3 mitos de saúde que não vamos passar aos nossos filhos. OK?

Há certas questões de saúde sobre as quais nem a comunidade médica tem opiniões consensuais. Como, por exemplo, esta mais recente do leite de vaca ser terrível, ou talvez nem por isso, ou se faz apenas gases. Ou até se faz mal beber shots durante a gravidez , já que, tecnicamente, um shot é só um ‘copinho’.

"Se o médico diz que se pode beber um copinho..."
“Se o médico diz que se pode beber um copinho…”

Há outras que a comunidade médica já nem discute. Mas que nos acompanharam durante toda a infância e adolescência. Se não eram os nossos pais, eram os nossos avós, ou pessoas especialistas pré-blogs. Alguns destes mitos ainda perduram, e não vão acabar nunca. Mas eu avisei.

3 mitos que já deixávamos para trás:

#1 – Os perigos de tomar banho depois de comer

Ainda hoje, por mais informado que esteja, sinto sempre alguma ansiedade quando vou tomar banho depois de uma refeição. Imagino logo que o meu corpo vai entrar em crash, um Blue Screen of Death digestivo.

Até agonia só de ver.
O tom despiciendo das reticências era o que me irritava mais.

Os meus pais até eram descontraídos com a questão, mas qualquer coisa acima de um pão causava logo que as avós e tias desatassem a invocar  essa dramática, e algo mítica, figura da congestão por entrada na água, que acabaria comigo, inconsciente, a dar à costa em Marrocos, bolçando pequenos pedaços de sanduíche de pasta de atum.

Este mito não é exclusivo de Portugal, nenhum deles é, mas em lado nenhum ele parece ser tão violento como por cá. Três horas ou a morte por congestão, enquanto noutros países falam de uma hora e que o problema é a velha questão da alteração do fluxo de circulação sanguínea, que levaria ao aparecimento de cãibras. Na realidade, o único efeito secundário pode ser o aparecimento de ligeiras cãibras, nada prováveis de matar alguém.

Agora, a questão da congestão. Não encontro nada, com aspecto sério, que fale de congestão, ou do infame choque térmico, como fenómenos relacionados com tomar banho e comer. Agora, é evidente que se alguém almoça uma pratada de cozido à portuguesa, vira uma garrafa de vinho e empurra tudo com uma aguardente, para chegar à brilhante conclusão que tem de ir “desmoer” dando umas braçadas no mar, podemos dizer que essa pessoa acabou de ter uma congestão mental. Aliás, até me parece que possa ter sido aqui que surgiu a expressão do “teve uma congestão”.

Sim, uma "congestão".
‘Sim, sim, ele teve uma “congestão”.’

Não qualquer registo de mortes no mar por enfartamento. Já por embriaguez

#2 – Quem anda ao frio constipa-se

Este mito é mais contra-intuitivo do que o anterior. Mas cá vai: o frio não causa constipações (não directamente, pelo menos). Eu sei que neste momento há milhares de portugueses a limpar a garganta em salas de cinema, concertos de música clássica e peças de teatro, muito habilitados para argumentar o contrário. “Dói-me a garganta, e é porque está frescote”, dizem eles do alto do seu pigarrear enervante.

Mas é verdade. A constipação é causada por um vírus. E o vírus da constipação ataca da mesma maneira num organismo com frio ou com calor. Pode haver outros factores, como humidade ou características do ar, mas a causa principal é sempre a transmissão humana. Fizeram experiências e tudo. “Ah, mas no Inverno as pessoas constipam-se mais… Xeque-mate, idiota!”, dizem vocês.

Sim, é verdade, mas sabem porquê? A principal razão é que ninguém abre uma porcaria de uma janela, e as casas tornam-se numa espécie de viveiros para porcarias microscópicas.

"Mmmm, nham, germis!".
“Mmmm, nham, germis!”.

Em Portugal também há a terrivelmente interessante variação destas teorias – um fenómeno conhecido por “morte por corrente de ar”. Não sei o que se terá passado para haver esse ódio irracional às correntes de ar. Provavelmente alguém que levou com uma porta na cara e partiu os dentes todos. É que, se nos Estados Unidos os dois principais medos da generalidade das pessoas, são, um, falar em público, e, dois, morrer – (clássico Seinfeld) – em Portugal a ordem é, um, falar em público, dois, apanhar uma corrente de ar e morrer.

#3 – Se cortares cresce com mais força

Se alguém tiver aí um miúdo de 12 anos com um buço nojento à mão, faça a seguinte experiência: corte-lhe o buço com uma lâmina de barbear e espere um mês. Já está? Óptimo. O que acontece? Exacto, voltámos a ter um miúdo de 12 anos com um buço nojento. Lembro-me de ter 12, 13 anos, e começar a cortar timidamente os pêlos do buço. Mas havia um miúdo na nossa turma que dizia que os pais só o iam deixar fazer a barba aos 18 anos. Nunca mais vou esquecer as gotículas de suor que se formavam naquele lábio superior, e ficavam ali imóveis, a gritar por ajuda, a pedir a salvação, uma lâmina que fosse. Ainda hoje essa imagem me persegue.

