sua educação? Será que alguém consegue aplicar um castigo “amigo”??? Posso dizer que gosto quando me dizem que : “assim faço-a pensar no mal que fez”.. será? É nisso que eles pensam mesmo?

    Posso até afirmar que existem castigos MUITÍSSIMO mais violentos que uma palmada no rabiosque (perdoem a expressão infantil).. sim, porque uma palmada todos sabemos o que é e não tem ciência nenhuma (além da intensidade da mão, mas falamos de casos dentro dos parâmetros “normais”)… mas dos castigos ninguém fala, porque ninguém explica como são.. como os aplicam, durante quanto tempo… se isso tem repercussões mais negativas do que didácticas. Mas já sei que a seguir vêem os castigos “exemplares”: eu coloco a ler um livro de moral e bons costumes.. ou então fica sem comer chocolates 1 semana (coisa que já nem devia fazer)… em prol de mostrar que são brandos, que são pacíficos. Mas resulta mesmo?
    Tenho o mesmo direito de questionar o castigo, como têm de fazer com a palmada.
    Ou então, ignoram por completo a atitude errada do filho e esperam que a vida os encarregue de educar.. também há casos desses.. e eu bem sei!

    Enfim.. em resumo, na minha humilde opinião (e apenas isso)… cada pai deverá conhecer o seu filho melhor que ninguém e saberá com certeza o que fazer na hora certa. Se falhar uma ou outra vez.. não deixem de dormir bem porque .. É NORMAL, todos falhamos, mesmo quando achamos que fazemos o melhor!
    Mas também não apontem o dedo aos outros que usam “estratégias” diferentes das vossas.. o que entendem que é certo, pode não ser o mesmo que eu entendo.. isso não faz de mim nem melhor nem pior mãe!

    A minha filha.. mesmo com a mãe a falhar redondamente de vez em quando com a sua palmadinha… não há dia nenhum que não me diga que me ama, assim como eu a ela!!
    Porque acima de tudo e de todas essas ” atitudes politicamente correctas” o principal é mostrar que os amamos MUITO.. que mesmo que nos zanguemos com eles ou que lhe apliquemos uma palmada ou outro correctivo que entendemos ser o melhor (mesmo que nao seja).. o nosso amor é INABALÁVEL.

    Portanto.. eu entendo que a razão pela qual levámos palmadas e dizemos: levei muitas e não morri… é porque mesmo no meio daquilo que não gostámos nem achámos piada nenhuma, os nossos pais souberam nos amar! E é isso que sentimos, o amor, o conforto e a base que nos transmitiram foi muito superior à palmada e aos castigo que aplicaram! 😉

    É apenas uma simples opinião.. sem julgamentos a ninguém! 🙂

    • Minha querida Tânia
      Foi através do blog do João Miguel Tavares que vim aqui ter. Parece que este é mesmo um assunto importante para muita gente ― enfim, não apenas as palmadas, mas estas integradas numa coisa muito mais vasta que é a educação dos nossos piquenos (ser criança é uma circunstância passageira dentro da circunstância passageira que é a vida; mas é a circunstância cujo peso na vida inteira tende a ser inversamente proporcional à idade que vamos tendo).
      O seu contributo comoveu-me: pela sinceridade quase ingénua com que procura dizer a si mesma ‘não te preocupes que tu és capaz de ser boa mãe’. Qualquer pessoa que, advertida ou inadvertidamente, ponha em causa uma parte (por pequena que seja) das convicções educativas de alguém, está a por em causa um edifício inteiro. Creio que é isso que faz o JMT a reagir ‘à ninja’ – como diz o André.
      Quase se pode ouvir claramente: ‘Se não posso ou não devo dar palmadas, o que é que eu ponho no seu lugar? Alguém me diz?’ ― pois, mas é que a palmada está tão ligada a uma amálgama de ideias e de crenças sobre as pessoas, a vida, a sociedade… que ao fazer delete sobre ela se corre o risco de tudo o resto se desagregar; os pais:
      – ou começam a não confiar em si, a sentir-se inseguros, a deixar as tarefas educativas para os ‘profissionais’…,ou seja, a não decidir no momento (espaço/tempo) em que a decisão é necessária (e pais indecisos e/ou não-decisos é muito pior que pais que nem sempre decidem bem)
      – ou, sentindo o aproximar desse tsunami, fecham sobre si mesmos esse mundo de convicções, fazem umas ameias e desatam às flechadas em todas as direcções
      Curiosamente, ambas as reacções mostram que há ali qualquer coisa sobre a qual gostariam ou deveriam de saber mais. O modo ninja do JMT parece-me mais um pedido pungente de “socorro” do que uma vontade de ter razão seja a que custo for. Acho que já mostrou ser mais inteligente do que isso!