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Descobri que fizeram um filme com a história do meu amigo.
Ah, espera, é na vida real.

Os pêlos não crescem com mais força se os cortarmos. Qualquer careca que tenha andado a rapar o cabelo desde os 16 anos sabe disto. Qualquer pessoa sabe que se nunca cortarmos o buço ao tal miúdo de 12 anos, ele não vai chegar aos 35 com o mesmo buço. Os pêlos ficam mais fortes se os cortarmos pela metade, porque espetam, e, a longo prazo, com a idade (se não caírem para sempre, lá está).

Por exemplo, acho que nunca tive pêlos nos ouvidos. E, de um dia para o outro, parece que o meu corpo decidiu que não precisava de pêlos na cabeça, e o melhor era mesmo reforçar as sobrancelhas e os ouvidos. O que quer isto dizer? Que alguém me cortou os pêlos enquanto dormia, e eles cresceram mais fortes? Ou que Deus existe, e me odeia? Voto na segunda.

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14 Comments

  1. #1 – bem, o meu pai esteve no instituto de socorros a náufragos uns anos, e todos os anos havia umas mortes por “congestão” embora possa apenas querer dizer que todos os anos há gente a morrer por causa aparentemente não explicável que não fosse “congestão”, que eventualmente poderia ser explicada por uma garrafa de vinho e aguardente antes, quem sabe…

    #2 – a única relação é que a exposição ao frio pode enfraquecer o nosso sistema imunitário e por isso facilitar a proliferação dos virus oportunistas. no entanto, como já disse muitas vezes a várias pessoas, nunca fui tão saudável como aqui na holanda, sem as constipações ou gripes valentes que apanhava todos os anos em portugal, e nunca apanhei tanto frio na vida diariamente, com pelo menos 20/30 minutos diários de exposição a temperaturas negativas, chuva e neve durante o inverno. Porquê? A minha teoria é concordante com a tua: não andando de transportes públicos mas de bicicleta, sou muito menos exposta a ambientes fechados com muitas pessoas todas a respirar o mesmo ar, e como tal mais passíveis de conter grande concentração de vírus.

    • A questão relevante é saber se eles faziam o sinal de aspas com os dedos (aspas aéreas) quando diziam “morte por congestão”. =) (ou então o facto da palavra “congestão” ter desaparecido das estatísticas do ISN por volta de 2004).

        • Ahahah, pois, mas o meu pai só recebia os relatórios com as estatísticas, logo não teria acesso às tais aspas aéreas. 😉
          Anyway, uma das coisas que fiquei a saber daquele seu tempo lá, é que boa parte (se não a maioria) dos salvamentos são feitos por surfistas. Quase mais valia contratá-los em vez.

        • p.s. confesso que nao tenho a melhor opinião dos nadadores salvadores, que todos os que conheci estavam sempre mais ocupados a engatar miudas na praia que a olhar para o mar – ao contrário dos “banheiros” de antigamente.

  2. Ainda ontem comentava esse mesmo facto com o meu marido, já que, depois de uma pratada de feijoada, ia tomar a sua banhoca.
    A culpa não é nossa, é do trauma que os nossos pais nos transferiram e eu tenho uma teoria sobre isto:

    Quando é que isso do “fazer a digestão” se tornou mais importante?
    No Verão, em idas à praia e piscina. Vamos reflectir: é verão, está calor, eles acabaram de comer, o que é que menos lhes apetece? Ter de ir fazer ginástica acrobática na água connosco aos pinotes, qual cachalotes da natação sincronizada.
    Portanto, a minha teoria é que a tal da congestão nasceu da vontade de 3 horas de descanso pós-almoço.

  3. E eu a pensar que era uma sortuda que mal acabava de comer e ia tomar banho sem problema AHAHAHAHAHA agora a sério, acho que existem coisas que é deixá-las onde (e quando) foram criadas: lá loooooongeeeee.

  4. Fui vítima do Mito #1. Aqui me confesso.
    As primeiras férias com o meu Biscoito não foram muito animadas precisamente devido ao famoso mito da congestão. O piquêno tomava o pequeno-almoço e ficávamos 2 horas à espera que fizesse a digestão. Punha-o na piscina por breves momentos (ainda um pouco receosa de que faltassem uns minuos para a chata da digestão finalizar por completo) e, pimba, já estava na hora do almoço. A seguir ao almoço, ia dormir a sesta. Acordava e dávamos-lhe a papa… mais 2 horas de digestão. Lá para as 6h íamos à praia.

  5. Nunca vi blogue mais desinformativo e parvo. Mas é assim na vida. Temos de abrir os olhos porque há os que são equilibrados e sapientes e há os que pensam ser engraçados (não tendo graça nenhuma, são arrogantes), mas acabam dizendo inverdades absurdas como o sr.

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