    • Olá Tânia,
      ainda bem que questiona também os castigos. Em vez de bater, corremos o risco de impor castigos absurdos e contraproducentes. Mas é como a palmada: não somos obrigados a fazer coisas erradas, somos convidados a tentar educar com sensibilidade e inteligência.
      Nos EUA fiquei espantada com o “time out”. Nem sequer é um castigo, é uma maneira muito pacífica de impor limites à criança. Vi que funcionava até com miúdos de dois anos: “se continuas a portar-te assim, precisas de uns minutos de time out. Vais para o teu quarto, e quando quiseres vens ter connosco outra vez.” Os miúdos iam mesmo para o quarto, sem fazer fitas, e depois voltavam “como novos”.
      Também vi miúdos de 3 e 4 anos sentados a uma “peace table”: frente a frente, olhos nos olhos, falando sobre o motivo da sua zanga. Nessa escola havia crianças até aos 12 anos, e os conflitos entre elas eram resolvidos nessa “peace table”.
      Quando os meus filhos começaram a crescer e a ter disputas horrorosas, que continuavam sempre com um “ó mãe, ela fez-me isto e aquilo!” e “ele é que me fez assim e assado!”, rapidamente percebi que não tinha hipótese de ser juiz justo naquela causa, porque eles nunca me dariam todos os dados. De modo que os punha a eles a discutir um com o outro qual era o castigo que cada um merecia. Além de se verem forçados a dialogar, em vez de tentarem manipular a autoridade (eu), vinham com soluções que me comoviam pelo que revelavam do sentido de justiça deles: “deixa lá, mãe, não foi tão grave” ou castigos diferentes para cada um (do tipo: um não via uma vez o seu programa preferido, e o outro não o via 3 vezes).

      • Não resisto a acrescentar um episódio da minha vida como educadora. Eu nem reparei no que estava a fazer, mas uns amigos americanos presentes disseram-me depois que eu sou uma mãe excelente – e isso abriu-me os olhos…
        O que se passou: estávamos à mesa, e a minha filha, de 3 anos, entornou o copo de sumo no chão. Eu levantei-me, e enquanto limpava dizia-lhe: “estou furiosa! estou cansada e tenho fome, e agora em vez de comer a minha sopa tenho de limpar isto!”
        Nem palmada, nem castigo. Limitei-me a dizer frases começadas por “eu”.

        (Não confundir com outras frases começadas por “eu”, como uma que a minha filha me contou, todas contente:
        – Mãe, hoje tive uma discussão com a Clea, e estou muito orgulhosa, porque consegui falar com ela usando frases começadas por “eu”. (na escola tinham falado sobre isso, numa aula sobre diálogo e gestão de conflitos)
        – E que lhe disseste?
        – Disse-lhe assim: Clea, eu acho que tu és uma parva.

      • Nós nunca usámos “castigos”. O que sempre ensinámos à nossa filha mais velha é que há consequências para tudo o que fazemos. Se não comemos a carne, também não podemos comer sobremesa, se estragamos o brinquedo ficamos sem ele, etc. Sempre li que a consequencia deve ser coerente com a acção, e não ser algo que não estivesse relacionado, e que deve ser adequado à idade, e foi isso que sempre tentámos fazer, até hoje. Connosco sempre resultou e acho que é uma boa estratégia.

        • Joana, concordo inteiramente. Há consequências para tudo o que fazemos. E temos de fazer as coisas por determinadas razões, e não pode medo de castigos.
          Mas olhe que não deixar comer a sobremesa por não ter comido a carne é um castigo, não é uma consequência natural. Afinal de contas: qual é a consequência de não comer a carne?
          (O meu filho não comia legumes nem salada. Não valia a pena insistir ou castigar. Ele não comia. Passámos anos a os legumes todos moídos. Eu era uma exímia cozinheira de caldeirada de peixe com molho de legumes moídos… 🙁
          Até que o pai lhe explicou que os melhores jogadores de futebol tinham aqueles músculos fortes nas pernas porque comiam salada e legumes.
          Há coisas que ele ainda hoje não come, porque acha a consistência muito desagradável (tomate e abacate) – mas começou a comer todo o resto. Nós respeitamos isso, que remédio…)

  9. Eu também decidi que não queria recorrer à palmada para educar os meus filhos. Decidimos isso em conjunto, sendo que o meu marido á estrangeiro, e vem de um pais em que o uso da palmada não é tão comum como aqui. E para mim isso não significa que não haja limites e imposições. Acho que muitas vezes teria sido mais facil para lidar com certas situações dar uma palmada e acabar com o assunto, e escolher não o fazer obrigou-me a pensar em soluções pedagogicas alternativas, o que muitas implicava que eu ia dar uma volta ao outro lado da casa para respirar… Usamos o time out muitas muitas vezes. Já ouvi dizer que a minha filha é “fácil” e por isso consegui. Mas senti sempre que ela era também o reflexo do ambiente em casa. Não sei se é verdade. No fundo, como diz, sinto-me bem por ter tomado esta decisão e também não ouvi até agora nenhum argumento que eu considere valido para o uso da palmada.
    Como partilha, aqui deixo este site: http://www.nospank.net/pt2009.htm

  10. Sou essa Helena de que fala neste post. Muito obrigada pelo que aqui escreveu. Só hoje li, quase por acaso, porque a discussão que vai no Pais de Quatro me interessa bastante mas não tenho tempo para ler tudo o que por lá se escreve.
    Só ontem reparei que o João Miguel Tavares tinha dado tanta importância à minha resposta. Aqui vai o que lhe respondi:

    Mal uma pessoa se distrai, lá aparece um post e uma enorme caixa de comentários. Só vi agora, por isso só agora respondo:

    1. “Se tu me podes bater, também te posso bater”
    Eu estava a falar de crianças que viveram em sociedades onde não é normal nem desejável que se bata nos filhos. Bater é um descarrilamento, de modo que, na realidade, a pergunta da criança era: “porque é que tu podes descarrilar, e eu não?” (e a resposta “porque sou tua mãe”, no caso, não é válida. Ser mãe não dá direito a ficar acima da lei, digamos assim. Ou melhor: o correcto e o errado são categorias exteriores aos pais, e às quais eles se submetem tal e qual como os filhos.)
    2. “Porque é que a criança precisa de fazer isto?”
    “Ora bem, aqui eu acho que a Helena entra naquele ardil meio psicoanalítico, meio fé no bom selvagem, que consiste em acreditar que por detrás de cada gesto desregrado existe um trauma escondido, que se for encontrado e devidamente eliminado elevará a criança ao esplendor dos altares. Detecta-se o mal interior, corrige-se com muito amor, e a partir temos um santinho, que levará o resto da sua vida a espalhar o bem pela Terra.”
    Por partes:
    – o modo como argumentou é ofensivo para mim. Pensa mesmo que eu sou a pateta que aí descreveu?
    – qual é o seu problema com a psicanálise? E que argumentos tem contra as abordagens da Dolto e do Sévérin, ou contra livros do género “conferência de família”, “educar Caim” (recomendo-lhe este, em especial), “como falar com crianças de modo a que elas ouçam, e como as ouvir de modo a que elas falem”? (os títulos serão talvez outros, em Portugal, mas a ideia é essa)
    – não, por trás de cada gesto desregrado não existe um trauma, mas existe uma causa. Detecta-se a causa, corrige-se com inteligência, e a partir daí temos não um santinho, mas uma criança que foi compreendida e ajudada a sair do problema que a bloqueava, em vez de ter sido dominada à força.

    3. “Não existe uma determinada forma absolutamente correcta de educar uma criança” – pois não. Isso sabemos todos. Por isso é que insisto que é fundamental apelar à inteligência e sensibilidade dos pais, em vez de sair pelo curto-circuito que é a palmada.

    4. Parece-em que há um erro fundamental de entendimento em muitos dos participantes nesta discussão: confundem “não bater” com “não educar”. O que eu defendo é que quando os pais decidem que bater está fora de causa, iniciam um caminho de aprendizagem com criatividade, sensibilidade e inteligência. Bater é o recurso da preguiça: é o que dá menos trabalho.
    Tenho participado neste debate porque me parece que aceitar pacatamente que uma palmada não faz mal a ninguém é impedir os pais de serem convidados a olhar para o seu papel de outro modo, e a tornarem-se mais maduros no seu papel de educadores. É verdade que uma palmadinha não faz mal a ninguém. Mas esse não é o caminho, é apenas um episódio de perda de controle.

    Finalmente, duas pequenas notas:
    – Hoje em dia, nem para treinar cães se usa a palmada.
    – Amigos meus têm um filho com deficiência mental. Nunca precisaram de dar uma palmada para o educar – conseguiram sempre “civilizá-lo” usando apenas palavras. Como é possível então afirmar que as palmadas são necessárias, porque as crianças não entendem? Pois se até com uma criança com deficiência mental as palavras resultam!

    • Olá Helena. Eu também já tinha seguido, com alguma distância, as considerações do JMT sobre a palmada, e confesso que, há uns meses, a da “ferramenta educativa essencial” me tinha ficado atravessada. Mas, quando o assunto ressurgiu, e quando vi a forma como rebateu os seus comentários, achei que já era desconversa a mais. Achei interessante a perspectiva do “eu” que referiu ali acima, vou investigar. E se calhar a Clea é mesmo um bocadinho parva. 🙂

      • Quais quê! A Clea era óptima – elas tinham tido apenas um arrufo de miúdas.
        Quanto ao eu, acrescento mais uma: “vocês hoje tenham cuidado comigo, que eu estou muito cansada e sem paciência nenhuma. O melhor é ficarem sossegadinhos a tratar da vossa vida, sem me fazerem zangar, e amanhã acho que já vou estar melhor.”
        Tudo isto era tão natural, que um dia, quando estava a mudar a fralda à minha filha, cheia de stress, ela perguntou: “ó mãe, estás furiosa? estás fora de ti?” (Usava fraldas, devia ter uns dois anos. E ainda dizem que as crianças não percebem o que lhes é dito! Percebem, e até são capazes de olhar para os outros com atenção e empatia.)

  11. Esse João Miguel Tavares por diversas ocasiões já revelou a fraca qualidade (e estupidez) das suas opiniões e princípios. O tempo se encarregará de fazer com que o mesmo deixe de viver à custa do que vive actualmente.

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